Entre as hepatites virais, a maior causa de mortes é a hepatite C. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de óbitos vem aumentando ao longo dos anos em todas as regiões do Brasil e, para se ter uma ideia, de 2000 a 2017, mais de 53 mil pessoas morreram por conta da doença.
No ano passado, mais de 26 mil casos da doença foram notificados. Estima-se, ainda, que mais de 500 mil pessoas convivam com o vírus da hepatite C e ainda não sabem. Por não apresentar nenhum sintoma clínico, a doença, geralmente, é diagnosticada tardiamente , fator que prejudica o tratamento e as possibilidades de cura.
“O vírus da hepatite C (HCV) é muito virulento, ou seja, uma pequena quantidade de vírus tem a capacidade de infectar o indivíduo”, alerta Kátia R M Leite, diretora científica da Genoa/LPCM, marca do Laboratório de Patologia Cirúrgica e Molecular de São Paulo e Presidente eleita da Sociedade Brasileira de Patologia.
Os sinais dados pelo organismo de que há algo errado com o fígado acontecem em estágio avançado, quando a enfermidade já evoluiu para cirrose ou até mesmo câncer. Diante disso, é importante conscientizar a população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada 20 pessoas com algum tipo de hepatite, apenas uma tenha conhecimento.
Cuidados necessários
Para evitar riscos à saúde, é necessário ter atenção com as algumas situações. “A principal rota de infecção é o contato com sangue de indivíduos portadores da doença, sendo a transfusão de sangue e derivados, o compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas, equipamentos utilizados em tatuagens e piercings e alicates de unha”, destaca a diretora científica.
“Também existe o que chamamos de transmissão vertical, que é da mãe para o feto e, mais raramente, a transexual. A transmissão transexual é rara e a hepatite C não entra no grupo de infecções sexualmente transmissíveis (DST). Porém, homens que fazem sexo com homens, principalmente na presença de infecção pelo HIV, estariam suscetíveis ao contágio”, completa.
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Dessa forma, evitar qualquer contato com sangue, nas situações mencionadas acima, é o principal cuidado que se deve ter para conseguir se proteger da patologia. “Grande porcentagem de pessoas infectadas desconhece sua situação. Assim, é difícil saber que poderiam transmitir a doença”, alerta a especialista.
Outro ponto importante é a esterilização de instrumentos perfurocortantes, assim como o não compartilhamento de objetos pessoais, como escovas de dente, lâminas de barbear e alicates de unha. Já para os trabalhadores da área da saúde, o uso de luvas, máscaras e óculos de proteção são fundamentais para diminuir os riscos de infecção.
Exames são importantes
Caso a pessoa tenha contato com alguma situação de risco, é necessário realizar o exame. “Entre duas semanas a dois meses após o contato com o vírus haverá a produção de anticorpos específicos contra o HCV, que poderão ser identificados em exames sorológicos”, explica a Presidente eleita da Sociedade Brasileira de Patologia.
Para a população geral, um exame sorológico periódico pode detectar a doença em fase precoce, antes que as consequências da doença venham à tona. Nas pessoas que são doadoras de sangue, esse procedimento é feito de rotina. Com isso, o doador terá o resultado sempre que se submeter à doação.
Combate à hepatite C
Plano pactuado entre União, estados e municípios tem como meta eliminar a hepatite C até 2030. Algumas das ações são simplificar o diagnóstico, ampliar a testagem, principalmente nas populações consideradas prioritárias e fortalecer a linha de cuidado no atendimento às hepatites virais.
Ainda este ano, a expectativa é que cerca de 50 mil pessoas infectadas pelo vírus C façam o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É importante que, para combater o avanço da doença, seja feito o diagnóstico o quanto antes. Assim, se a pessoa estiver com a doença, o tratamento será mais eficaz e contribui para evitar o surgimento de novos casos.
No SUS, o paciente recebe e trata integralmente os portadores de hepatites com medicações que evoluem gradativamente, com 90% dos casos bem-sucedidos. Enquanto as hepatites A e B contam com vacinas, a hepatite C ainda não possui essa facilidade. Por isso, a melhor forma de combatê-la é se atentar aos riscos e tomar os cuidados necessários no dia a dia.