SÃO PAULO. A afirmação feita pelo presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento à nação na última terça-feira de que se fosse infectado pelo coronavírus por causa do seu histórico de atleta teria uma “gripezinha ou um resfriadinho” é contestada por médicos. A prática de exercícios no passado não torna qualquer pessoa idosa mais resistente a uma infecção, de acordo com os especialistas. Bolsonaro tem 65 anos.
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- Isso (a fala do presidente) é uma grande fantasia. Primeiro, que ele é uma pessoa idosa. O organismo de forma geral envelhece. O cabelo envelhece, a pele envelhece e o sistema imunológico também. A resposta aos quadros infecciosos também acabam sendo diferentes (para idosos). Isso sem dúvida alguma. A expressão de um quadro viral como esse pode ser muito mais grave (em Bolsonaro), sim - afirma Jean Gorinchteyn, infectologista do Hospital Emílio Ribas.
O médico afirma que o idoso que pratica exercício com regularidade pode aguentar mais tempo, por exemplo, os desconfortos do quadro respiratório provocados pelo coronavírus sem precisar ser entubado.
- O sedentário pode entrar mais rapidamente em falência respiratória. Mas em termos de defesa imunológica e risco de ter infecção de forma grave não há diferença (entre sedentário e praticante de exercício) - acrescenta.
Bolsonaro foi atleta nos tempos do Exército. Ele competia numa modalidade chamada pentatlo militar, que inclui tiro, corrida e natação. O seu bom desempenho lhe rendia elogios de superiores e o apelido de “cavalão” entre os colegas, segundo o livro “O Cadete e o Capitão”, de Luiz Maklouf Carvalho.
O atual presidente passou para a reserva em 1988. Desde que deixou o Exército aos 33 anos, de acordo com ex-assessores, praticava corrida, futebol e natação. A rotina foi interrompida pela pré-campanha a presidente em 2018 e, principalmente, pela facada em agosto daquele ano. Desde então, passou por quatro cirurgias, a última delas em setembro do ano passado.
- Ele sempre fez atividade física. Corria na praia. Mas depois da pré-campanha e, após ser esfaqueado, não teve mais condição de fazer - afirma o senador Major Olímpio (PSL-SP), que foi próximo do presidente até a metade do ano passado.
- Se ele hoje não é mais atleta, se não faz exercícios, é um sedentário - diz Gorinchteyn.
O GLOBO questionou o Planalto se Bolsonaro fazia exercícios e com que regularidade, mas não obteve resposta.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga, avalia que a condição passada de atleta ajudou Bolsonaro a resistir à facada, mas não lhe garante uma situação mais fácil caso seja infectado pelo coronavírus.
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- O fato de ele ter sido atleta não quer dizer que está imune . Eu até acho que uma infecção por coronavírus na faixa etária dele com as comorbidades que ele teve em função dessa tentativa de homicídio, o coloca numa faixa de maior vulnerabilidade. Essa é uma hipótese porque eu não examinei o presidente Bolsonaro.
O presidente se submeteu a exame e informou que teve resultado negativo para o coronavírus depois da viagem aos Estados Unidos, entre os dias 7 e 11 de março, mas não mostrou o resultado do exame. Dos integrantes da comitiva que acompanhou Bolsonaro, 23 foram confirmados com a doença.