BRASÍLIA - A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) desaconselhou a realização, neste momento, de pesquisas para a obtenção de remédios de uso profilático para a covid-19, ou seja, medicamentos que têm por objetivo evitar a doença, em vez de tratá-la. O objetivo é impedir o desabastecimento, uma vez que muitos dos medicamentos que estão sendo testados são usados no tratamento de outras doenças; ou então evitar o aumento da resistência de um bactéria que já é combatida por um desses remédios.
As orientações estão em um informe elaborado pela SBI que tem como objetivo, entre outras coisas, guiar infectologistas a avaliarem estudos clínicos. Uma das linhas de pesquisa para conseguir um tratamento para a covid-19 é o uso associado da cloroquina e hidroxicloroquina - remédios usados no tratamento de malária, artrite e lúpus - com o antibiótico azitromicina.
"O uso de medicamento profilático nesse momento deve ser desaconselhado, bem como a realização de pesquisas clínicas nesse sentido. O elevadíssimo número de pessoas a serem incluídos para avaliar qualquer benefício nesse cenário poderia levar ao desabastecimento de medicamentos, como a hidroxicloroquina para pacientes em tratamento para artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. O uso profilático da azitromicina, por sua vez, poderia levar ao aumento da resistência bacteriana relacionada a esse antimicrobiano", diz trecho do documento da SBI.
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A entidade também destacou que medicamentos que tiveram bons resultados em testes de laboratório "não podem ser assumidos como eficazes" nos testes com seres humanos. "Vários antivirais e outros antimicrobianos não confirmaram a expectativa de sua eficácia em pesquisas clínicas ao longo das últimas décadas", diz trecho do informe.
A entidade ressaltou que, no geral, os testes de remédios devem ser feitos com a presença de um grupo de controle, ou seja, pessoas que recebem apenas um placebo. Mas, diante da urgência da pandemia de covid-19 , a SBI entende que o teste com o grupo de controle pode ser feito sem o placebo, mantendo o "tratamento suportivo padrão".
A SBI também informou que é compreensível o "uso compassivo" de remédios, ou seja, para pacientes em situação crítica para os quais não há outra alternativa de tratamento. Mas recomendou que isso seja feito preferencialmente com a "avaliação de infectologistas, intensivistas e médicos assistentes, responsáveis pelo tratamento" e após discussão com o paciente, sua família ou representante legal.
No caso dos pacientes com menos de 40 anos sem comorbidades , a SBI apontou que os dados clínicos sugerem que a letalidade é de apenas 0,1%, ou seja, de cada 1.000, 999 sobrevivem. Assim, não é recomendável nem o uso, nem os testes nesse grupo.