SÃO PAULO — A Organização Pan-americana da Saúde (Opas) alertou que a evolução do novo coronavírus no Brasil pode tornar a pandemia no país mais longa do que observada em regiões como a Europa. O continente americano já soma 204 mil mortes e 3,8 milhões de casos confirmados — cerca de 54% nos EUA e 23%, no Brasil, que também concentra 21% das mortes na região.
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— Estamos vendo os casos aumentarem e a pandemia ainda não atingiu seu pico na América Latina . Uma onda expressiva da doença é esperada para o inverno local. Se as medidas de recomendação da OMS e OPAS não forem reforçadas (no Brasil), a pandemia pode durar muito mais no país do que vimos na Europa — afirmou um dos diretores da organização, Marcos Espinal, ressaltando as diferenças demográficas e sociais que limitam a comparação da trajetória do vírus em países europeus e latinos.
A reabertura da economia e flexibilização das medidas de isolamento social, em meio ao crescimento da curva de contágio, preocupam especialistas da organização:
— Ao contrário de regiões americanas como NY, que já apresentam declínio nos casos, não estamos vendo a transmissão cair no Brasil — alertou a médica e diretora geral da agência, Carissa Etienne.
A organização ressaltou ainda que a opção pela reabertura por países como o Brasil deve ser feita em fases controladas, com forte sistema de rastreio e isolamento de casos, além de medidas de isolamento adequadas e manejo coordenado de leitos de UTI pelo serviço nacional de saúde e emergências hospitalares.
Fronteiras com Brasil preocupam organização
As restrições em fronteiras devem ser mantidas pelos países vizinhos, uma vez que a região ainda não atingiu o pico da doença, disseram os especialistas. A Opas manifestou preocupação com o com o aumento no número de casos de Covid-19 nestas regiões fronteiriças.
— Há uma tendência preocupante de aumento na transmissão em áreas como a Guiana Francesa, em que os casos foram de 140 para 1.326 em apenas um mês, num período que coincide com aumento de casos na sua fronteira com o estado do Amapá — informou Etienne.
A agência alertou também para aumento de casos nas fronteiras entre Brasil e Colômbia, Haiti e República Dominicana, Costa Rica e Nicarágua e EUA e México.
— Nossa maior tarefa é garantir que através dessas fronteiras os imigrantes também tenham acesso aos cuidados necessários sem estigmas ou preconceitos — disse a diretora.