A pandemia do novo coronavírus (Sars-coV-2) segue em disparada no Brasil, que passou dos 2 milhões de diagnósticos confirmados de Covid-19 . E a doença avança em um ritmo galopante. Foram necessários 114 dias entre a primeira notificação, em 26 de fevereiro, e o registro de 1 milhão de casos, em 19 de junho. As ocorrências, então, dobraram em apenas 27 dias, chegando a 2.014.738 nesta quinta-feira (16). Os Estados Unidos demoraram 43 dias para percorrer o mesmo caminho.
Entre quarta-feira (15) e ontem (16), foram registrados 43.829 novos casos e 1.299 novas mortes (o total de óbitos subiu para 76.822). O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa formado por EXTRA, O Globo, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo . Ainda de acordo com o boletim, a média móvel de contágios confirmados nos últimos sete dias foi de 36.519 e a de óbitos, 1.081.
Os sinais de estabilização de casos no Rio de Janeiro e na Grande São Paulo não satisfazem cientistas. O avanço do coronavírus no interior paulista levou a um aumento de 21% na média móvel de óbitos do estado, comparado ao visto duas semanas atrás.
— Não adianta o coronavírus deixar as principais capitais do país se continua esparramando para cidades vizinhas ou outros estados — alerta Gabriel Maisonnave Arisi, pesquisador da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. — O vírus pode ser reintroduzido onde a situação parece controlada, porque ele fica no organismo por até três semanas. Muitas pessoas carregam o patógeno ao mesmo tempo, e assim a pandemia se sustenta.
O diagnóstico da pandemia, porém, pode ser muito mais grave do que o contabilizado nas estatísticas oficiais. O Ministério da Saúde registrou a aplicação de 5,1 milhões de exames sorológicos e PT-PCR, oito vezes menos do que os Estados Unidos, país que registra o maior número de casos e mortes no mundo todo, seguido pelo Brasil.
— É um número irrisório e, mesmo que tenha crescido nas últimas semanas, ainda não nos permite conhecer a dinâmica da Covid-19 no país — lamenta Arisi. — Além disso, cerca de 2,9 milhões de pessoas recorrem a exames sorológicos, que têm alto índice de erros, e por isso devem manter as precauções mesmo que o exame indique resultado negativo para a infecção.
Pedro Hallal, que coordenou a EpiCovid-19, pesquisa realizada com testes rápidos em 133 cidades e capitais de todos os estados sobre o contágio da pandemia, estima que o Brasil chegou a 2 milhões de infectados por coronavírus em meados de maio. Hoje, já contaria com 10 milhões de pessoas que estão ou foram infectadas.
— Não são 2 milhões. Isso é apenas a ponta do iceberg — avalia Hallal, que é reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e busca verbas para fazer a quarta etapa de seu levantamento, financiado até então pelo Ministério da Saúde. — Não é possível saber quanto tempo demoraremos para atingir a marca oficial de 3 milhões de casos de Covid-19, porque a história da pandemia muda a cada dia.
Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, atribui o crescimento exponencial dos casos de coronavírus no Brasil à falta de medidas de contenção, como isolamento social. No entanto, embora considere que o aumento de contágios era previsível, dada a precariedade de políticas públicas, o arrefecimento recente da pandemia em algumas localidades no Norte, Nordeste e no Rio de Janeiro provoca questionamentos.
— Precisamos entender como algumas cidades chegaram ao platô da pandemia. Pode ser que a maioria das pessoas suscetíveis ao contágio já tenha se infectado, que este contingente não era tão grande como se imaginava. E que aqueles contaminados morreram ou estão se recuperando. Ainda assim, não sabemos por quanto tempo estamos protegidos, já que não há cura definitiva para a Covid-19 - afirma a microbiologista.
Desde o início da pandemia , o Brasil já teve três pessoas no comando do Ministério da Saúde . Até 16 de abril, quando Luiz Henrique Mandetta foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro , o país registrava um total de 30.425 casos de novo coronavírus, com 1.924 mortes. Nelson Teich assumiu no dia seguinte e pediu para sair menos de um mês depois, em 15 de maio, quando havia, segundo dados oficiais, 218.223 diagnósticos confirmados no Brasil e 14.817 óbitos. Desde então, a pasta é comandada interinamente pelo general da ativa do Exército Eduardo Pazuello .