![Novo normal Novo normal](https://statig1.akamaized.net/bancodeimagens/3a/rp/ex/3arpexyf6hz9aek8nik7u19gn.jpg)
Há pouco mais de seis meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
anunciou a chegada do novo vírus que em pouco tempo se tornou uma pandemia global.
Naquele dia, no final de janeiro, havia quase 10 mil casos relatados de coronavírus e mais de 200 mortes. Nenhum dos casos havia acontecido fora da China.
Desde então, o mundo e nossas vidas, mudaram profundamente. Como estamos lidando com a guerra entre a raça humana e o coronavírus?
Se olharmos para o planeta como um todo, o resultado não é bom.
![Gráfico](https://c.files.bbci.co.uk/173B5/production/_113875159_covid_graph.png)
Já nos aproximamos de 20 milhões de casos confirmados e superamos 700 mil mortes. No começo da pandemia , demorava semanas até se registrarem cada 100 mil casos. Agora esse marco é atingido em questão de horas.
"Ainda estamos no meio de uma pandemia intensa e muito grave", diz Margaret Harris, da OMS . "Está presente em todas as comunidades do mundo."
O impacto da covid-19 é diferente pelo mundo afora, e é fácil cada pessoa ignorar o que acontece no resto do mundo, fora de seus próprios países.
Mas um fato une todo mundo, desde quem vive na floresta amazônica, nos arranha-céus de Singapura ou nas ruas do Reino Unido : este é um vírus que prospera com o contato humano. Quanto mais nos aproximamos, mais fácil é a contaminação. Isso segue tão forte hoje em dia quanto no dia em que o vírus surgiu na China.
Esse ponto central explica a situação de todos no mundo e sugere como será nosso futuro.
![Homens usando máscaras na Índia](https://c.files.bbci.co.uk/E47E/production/_113849485_gettyimages-1227946673.jpg)
É o que provoca o grande número de casos na América Latina — o atual epicentro da pandemia — e o surto na Índia. É o que explica o porquê de Hong Kong estar mantendo pessoas em centros de quarentena ou da Coreia do Sul de estar monitorando contas bancárias e de telefone de seus cidadãos.
É o que leva a Europa e a Austrália a terem dificuldades em equilibrar o final das quarentenas com a contenção da doença. E é o porquê de estarmos buscando "um novo normal", em vez de voltarmos ao "velho normal".
"Esse é um vírus que circula por todo o planeta. Ele afeta cada um de nós. Ele passa de pessoa para pessoa, e sublinha o fato de estarmos todos conectados", diz Elisabetta Groppelli, da St George's University of London.
Até o simples ato de cantar juntos pode espalhar o vírus.
O vírus também se provou especialmente difícil de rastrear, com sintomas leves ou até inexistentes em várias pessoas, mas mortal suficiente em outros, capaz de lotar hospitais.
"É o vírus pandêmico perfeito para nossa era. Nós agora vivemos na era do coronavírus ", disse Harris.
As melhores chances contra o vírus até agora foram nas tentativas de se conter a disseminação do vírus de uma pessoa para outra.
A Nova Zelândia é onde isso mais chamou atenção. O país agiu cedo, quando ainda havia poucos casos: com quarentenas e fronteiras fechadas. Agora praticamente não há mais casos e a vida voltou ao normal, em grande parte.
Atenção para coisas básicas também ajudam em países pobres. A Mongólia tem a maior fronteira de qualquer país com a China, onde o surto começou. No entanto, não foi registrado, antes de julho , qualquer caso de internação em UTI. Até agora só foram diagnosticados 293 casos, com nenhuma morte.
![Ulaanbaatar, Mongolia](https://c.files.bbci.co.uk/2516/production/_113849490_gettyimages-520208726.jpg)
"A Mongólia fez um ótimo trabalho com recursos muito limitados. Eles fizeram um trabalho exaustivo de epidemiologia, isolando casos, identificando contatos e isolando esses contatos", afirma o professor David Heymann, da London School of Hygene and Tropical Medicine.
Eles também foram rápidos em fechar escolas, restringir viagem internacional e promover o uso de máscaras e higienização das mãos.
Por outro lado, Heymann argumenta, a "falta de liderança política" abalou muitos países em que "os líderes na saúde e na política têm dificuldades de conversar juntos". Neste clima, o vírus prosperou. O presidente americano, Donald Trump, e a maior autoridade em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci, claramente estiveram em lados opostos nesta pandemia.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro , se juntou a manifestações contra a quarentena e descreveu o vírus como "gripezinha", dizendo que a pandemia estava quase no fim em março.
Ao invés disso, o Brasil teve 2,8 milhões de casos e mais de 100 mil mortos .
![Coveiro no Brasil](https://c.files.bbci.co.uk/12B28/production/_113848567_gettyimages-1227939836-1.jpg)
Mas os países que conseguiram se impor contra o vírus — na maioria com quarentenas dolorosas que machucaram as sociedades — estão descobrindo que o vírus não sumiu, e que ele vai continuar voltando se nós relaxarmos. A normalidade ainda está muito distante.
"Estão descobrindo que é mais desafiador sair da quarentena do que entrar nela", diz Groppelli. "Eles ainda não pensaram sobre como podemos coexistir com o vírus."
A Austrália é um dos países tentando achar um caminho para sair da quarentena, mas o Estado de Victoria agora está em estado de "desastre". Melbourne voltou para quarentena no começo de julho — com o contágio crescendo — e desde então impôs regras mais rígidas. Agora há um toque de recolher e as pessoas só podem se exercitar dentro de um raio de cinco quilômetros de suas casas.
A Europa também está reabrindo, mas Espanha, França e Grécia registraram recentemente o número mais alto de casos das últimas semanas. A Alemanha está com mais de mil casos por dia pela primeira vez em três meses.
O uso de máscaras , algo estranho antes, agora é lugar comum na Europa, até mesmo com resorts insistindo na prática .
E — como alerta para todos nós — sucessos passados não são garantia para o futuro. Hong Kong foi muito elogiada por resistir à primeira onda de coronavírus — agora bares e academias de ginástica fecharam novamente, enquanto a Disneyland do país conseguiu reabrir por apenas um mês.
"Deixar a quarentena não significa voltar às velhas práticas. É o novo normal. As pessoas ainda não entenderam esse recado", diz Harris.
A posição da África na luta contra o coronavírus segue uma questão em aberto. Houve mais de um milhão de casos; depois de um começo bem-sucedido, a África do Sul parece estar em má situação, registrando a maioria dos casos do continente. Mas com poucos testes, é difícil ter um retrato fiel da situação.
E existe o enigma do notório baixo índice de mortes comparado com o resto do mundo. Eis alguns motivos que podem explicar isso:
- As pessoas são muito mais jovens, com idade média de 19 anos na África ; e a covid-19 está associada a pessoas mais velhas
- Outros tipos de coronavírus são mais comuns, e isso pode oferecer uma espécie de proteção
- Problemas de saúde comuns aos países ricos, como obesidade e diabetes do tipo 2, que aumentam os riscos da covid-19, são menos comuns na África
![Gráfico](https://c.files.bbci.co.uk/3F1D/production/_113875161_covid_chart2.png)
Alguns países estão inovando na sua resposta à doença. Ruanda tem usado drones para entregar material para hospitais e divulgar restrições para a população. Eles estão sendo usados até mesmo para flagrar pessoas que estão desrespeitando as regras, como aconteceu com um pastor que estava indo para missa .
Mas em vários lugares, como na Índia, o acesso à agua limpa e saneamento prejudica até mesmo coisas triviais, como a higienização das mãos.
"Há pessoas que têm água para lavar suas mãos e há os que não têm", diz Groppelli. "Essa é uma diferença grande, nós podemos dividir o mundo em duas categorias. E há grandes dúvidas sobre como controlar o vírus sem que haja uma vacina."
Quando isso tudo vai acabar?
Já existem tratamentos com remédios. A dexametasona — um esteroide barato — teve bom resultado com alguns pacientes em estado grave. Mas não é suficiente impedir que pacientes morram de covid-19 ou dar fim às quarentenas. Atenção especial será dada para a Suécia nos próximos meses para entender se a estratégia do país funcionou no longo prazo. O país não impôs quarentena e até agora teve uma taxa de mortes significativamente maior do que a dos países vizinhos, depois de fracassar na proteção em lares de idosos.
Em geral, a esperança do mundo de ver a vida voltar ao normal está ligada à descoberta de uma vacina. Imunizar as pessoas impediria a disseminação do vírus.
Seis vacinas estão entrando na fase três de testes clínicos. Essa fase é crítica, quando descobriremos se as vacinas promissoras realmente funcionam. Esse obstáculo final já derrubou muitos remédios no passado. Autoridades de saúde dizem que devemos continuar falando em "se" a vacina vai funcionar — e não "quando" a vacina vai funcionar.
A doutora Margaret Harris, da OMS , diz: "As pessoas têm essa crença holiwoodiana em uma vacina; que os cientistas vão arrumar tudo. Em um filme de duas horas, o final chega rápido, mas os cientistas não são Brad Pitt se injetando e dizendo 'nós vamos todos nos salvar'".