No Brasil, 25 estados têm mais de 80% de UTIs ocupadas
Foto: Tempura/iStock
No Brasil, 25 estados têm mais de 80% de UTIs ocupadas

O Brasil registrou na terça-feira 3.668 mortes por Covid-19 em um único dia, uma marca sem precedente na pandemia e que ocorre quando 25 das 27 unidades da federação têm taxa de leitos de UTI com ocupação acima de 80%.

O quadro da epidemia, descrito como “extremamente crítico” pela Fiocruz, já exibe dois estados (Amapá e Mato Grosso do Sul) com capacidade de terapia intensiva 100% esgotada. Há 16 estados com lotação acima de 90%, incluindo São Paulo (92%), que teve terça sozinho o recorde de 1.209 mortes em 24 horas.

O Brasil acumula 317.936 óbitos pela Covid-19, segundo dados do boletim do consórcio de veículos de imprensa. Na terça, o país teve 86.704 pessoas diagnosticadas com infecção pelo novo coronavírus, totalizando 12.664.058 casos até agora.

O grupo Observatório Fiocruz Covid-19, que monitora os números da capacidade de atendimento do sistema de saúde em todo o país, afirma que a elevação do número de mortes está em um novo patamar.

"Se Manaus e o Amazonas, com o colapso do seu sistema de saúde, constituiu um alerta do que poderia ocorrer em outros estados, a situação hoje de São Paulo e capital é um alarme do quanto esta crise pode ser mais profunda e duradoura do que se imaginava até então", afirmaram os pesquisadores do grupo em comunicado nesta noite.

"As medidas de restrição de mobilidade, adotadas nos últimos dias por diversas prefeituras e estados, ainda não produziram efeitos significativos sobre as tendências de alta de todos os indicadores", diz o grupo, que conclui: "Esses indicadores sempre estão defasados no tempo, e o crescimento do número de casos na última semana epidemiológica (21 a 27 de março) pode ser resultado de exposições ocorridas em meados de março".

No documento, os pesquisadores sugerem que os estados que se encontram em situação crítica adotem “lockdown”, medidas de contenção duras, por duas semanas ou até que o número de casos se reduza “em torno de 40%”.

Segundo a epidemiologista Margareth Portela, da Fiocruz, que participou do levantamento nacional sobre a ocupação de leitos, a margem pequena de ocupação que resta aponta um risco iminente de colapso.

"Pode haver variação de forma muito rápida. De 88% passa para 93% rapidinho, até porque o crescimento da pandemia é exponencial. Um dia de crescimento mais expressivo, potencialmente, consome essa folga de alguns leitos", afirmou a cientista.

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Escalada rápida

A média móvel de sete dias do número diário de mortes no país agora está em 2.728, o que representa aumento de 34% nas últimas duas semanas. Os três estados com maior aumento percentual no número de mortes ao longo da última quinzena são Espírito Santo (118%), Distrito Federal (100%) e Mato Grosso do Sul (68%). A ocupação hospitalar também cresce nesses locais.

"Não há dúvidas de que no estágio em que a gente está é preciso interromper a transmissão de forma significativa", diz Portela, que completa: "O sistema de saúde não está dando conta, tem que interromper porque o Brasil está colapsado. A gente tem que parar. Eu estou muito apavorada".

Segundo a pesquisadora, não há um sinal muito claro ainda de estabilização da situação, mesmo com as medidas um pouco mais rígidas tomadas em alguns estados.

O número de diagnósticos positivos registrados por dia, caso não esteja subdimensionado, está se estabilizando, mas devagar, e ainda está crescendo. Aumentou 7% em relação à quinzena anterior, quando tinha aumentado 14%.

Os números de vacinação contra o coronavírus estão avançando, mas devagar. O Brasil conseguiu aplicar a primeira dose até agora em 16.937.084 pessoas (8% da população), e 4.946.579 já receberam a segunda dose, o que representa uma cobertura vacinal completa de 2,34% no país.

Aflição paulista

Segundo o governo de São Paulo, a situação é difícil, mas o recorde de mortes no estado se deve em parte a um acúmulo de notificações de dias anteriores, que acabaram sendo processadas apenas ontem.

O pico anterior de mortes por Covid-19 no estado tinha sido registrado na última sexta-feira (26): 1.193 óbitos em 24 horas. No mesmo dia, o governo de São Paulo prorrogou a fase de emergência em todo o estado até 11 de abril.

Inicialmente, as regras valeriam até ontem, mas o Centro de Contingência considerou ser importante alocar mais tempo para que as medidas de restrição resultem em uma significativa diminuição das hospitalizações.

"São Paulo estar onde está, vivendo esse caos, é muito assustador, e a região Sul do país também", diz Portela. "São Paulo reúne recursos e tem um sistema de saúde mais estruturado. A região Sul tem histórico de ser bem estruturada e também colapsou".

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