O prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), 41, está internado desde o último domingo (2), quando anunciou que se licenciaria temporariamente do cargo para tratar um câncer na região da cárdia, localizada na transição entre o estômago e o esôfago. Nesta sexta-feira (14), a equipe médica do Hospital Sírio-Libanês afirmou que o quadro dele é "irreversível".
"O prefeito Bruno Covas foi diagnosticado já com o câncer em estágio IV , com metástase no fígado que, posteriormente, evoluiu para os ossos - o que também pode complicar o quadro", explicou o boletim.
Quando se afastou do cargo, Covas declarou que "nesse momento, com toda a força e foco que preciso colocar na minha saúde, fica incompatível o exercício responsável de minhas funções como prefeito de São Paulo. Por isso, vou solicitar à Câmara de Vereadores uma licença do cargo pelo período de 30 dias para me dedicar integralmente à minha recuperação", publicou o prefeito nas redes sociais.
A oncologista Renata D'Alpino, coordenadora do Grupo de Tumores Gastrointestinais e Neuroendócrinos da Oncoclínicas, explica que o câncer do prefeito
é um adenocarcinoma, principal tipo de tumor que nasce na transição entre o esôfago e o estômago, região conhecida como a cárdia. Segundo Instituto Nacional do Câncer (Inca), ele é responsável por cerca de 95% dos casos de tumor no estômago.
"O estágio da doença hoje é avançado, eu diria que até próximo de um estágio terminal porque já vem falhando diante das terapêuticas padrões que foram instituídas ate o momento, a quimioterapia e a imunoterapia", explica a oncologista.
A médica ressalta que, pelo que se sabe até o momento, apesar do prefeito poder responder melhor a outros tratamentos futuros, o cenário é crítico. "A chance disso acontecer vai ficando cada vez menor quanto mais o tempo vai passando e quanto mais tratamentos o paciente vai fazendo. O que agrava o quadro é que a doença no prefeito foi descoberta no estágio avançado, com metástases no fígado e nos linfonodos".
Diagnóstico inicial
Em outubro de 2019, Bruno Covas foi diagnosticado com o câncer durante uma consulta para tratar uma infecção de pele. Na época, também foi diagnosticada metástase do câncer original, com linfonodos aumentados ao redor do pâncreas e um nódulo no fígado.
De acordo com a equipe médica do prefeito, ainda em 2019, ele iniciou sessões de quimioterapia e radioterapia. Na ocasião, os tumores regrediram e diminuíram de tamanho.
Em 2020, ele continuou o tratamento com imunoterapia
e apresentava boas condições clínicas. Mas, em 2021, a equipe de Bruno Covas anunciou que exames de rotina mostraram a doença ganhou terreno, com novos focos de tumores no fígado, nos ossos da coluna e da bacia.
Ontem (3), Covas foi intubado após a descoberta de um sangramento no estômago, causado por uma úlcera e localizado em cima do tumor diagnosticado em 2019.
Câncer metastático e cura
Renata D'Alpino diz que os tumores gástricos no Brasil são comuns. Segundo o Inca, a previsão é de mais de 21 mil novos casos previstos para 2021. Ele é o quarto mais comum em homens e o sexto em mulheres no Brasil.
Você viu?
"No câncer metastático, geralmente é uma doença incurável, eu diria que na imensa maioria dos pacientes, esse quadro de saúde vai levar ao falecimento do paciente. Infelizmente isso acontece pela presença das metástases, que até pode ser controlada durante um tempo com quimioterapia e a imunoterapia, mas em determinado momento, as células vão se tornando resistentes", explica D'Alpino.
Em âmbito mundial, são registrados mais de 1 milhão de novos casos deste câncer por ano, segundo o levantamento Globocan 2020, da Organização Mundial da Saúde.
Quais fatores de risco?
Há fatores de risco para o surgimento da doença como refluxo, obesidade, sedentarismo e consumo de alimentos industrializados. A especialista Renata D'Alpino destaca que algumas atitudes que podem ajudar a evitar a doença. "Não fumar, tentar se alimentar de maneira adequada, com alimentação rica em frutas, verduras e legumes, comer alimentos bem conservados e praticar exercícios físicos também é importante", diz a médica.
Os sintomas podem, inclusive, ser confundidos com refluxo, azia, indigestão, perda de peso e até hemorragia digestiva.
Com o agravamento do quadro clínico do prefeito, o tratamento é inviabilizado por ora. "O prefeito ia começar um novo esquema com quimioterapia, mas por causa do sangramento isso foi postergado, então pode ser que ele dê início após a melhora. Ele já fez também imunoterapia, mas esse não é um tratamento que funciona tão bem nos tumores de estômago, quando comparados a outros tipos, como o câncer de pulmão", explica.