Desde o início da pandemia de Covid-19 , o mundo virou de cabeça para baixo. O novo normal se estabeleceu e fez com que a maioria das pessoas tivesse que mudar suas rotinas. Mas uma categoria em especial sofreu ainda mais e precisou se adaptar rapidamente aos novos tempos: os profissionais que atuam na linha de frente no combate à doença.
Por se tratar de um cenário totalmente novo, eles se depararam com cenários de incertezas e inseguranças sobre como tratar, da melhor maneira possível, os pacientes. Aliado à isso, surgiram algumas polêmicas em relação à maneira como os médicos podem atuar e o que podem receitar para lidar com a Covid-19 .
“Desde o início da pandemia, minha atuação na linha de frente era desde reestruturar o hospital diante das recomendações e legislações, colher exames, montar fluxos de atendimentos, avaliar pacientes (...) Meu dia a dia está sendo na prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde e tratamento com urgência e precoce na prevenção dos agravos, principalmente em pacientes contaminados por Covid”, diz o enfermeiro infectologista Milton Alves Monteiro Júnior, do Hospital HSANP.
Já o Dr. Christian Valle Morinaga, gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, afirma que 2021 está sendo mais estressante do que o ano passado: "o sistema foi colocado em um limite muito maior e a lotação assustou todos os profissionais de saúde. Felizmente, neste momento, temos vivenciado uma queda na lotação e no movimento, principalmente devido às medidas de isolamento previamente implantadas".
Morinaga revela ainda que a falta de uma diretriz clara por parte do Ministério da Saúde abre brecha para que teorias não comprovadas ganhem força: “do ponto de vista científico, essa ausência, alinhada com o que as grandes instituições de saúde pregam, tanto internacionais quanto nacionais, não prejudica o adequado tratamento dos pacientes. Porém, o fato de não termos um protocolo claro e alinhado com as principais sociedades cientificas nacionais e internacionais abre brecha para contestações e incentivo de tratamentos não baseados em evidências”.
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"Felizmente, temos tanto diretrizes internacionais quanto diretrizes realizadas nacionalmente por sociedades de especialidades com rigor científico excepcional. Temos nos baseado nestas diretrizes para orientar o tratamento a nossos pacientes", complementa.
O enfermeiro Monteiro Júnior concorda com o fato de que critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde poderiam ajudar nos tratamentos dos pacientes: “se possuirmos protocolos e manejos clínicos bem elaborados e baseados nos resultados positivos, conseguimos estabelecer nossas metas em salvar vidas com o mínimo de sequelas”.
Os problemas do tratamento precoce
O uso de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina causou, e ainda causa, polêmica por sua ineficiência já comprovada no combate à Covid-19. O governo federal já realizou algumas campanhas em prol do tratamento, com o presidente Jair Bolsonaro sendo o principal garoto propaganda dos remédios.
“O tratamento precoce foi uma alternativa para uma assistência em salvar vidas num momento caótico com o aumento de óbitos por todo o mundo. Para a segurança dos pacientes, as dosagens eram mensuradas diariamente em estudos para obtermos os melhores avanços e com o tempo a cloroquina e ivermectina caíram nas discussões de despadronização pelos efeitos colaterais e evolução negativa”, explica o enfermeiro infectologista Milton Alves Monteiro Júnior, que mensurou o uso dos medicamentos em determinado momento como plausíveis.
Em nota, o Conselho Federal de Medicina afirmou que, de fato, não existem estudos científicos suficientes para comprovar a eficácia de medicamentos do chamado kit covid, que contêm a cloroquina e ivermectina. Eles ressaltaram, porém, que a prescrição de tais medicamentos pode ser feita desde que o paciente seja alertado e concorde com os termos.
“Até o momento, não há estudos científicos, com metodologia inconteste, que comprovem o efeito de medicamentos na fase inicial da Covid-19, antes da manifestação de sintomas graves da doença. Diante disso, o Conselho Federal de Medicina entende que o médico na ponta e o paciente, mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, devem ter autonomia, de forma conjunta, para decidirem qual a melhor opção terapêutica para tratar os casos diagnosticados. Ou seja, o médico pode ou não prescrever medicamentos que considerar necessários e, por sua vez, o paciente pode acatar ou não o que foi prescrito”, conclui a nota.