‘Preferia ter sido vacinada por uma agente da saúde’, diz mulher sobre Queiroga
Tony Winston/MS
‘Preferia ter sido vacinada por uma agente da saúde’, diz mulher sobre Queiroga

A população da Ilha de Paquetá comemorou a chegada da vacinação em massa na manhã deste domingo (20) promovida pela prefeitura do Rio em parceria com a Fiocruz, através do Programa Paquetá Vacinada. Cerca de 70% dos moradores se cadastraram na região e um total de 3.530 pessoas maiores de 18 anos vão poder completar a sua primeira dose, parte já havia sido vacinada pelo calendário municipal vigente. Autoridades estiveram presentes durante a inauguração da iniciativa, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, discursou em meio às manifestações pontuais de “Fora Bolsonaro” durante o evento.

A repercussão entre os moradores com a chegada do estudo é positiva. Eles demonstraram alegria e o clima era de tranquilidade durante o início do programa. A vacinação foi promovida pela Prefeitura do Rio em conjunto com a Fiocruz. A Fundação vai monitorar por 12 meses os imunizados com a finalidade de estudar qual é o impacto da imunização no combate à covid-19.

Mais de 450 voluntários trabalharam ao longo da semana para a realização da pesquisa na ilha, que contou com a convocação para a coleta de sangue desde quinta-feira (17). A direção do Centro Municipal de Saúde Manoel Arthur Villaboim realizou uma reunião com moradores explicando os detalhes da pesquisa e foi distribuído um questionário para que todos respondessem a respeito da sua rotina, se já teriam contraído a covid-19, sobre quantas vezes saíam de Paquetá em direção ao Centro do Rio, se tiveram contato com alguém infectado, entre outras dúvidas.

Repercussão entre moradores: ‘Alegria e desconforto’

A participação na pesquisa teve grande adesão dos moradores. Eles comentaram que tinham grande expectativa ao receber a vacina e participar dos estudos, mas, apesar da alegria, se posicionaram de maneira crítica ao governo federal. Um dia após o Brasil ter alcançado a marca de 500 mil mortos pela covid-19, a escritora e participante da Associação de Moradores de Paquetá (Morena), Conceição Campos, de 50 anos, foi vacinada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e disse que preferia ter recebido o imunizante de um agente de saúde.

“Ser vacinada é um sentimento que dá pra explicar, mas eu não gostaria de ser imunizada pelo ministro de um governo que é tão contra a vacina. Eu preferia ter recebido a dose por uma agente de saúde da nossa ilha ou da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ou por alguém realmente relacionado com a gestão da Saúde e a ciência. É uma sensação mista, de alegria, mas de certo desconforto, porque sabemos que esse governo não lutou por isso”, afirmou.

Conceição Campos mora em Paquetá há 13 anos e disse que desde o início da pandemia, era um sofrimento ouvir todas as vezes o barulho do helicóptero na ilha. Ela explicou que a unidade de saúde local não tem CTI e por isso não pode atender os casos mais graves, então os pacientes com esse perfil eram transferidos por via aérea aos hospitais do Centro do Rio.

A primeira moradora a ser vacinada foi a motorista Alzenisiana Ferreira, de 50 anos. Ela mora na ilha há 33 anos e destacou a movimentação durante os estudos na região, por fim, deixou um agradecimento à Fiocruz e ao prefeito do Rio, Eduardo Paes.

"A vacina é uma grande felicidade. Há muito tempo a gente não abraça nossos amigos e agora vamos poder fazer isso. Foi uma movimentação muito grande que há muito tempo não estávamos vendo em Paquetá. Só agradecer a todos que estão com todo esse desempenho, a Fiocruz e ao prefeito, só tenho que agradecer", disse.

A auxiliar de Recursos Humanos e também moradora Ana Carolina Leite, 29 anos, afirmou que a expectativa era muito grande pela vacinação.

"Estamos esperando há tanto tempo essa vacina. A gente sente um certo desconforto mas estamos muito felizes. Acho que toda a população estava ansiosa por esse dia, e também acredito que o Brasil está ansioso pelo momento que vai chegar a vacinação de cada um. A divulgação foi ótima, temos que agradecer a Fiocruz, ao SUS e também ao nosso hospital de Paquetá”, afirmou.

A advogada autônoma Sheila Ribeiro de Lima, de 49 anos, também recebeu a vacina e lamentou a morte dos 500 mil brasileiros. Ela disse que, apesar de estar feliz, sente-se insegura com o Carnaval que será antecipado na ilha em agosto, no mesmo mês que a população maior de idade será vacinada com as duas doses.

"Por mais que eles façam um controle, a ilha vai encher e expor muita gente. Sabemos que tem pessoas que não tomam a vacina. A verdade é que eu estou com medo, mesmo que o evento seja controlado, também temos a garotada que não foi vacinada e vai querer ir pra rua, vai ser uma festa fora de época. Deixo a minha mensagem de consolo a todos os entes que perderam os seus familiares pela covid-19 e faço um apelo para que todos se vacinem”, afirmou.

Especialista explica evento fora de época

A pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde do COPPEAD/UFRJ, Chrystina Barros, disse que a iniciativa já foi feita em moldes semelhantes no município de Serrana, em São Paulo, com a CoronaVac, e que o estudo promovido pela Fiocruz pode trazer muitas respostas a respeito da vacina Oxford/AstraZeneca. Ela exemplificou, entre os resultados, a eficiência do imunizante após a primeira dose e também o impacto na circulação do vírus para a população menor de idade que não recebeu a vacina.

“O grande resultado será entender a eficácia da vacina após a primeira e a segunda doses. Principalmente, também, o quanto esse vírus deixa de circular com a vacinação de boa parte da população naquelas pessoas que eventualmente fiquem de fora”, afirmou.

O secretário municipal da Saúde, Daniel Soranz, destacou que 21% das 421 crianças e adolescentes testadas tiveram nos resultados de amostras de sangue o resultado positivo indicando exposição à covid-19. Chrystina Barros destacou a capacidade e experiência da Fiocruz para a condução desta pesquisa.

“A Fiocruz tem grande experiência e isso está sendo feito acompanhado pelos melhores técnicos da prefeitura e da Saúde. A realização de um evento desse pode sim dar a segurança da cobertura vacinal, daí a extrapolar para um grande Carnaval ou Réveillon no Rio vai a uma distância muito maior, porque da mesma maneira que a Ilha de Paquetá pode ser um evento restrito às pessoas residentes da ilha, temos que pensar que a realização de um carnaval e réveillon é impossível de controlar na capital fluminense”, explicou.

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