Covid-19: População deve focar em se imunizar logo e não em escolher vacinas
Agência Brasil
Covid-19: População deve focar em se imunizar logo e não em escolher vacinas

Perder a oportunidade de se vacinar, independente do imunizante, dizem autoridades e especialistas em saúde, é mais que um erro. A recusa de determinada vacina aumenta a exposição individual e coletiva ao risco de infecção e prejudica o avanço de uma campanha já cheia de desafios contra uma doença que já matou mais de 500 mil pessoas no país.

"O que importa é que todos precisam estar vacinados. Não é uma questão individual. Quem escolhe (o imunizante) só pensa em si. E sem vacina não só a pessoa tem maior risco de infecção como ameaça a saúde dos outros também", diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O alerta vem no momento em que se ampliam relatos de preferências por vacinas em postos de saúde no país, enquanto os esforços deveriam ser para acelerar o número de imunizados o máximo possível.

"É mais arriscado não tomar vacina nenhuma do que tomar alguma", diz o pesquisador Raphael Guimarães, do Observatório Fiocruz Covid-19. "A imunidade de rebanho, da qual as pessoas ouvem muito falar, depende essencialmente de uma cobertura alta de vacinados. Quando chegarmos a um ponto de 70% da população vacinada poderemos começar a pensar em um bloqueio de circulação do vírus. E o Brasil ainda está muito longe disso".

Atualmente, o país tem cerca de 15% da população maior de 18 anos vacinada com as duas doses contra a Covid, segundo dados do Ministério da Saúde. A preferência por uma vacina só dificulta o avanço da campanha, que já lida com outros problemas, como a falta de imunizantes em algumas capitais.

"Todas as vacinas aprovadas pela Anvisa são boas e eficazes. Não existe vacina melhor ou pior. As pessoas acham que se esperarem por determinada vacina vão estar mais imunizadas, teoricamente. Mas todo o tempo em que deixam de se imunizar com a vacina disponível correm um risco maior e desnecessário de se infectarem. E de se infectarem gravemente e morrer", explica Andrea von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas.

Foi em Campinas, nesta semana, que um anúncio de vaga para babá que exigia que a candidata tivesse sido imunizada com a vacina da Pfizer levou ao limite a percepção de como decisões pessoais equivocadas sobre vacinação têm se sobreposto ao senso coletivo no país.

A especialista em saúde conta que, em outro exemplo de "elitização" da vacina, tem visto pessoas escolherem vacina em função das que seriam aceitas em viagens aos Estados Unidos ou à Europa.

"Sempre houve diferentes marcas de vacina. Na época da influenza tinha mais de uma. E ninguém nunca ligou aqui para perguntar qual tinha para tomar. Agora todos viraram especialistas em vacina, acham que entendem, em vez de aproveitarem a oportunidade de se vacinar. Vacina boa é a que a gente toma", diz a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas .

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Postos esvaziados

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou nesta quarta-feira, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, pessoas que têm recusado ou procurado receber determinado tipo de vacina nos postos de saúde.

"Não é razoável que as pessoas que se dirigem a um posto de saúde queiram escolher vacinas. Todas as vacinas aprovadas pela Anvisa são boas vacinas. Qualquer delas, a CoronaVac, a Pfizer, a Janssen, a AstraZeneca. Há evidentemente casos muito específicos de puérperas, gestantes e obviamente de menores de 18 anos. Com exclusão disso, todas as vacinas são boas vacinas", afirmou Doria.

O governador afirmou que tomou as duas doses da CoronaVac e incentivou que os paulistanos se imunizem com qualquer vacina disponível nos postos de saúde.

A prefeitura de São Paulo confirmou a existência de postos de saúde esvaziados nesta quarta-feira por conta da única disponibilidade de doses da CoronaVac na cidade. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) reclamou da atitude.

"Isso chega a beirar o absurdo, porque a pessoa não toma a vacina dela, e tem tantas pessoas esperando... O João tomou CoronaVac, a minha foi a AstraZeneca. Não tem sentido termos a estrutura disponível e as pessoas ficarem escolhendo", afirmou Nunes.

João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Covid-19 no estado, disse ficar "preocupado" com informações "que vêm do próprio Ministério da Saúde" questionando a eficácia de determinadas vacinas.

"É uma situação que cria muito constrangimento, muita dificuldade para todos, porque cria dentro de setores da população rejeição ao uso de uma determinada vacina. As pessoas precisam ter confiança nas vacinas que estão utilizando", disse Gabbardo.

Para o epidemiologista Paulo Lotufo, enquanto a preferência por vacinas persistir, as autoridades poderiam aproveitar para acelerar a fila a outras faixas da população que aguardam a imunização porque ainda não chegou sua vez na fila.

"Tem gente que escolhe, que pagou atestado para ser vacinado antes, e que compraria vacina no sistema privado se tivesse para ser vacinado antes. Não dá para atrasar vacinação por pessoas individualistas", afirma. "Quem não quiser as vacinas disponíveis deveria ser colocado na repescagem e deixar a fila avançar para quem quer".

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