As mortes por Covid-19 até abril de 2021 reduziram a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer em 1,3 anos, segundo estudo publicado nesta terça-feira (29) na Nature Medicine e assinado por Marcia Castro, Susie Gurzend, Cassio Turra, Sun Kim, Theresa Andrasfay e Noreen Goldman. Em alguns estados, essa redução da longevidade passou de 3 anos.
"Como continuamos sem fechar, com casos e mortes lá em cima, se segurando na imunização dos mais velhos e mais vulneráveis, as mortes continuam acontecendo entre os mais jovens. Essa redução de expectativa de vida vai ser ainda mais brutal. Sem falar nas sequelas", afirmou o biólogo e pesquisador Atila Iamarino.
Com base no número total de mortes no Brasil em 2019 e 2020, o estudo construiu tabelas para cada período e calculou a diferença na expectativa entre elas. Os pesquisadores consideraram sexo da vítima e o estado onde ela morreu.
A queda longevidade foi maior para o sexo masculino (1,57 anos) do que para o feminino (0,95 anos). A maior queda absoluta e relativa entre os estados foi estimada para o Amazonas (3,46 anos), seguido por Amapá (3,18 anos) e Pará (2,71 anos), todos na região Norte.
"Os estados do Norte e Nordeste apresentam os piores indicadores de desigualdade de renda, pobreza, acesso à infraestrutura e disponibilidade de médicos e leitos hospitalares. No Nordeste, porém, as reduções estimadas na expectativa de vida em 2020 são menores do que no Norte. Os governadores daquela região impuseram as mais rigorosas medidas de distanciamento físico, em oposição direta às recomendações do presidente", analisou o estudo.
Número de mortos "catastrófico" que tende a aumentar
"O número de mortos pela Covid-19 no Brasil foi catastrófico. Os ganhos estaduais em longevidade alcançados ao longo de anos ou mesmo décadas foram revertidos pela pandemia. A falta de uma resposta coordenada, rápida e equitativa informada pela ciência, bem como a promoção da desinformação, têm sido a marca do atual governo", diz o estudo.
Pesquisadores ainda apontam que a Covid-19 fez com que o Brasil passasse a declinar a atenção para outras doenças, o que também pode aumentar a mortalidade nos próximos anos.
"Isso comprometeu o rastreamento do câncer, com redução de cerca de 35% em novos diagnósticos. A vacinação infantil foi reduzida, principalmente entre crianças pobres na região Norte. A interrupção do tratamento e diagnóstico da tuberculose e HIV pode aumentar a mortalidade nos próximos cinco anos. As condições gerais de saúde dos indivíduos com diabetes pioraram em 2020 devido à redução da atividade física, adiamento das consultas médicas e interrupção do tratamento medicamentoso regular".