Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) evidencia o poder das vacinas na contenção da pandemia. Os cientistas investigaram o impacto da vacinação em Maricá, no RJ, onde 40% da população já receberam um imunizante, 25% dos quais com duas doses. A vacinação reduziu à metade da incidência geral do coronavírus e não apenas as internações e mortes por Covid-19.
A proposta do estudo foi investigar a infecção pelo coronavírus na população em geral, e não em grupos selecionados — como se faz em testes clínicos de imunizantes. Queriam um retrato da vida real.
Foram analisados dados de 400 pessoas escolhidas por sorteio, aleatoriamente, entre os domicílios de Maricá, cidade em que cerca de dois terços dos imunizados receberam CoronaVac, e os demais, AstraZeneca.
Em cada domicílio, era escolhida a pessoa com data de aniversário mais próxima à da coleta de amostras. Os cientistas coletaram swabs nasais para testes de PCR, e de sangue para os de anticorpos. As coletas foram realizadas de 20 de maio a 4 de junho.
"As vacinas funcionam muito bem, fazem uma diferença que impressiona. Mesmo com 40% de vacinados, foi possível cortar à metade a incidência geral do coronavírus. Isso pode representar uma queda geral de pelo menos 75% das internações e mortes por Covid-19. Imagine se todo mundo tivesse sido totalmente vacinado, é um resultado muito bom, excepcional, das vacinas", salienta o líder do estudo, Amílcar Tanuri, professor titular e coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Resultado promissor para conter pandemia
Os pesquisadores calcularam que as vacinas reduziram em 51% as infecções por coronavírus, contando inclusive os casos assintomáticos e leves, e não apenas moderados e graves. Esse resultado é considerado promissor para controlar a pandemia.
"O impacto na mortalidade deve ser ainda maior. Mas nosso foco nesse estudo foi avaliar a infecção, saber como a vacina estava atuando na propagação da Covid-19. E vimos que tem menos gente infectada graças à vacinação", frisa o cientista.
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Dos vacinados em geral, mesmo com uma dose, 68% tinham anticorpos, dois terços deles neutralizantes, aqueles específicos e capazes de atacar o Sars-CoV-2. No grupo com duas doses, 75% tinham anticorpos neutralizantes. No grupo não vacinado, 20% tinham anticorpos, um sinal da grande exposição da população ao coronavírus.
Havia dois vacinados infectados, com PCR positivo. Entre os não vacinados, eram sete os infectados. Tanuri explica que, quando uma pessoa chega a um nível elevado de anticorpos, mesmo que seja exposta, o vírus não consegue infectá-la e se replicar com sucesso. Por isso, ele defende que todos os brasileiros com mais de 12 anos sejam vacinados, para fazer o que chama de barreira imunológica.
"Para domar o vírus temos que vacinar maciça e rapidamente, antes que ele continue a mudar, desenvolver variantes e ganhe outra configuração, capaz de provocar mais uma onda severa de doença e morte", alerta Tanuri.
Segundo ele, a redução de casos observada em alguns estados do Brasil se deve, sobretudo, a fluxos normais de pandemias, com picos e vales. Ele diz que a vacinação já está reduzindo as mortes, mas tem que aumentar muito.
O estudo mostrou que, mesmo com o impacto positivo das vacinas, a circulação do coronavírus continua elevadíssima. De 400 pessoas, nove estavam infectadas. Isso representa uma incidência de 2.400 casos para cada cem mil habitantes. O Reino Unido, que está alarmado com o crescimento de casos leves entre não vacinados, registra 22 casos por cem mil, diz Tanuri.
"Temos no Brasil uma situação brutal e incomparável. A vacinação maciça nos ajudará a melhorar muito, a manter o vírus no fundo do vale, com surtos sazonais controláveis. Mas precisa haver mais estímulo oficial à vacinação. Se não fosse a mídia, a população ficaria à mercê da pandemia, sem estímulo a se proteger. Todas as vacinas são boas, terrível é a Covid-19. Tenho medo por quem ainda não se vacinou", enfatiza.