Nos próximos 15 dias, os Estados Unidos deverão fazer uma nova doação direta de vacinas contra a covid-19 ao Brasil. Pessoas envolvidas na negociação afirmaram à BBC News Brasil que o fabricante e a quantidade das doses cedidas dessa vez ainda não estão definidos pelas autoridades americanas, que tampouco anunciaram formalmente a doação.
Mas já se sabe que o imunizante deve ser da Pfizer ou da Janssen, duas das vacinas das quais os americanos dispõem e que já foram liberadas para aplicação na população tanto pela agência de vigilância sanitária brasileira, a Anvisa, quanto pela americana, a FDA.
Os americanos detêm ainda um estoque de cerca de 60 milhões de doses da AstraZeneca-Oxford, que aguarda autorização da FDA para ser remetida ao exterior pela Casa Branca.
Se concretizada, a nova remessa será a segunda grande doação direta de vacinas dos americanos ao Brasil. A primeira, de 3 milhões de doses da Janssen, vacina de dose única da Johnson & Johnson, foi anunciada no fim de junho e é, até o momento, a maior doação feita pelos Estados Unidos a um único país.
Depois de vacinar com ao menos uma dose quase 70% de sua população, os Estados Unidos têm se movido rapidamente para fazer frente à China na chamada "diplomacia de vacinas".
Há duas semanas, o jornal O Globo publicou documentos do Itamaraty nos quais os diplomatas brasileiros relatavam sugestão de executivos da empresa chinesa Sinovac, desenvolvedora da Coronavac, para que integrantes do governo Bolsonaro moderassem o tom nas críticas à China para não complicar o envio de vacinas e insumos ao Brasil — mais da metade dos imunizantes aplicados no país até agora têm origem chinesa.
Diante da notícia, o assessor da Casa Branca para América Latina, Juan González, ironizou: "Cumpriremos (as doações) sem condições". As negociações pelas doses envolvem os gabinetes presidenciais dos dois países, além dos órgãos nacionais de saúde e a diplomacia de parte a parte.
Bolsonaro agradece em carta
Em 4 de julho, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) enviou carta ao presidente americano, o democrata Joe Biden, por ocasião do dia da independência americana, em que parabenizava o país pela data e agradecia o envio de doses ao Brasil.
Os dois mandatários ainda não se falaram pelo telefone, mas essa é a quarta carta que Bolsonaro destina a Biden, depois de ser um dos últimos chefes de países do mundo a reconhecer a vitória eleitoral do democrata sobre o republicano Donald Trump, seu aliado.
Nessa semana, outros países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai receberão 1 milhão de doses de imunizantes americanos. Colômbia e Equador também já foram contemplados.
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No caso do Brasil, além da importância política do país na região, pesou na decisão de uma segunda doação a gravidade da condição sanitária brasileira, que já ultrapassou a marca de 520 mil mortes por covid-19, o segundo maior número absoluto de mortes no mundo.
O país sofre com a falta de imunizantes — apenas 37% da população recebeu ao menos uma dose. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado investiga a responsabilidade do governo federal na escassez de vacinas.
Desde fevereiro, o Itamaraty pedia por doses aos EUA. Inicialmente, o Brasil tentou negociar a compra do excedente de imunizantes americano, o que não se mostrou viável.
A doação via Covax Facility, consórcio global de vacinas da Organização Mundial da Saúde, chegou a ser aventada, e parte de um lote de 25 milhões de doses americanas deve ser alocada pelo Covax, mas a solução demonstrou ter problemas para uma distribuição rápida do material entre diferentes países. Por isso, os americanos têm optado por doação bilateral.
A nova doação deve ser retirada pelo Brasil em território americano. A empresa aérea Azul Linhas Aéreas ou a Força Aérea do Brasil ficarão responsáveis pelo transporte.
Os americanos também já sinalizaram que poderão rever o destino de um lote de 20 milhões de doses, com vencimento previsto para setembro, originalmente encaminhado para o Covax Facility.
As dificuldades de distribuição do consórcio podem levar à perda do prazo de validade dos imunizantes e o Brasil já se apresentou como candidato para ficar com ao menos parte das doses próximas do prazo de vencimento.
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