O Mato Grosso do Sul bateu ontem a marca de 70,4% da população acima de 18 anos total ou parcialmente vacinada. É, disparado, o estado que mais vacinou proporcionalmente sua população contra a Covid-19 até agora, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, graças a um conjunto de fatores que envolve parcerias, logística e até um estudo.
Já foram aplicadas mais de 2 milhões de doses no estado, e 36,89% da população está totalmente vacinada.
A logística na distribuição é o primeiro ponto de destaque na região com grande população rural e o Pantanal. Ainda assim, o imunizante chega aos municípios em até 12 horas e, geralmente, começa a ser aplicado no mesmo dia. Assim, é também o estado com mais alto percentual de doses aplicadas: 94% das recebidas.
Para estimular os municípios, há um incentivo financeiro. O estado repassa, para cada dose aplicada, R$ 2,10 para ajudar no pagamento dos plantões das equipes. Para receber 100% do pagamento, é preciso aplicar acima de 95% das doses recebidas.
Segundo o secretário de Saúde, Geraldo Resende, foi criada uma “competição” saudável. Dos 79 municípios do estado, 62 receberam neste mês 100% do incentivo criado em junho, num valor total de R$ 5,8 milhões a serem distribuídos até dezembro.
Outro ponto considerado fundamental é a “busca ativa”, fazer contato direto com quem ainda não foi vacinado. O estado, por exemplo, começou uma força-tarefa para vacinar 90% dos indígenas. Atualmente, 87% receberam a primeira dose.
"É preciso vencer a resistência, principalmente orientações de algumas igrejas evangélicas, não todas, e também da comunidade. A gente tem que fazer um enfrentamento diário para colocar a ciência como condutora do processo", afirmou.
Além disso, um estudo da Fiocruz para testar a vacina da Janssen contra a variante Gama fez com que 13 cidades de fronteira recebessem 165 mil doses do imunizante, de dose única, na última semana. Assim, nestes municípios o percentual de vacinados parcial ou totalmente subiu para 90%.
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Responsável pela pesquisa, o infectologista Julio Croda, professor da UFMS e da Escola de Saúde Pública de Yale, diz que o estado tem um histórico positivo de vacinação e celebra os resultados contra a Covid:
"Hospitalização e óbito reduziram drasticamente no estado. Os reflexos da vacinação são muito grandes".
Longe da flexibilização
Apesar dos avanços, Croda diz que ainda falta muito para que o estado, e o Brasil, possam relaxar.
"Cobertura vacinal não é indicador para flexibilização de medidas restritivas. Idealmente, é preciso ter menos de 10 casos por 100 mil habitantes para isso. Ou seja, depende da transmissão do vírus".
O infectologista Hilton Luís Alves Filho, que trabalha na secretaria de Saúde nos municípios de Corumbá e Ladário, diz que medidas restritivas também foram fundamentais para a queda de casos, internações e mortes.
"A vacinação não tem efeito imediato, assim como as medidas restritivas só estão tendo efeito neste momento. É preciso manter a vigilância".
Agora, a maioria das cidades está vacinando abaixo de 40 anos. Na avaliação do procurador-geral de Justiça de MS, Alexandre Magno Lacerda, o diálogo permanente, sob critérios técnicos científicos, é um dos segredos na estratégia.
"Pouco importa o partido político ou quem quer que seja, porque o foco de todo mundo aqui é a vida".