Mais de 30 mil moradores do Complexo da Maré receberam a primeira dose contra a Covid-19 nos três dias da vacinação em larga escala, iniciativa de parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Redes da Maré e a Prefeitura do Rio. Num balanço parcial divulgado pela Secretaria municipal de Saúde na tarde de ontem, 30.426 pessoas, com idade entre 18 e 33 anos, foram atendidas entre a última quinta-feira e ontem, o que corresponde a 99,14% do público alvo. Este domingo é dia de repescagem até o meio-dia.
A pesquisa tem o objetivo de analisar ao longo do tempo o comportamento da doença em uma população imunizada. Este é o segundo projeto nesses moldes feito no Rio, sendo o primeiro realizado em Paquetá, com a primeira fase em junho, com vacinação de adultos (a partir de 18 anos) e com adolescentes de 12 a 17 anos em julho.
Para o mutirão na Maré foram preparados 130 pontos de vacinação distribuídos em 30 locais do complexo, que contaram com mais de 400 profissionais da secretaria municipal de Saúde e com 490 voluntários. Até quarta-feira será realizada busca ativa para os moradores que perderam a data.
No dia do início da pesquisa, na quinta-feira, o secretário municipal de Saúde, o médico Daniel Soranz, destacou que a vacinação servirá "para mostrar os efeitos da vacina no Rio e nas comunidades":
"Essa vacinação em massa vai mostrar a dinâmica de como o vírus vai se comportar aqui na Maré e também em toda a cidade. Esperamos vacinar 31 mil pessoas que não se vacinaram. Vamos fazer essa vacinação até quarta-feira, quando haverá uma repescagem", disse Soranz no primeiro dia do mutirão.
As cerca de 30 mil pessoas atendidas neste mutirão serão integradas aos grupos que moram nas comunidades e já receberam ao menos uma dose da vacina e passam a ser monitoradas pelas equipes de pesquisa. Um dos objetivos será analisar a efetividade da vacina por diversos critérios, como idade, sexo, fabricante e tempo de vacinação.
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Ancorado em dois pilares — a vacinação em massa e a testagem em grande escala da população —, o estudo que será coordenado pela Fiocruz é um desdobramento de ações de mobilização social que vêm sendo implementadas na Maré desde junho do ano passado com o projeto Conexão Saúde - De Olho na Covid. Referência no combate à pandemia em territórios de favelas, o projeto oferece gratuitamente serviços de testagem, telessaúde e apoio no isolamento domiciliar a pessoas com Covid e foi preponderante para o avanço da pesquisa entre os moradores da Maré.
Metodologia em duas etapas
O estudo inclui duas linhas de atuação que serão conduzidas de forma simultânea. A primeira consiste na identificação de casos sintomáticos da doença que serão submetidos ao teste de RT-PCR. Os participantes devem informar ao Centro de Saúde caso apresentem os sintomas definidores de suspeita de Covid-19. Além disso, as equipes do estudo também acompanharão as atividades das Unidades Básicas de Saúde para orientar a realização do teste molecular dentro da janela de sete dias desde o início dos sintomas.
O resultado da testagem será cruzado com o monitoramento da situação vacinal e o desfecho do quadro, com sua classificação final de gravidade. Desta forma, será possível calcular a proteção que a vacina está conferindo à população. Além disso, todos os resultados positivos serão encaminhados para realização de sequenciamento genético, a fim de identificar possíveis variantes do vírus e colaborar na vigilância genômica da região.
Já a segunda linha é caracterizada como segmento populacional de 2 mil famílias residentes na Maré, mobilizando, ao todo, aproximadamente 8 mil indivíduos, que serão acompanhados por seis meses. Nesta ação será realizada a avaliação de soroprevalência, proporção de vacinados e ocorrência de casos, com o intuito de mapear a transmissão do vírus no ambiente familiar. A análise incluirá também os membros que não são público-alvo da vacinação, os menores de 18 anos.