Passado o momento mais severo de escassez de vacina contra Covid-19 no Brasil, ao menos 13 estados já planejam vacinar seus moradores com mais de 18 anos com a primeira dose até 30 de setembro.
Levantamento feito pelo GLOBO mostra que metade dos estados planeja concluir a primeira fase da vacinação nos próximos 60 dias. Um governo estadual, Alagoas, afirma que deve terminar de aplicar a primeira dose nos adultos em 31 de outubro. Quatro estados informaram que ainda não definiram prazos, e os demais não responderam.
A atual corrida da imunização foi deflagrada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que antecipou o cronograma da primeira dose para 16 de agosto. Para atingir o resultado, Doria anunciou, no mês passado, a compra de 4 milhões de doses extras da CoronaVac. Essas aplicações não entraram na conta do Programa Nacional de Imunizações (PNI), para distribuição em todo o país, e foram direcionadas totalmente ao território paulista.
O estado da Paraíba também fez uma ginástica logística para encurtar os prazos de aplicação. A previsão inicial era concluir a aplicação da primeira dose em todos os adultos até outubro. Diante do cronograma, o estado decidiu utilizar, no último mês, o estoque da vacina AstraZeneca reservado para segunda aplicação.
Somada à chegada de mais estoque do governo federal, a medida fez o estado antecipar a estimativa de aplicação da primeira dose dos adultos para o fim de agosto.
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"Tínhamos 230 mil aplicações de AstraZeneca guardadas para serem usadas como dose dois. Tomamos a decisão de utilizá-la como primeira aplicação para quem estava desprotegido. Demos um impulso grande e temos a menor ocupação hospitalar desde janeiro", diz o secretário de Saúde, Geraldo Medeiros.
O uso dessas doses foi paralisado por determinação da Justiça, que determinou que voltasse a ser feita a reserva de segundas doses.
A discrepância no avanço da vacinação entre estados no Brasil é esperada, dizem especialistas em imunização. Um dos pontos principais para essa diferenciação é a distribuição baseada em um censo populacional antigo, de 2010, o que não permite garantir que o quantitativo de doses que chega aos estados corresponda ao que realmente é necessário para uma cobertura vacinal completa. O uso desses números defasados é um dos motivos para que a Bahia ainda não tenha definido uma data para conclusão da aplicação da primeira dose em todos os adultos.
Outro ponto é a incerteza em relação à quantidade de pessoas com comorbidades. Como não existe uma contagem bem definida dos grupos, algumas regiões podem ter recebido doses excedentes ou faltantes quando se buscava imunizar, por exemplo, os diabéticos.
"A rapidez no avanço da vacinação de faixas etárias não é um bom indicador de sucesso da vacinação. Pode ser que chegar rápido aos 18 anos seja resultado de uma baixa adesão nas idades anteriores. O placar mais importante para comparação deveria ser a cobertura vacinal", diz Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Adolescentes na conta
Com a conclusão da imunização dos maiores de 18 anos, a corrida se volta para os menores de idade. Por enquanto, quem tem de 12 a 17 anos pode receber doses da vacina da Pfizer, previamente liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para esse público.
O Instituto Butantan acionou a agência, na semana passada, para estender o uso da CoronaVac para crianças de 3 anos até adolescentes de 17. O laboratório Janssen, por sua vez, recebeu autorização da Anvisa para realizar estudos de sua vacina com menores de 18 anos.