RIO — O caso de um estudante de medicina que está sendo acusado de estuprar quatro crianças, incluindo suas duas irmãs de 3 e 9 anos, reacendeu a discussão sobre os possíveis sinais que os pequenos dão ao serem expostos a este tipo de violência.
A madrasta do rapaz e mãe de duas das crianças abusadas, relatou ao GLOBO que sua filha mais velha apresentou alguns comportamentos estranhos ao longo do tempo, como se estivesse “involuindo”. Dentre eles estavam o medo de dormir sozinha, querendo apenas dormir na cama com os pais, e a vergonha de tirar a roupa na frente da mãe para se trocar.
Uma outra criança, de 13 anos, abusada pelo estudante entre os 5 e 10 anos, sofre de depressão e já chegou a se mutilar. Ela se trata com fluoxetina — um tipo de antidepressivo — desde os 6 anos.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021 mostra que crianças de 0 a 13 anos foram 60,6% das vítimas de estupro ocorridos em 2020 no Brasil. O relatório apresenta dados que comprovam que a maioria dos abusos sexuais são cometidos por pessoas conhecidas pelas vítimas e que na infância tanto meninos quanto meninas sofrem violência sexual.
"Enquanto os casos de estupro ocorrem majoritariamente aos sábados e domingos, os estupros de vulnerável, categoria em que a maioria das vítimas são crianças, ocorrem em maior proporção de segunda a sexta-feira, quando mães e outros responsáveis provavelmente saem para trabalhar e a criança fica mais vulnerável", descreve o documento. A maioria das violações ocorre no período da tarde.
Mudança brusca de comportamentos, medos excessivos, retomada de atitudes já deixadas para trás por conta do avançar da idade são alguns sinais de alerta que crianças e adolescentes emitem quando estão sofrendo algum tipo de abuso sexual.
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Muitas vezes, as crianças não denunciam a situação a um adulto por medo — é comum o abusador ameaçar a vítima para que ela mantenha os abusos em segredo — ou por não saberem que aquilo que é feito com elas é algo errado. Por isso, é importante que os adultos que convivem com crianças prestem atenção aos sinais que a criança dá.
Fique atento aos possíveis sinais de que uma criança dá quando está sofrendo abuso sexual:
- Mudança de comportamento: A criança passa a apresentar atitudes que não faziam parte do seu cotidiano, como alterações de humor e retraimento. Muitas vezes as mudanças são repentinas e acontecem de forma inesperada. Às vezes elas ocorrem apenas em relação a uma pessoa específica ou uma determinada situação;
- Alterações na rotina: Crianças sob violência podem apresentar mudanças no padrão de sono, na concentração na escola e na alimentação;
- Desenhos estranhos: Crianças pequenas costumam revelar muitas coisas por meio de desenhos. Excesso de monstros ou o surgimento de figuras que envolvem órgãos sexuais podem ser o indicativo de abuso;
- Comportamentos sexuais: Crianças que são vítimas de abusos podem simular cenas de sexo entre bonecos ou fazer brincadeiras de cunho sexual com colegas, assim como passar a usar palavras que remetem ao vocabulário sexual;
- Agressividade: Pode acontecer também de as crianças começarem a apresentar comportamentos agressivos com aqueles que estão a sua volta sem nenhum motivo aparente;
- Aversão a algumas pessoas: De um dia para o outro, a criança demonstra medo de ficar perto de uma pessoa com a qual ela já tinha algum tipo de convívio anterior. Ela pode também não querer cumprimentar a pessoa;
- Proximidade excessiva: O oposto também pode acontecer. A criança pode querer ficar muito próxima do abusador, passando muito tempo a sós com a pessoa. Isto pode acontecer porque muitas vezes quem abusa oferece recompensas em troca, como brinquedos, doces e dinheiro para a criança;
- Regressão: Pode acontecer também de a criança voltar a apresentar alguns comportamentos que já foram superados com o seu crescimento, como começar a fazer xixi na cama novamente, chupar dedo ou usar chupeta, ficar com medo do escuro e outras atitudes que eram comuns quando mais novas;
- Problemas de saúde física sem motivo: O estresse e trauma gerados pelo abuso pode desencadear doenças psicossomáticas que culminam em problemas de saúde sem motivo aparente, como dores de cabeça, dificuldade digestiva, problemas de pele etc;
- Sinais físicos de violação: Hematomas e machucados — principalmente próximos à região genital — assim como o diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis são os sinais de alerta mais graves, que inclusive servem de prova na justiça para comprovar a violência sexual.
Vale lembrar que nem sempre estes sinais significam que a criança esteja sofrendo uma abuso sexual. Normalmente a vítima apresenta um conjunto de sintomas. Em caso de desconfiança, o indicado é procurar por um(a) psicólogo(a) infantil ou pedir ajuda na escola, antes de questionar à criança sobre o que está acontecendo. Estes profissionais podem ajudar a esclarecer a situação e encaminhar o possível caso de abuso para as autoridades competentes.
Casos de abuso sexual de crianças e adolescentes devem ser denunciados ao Disque 100.