Ninguém nasce gênio: gêmeas idênticas criadas separadas tiveram grande diferença de QI, mostrou estudo
Mariana Alvim -@marianaalvim - Da BBC News Brasil em São Paulo
Ninguém nasce gênio: gêmeas idênticas criadas separadas tiveram grande diferença de QI, mostrou estudo

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual da Califórnia em parceria com cientistas da Universidade Kookmin, em Seoul, na Coreia, mostrou que o QI (quociente de inteligência) pode estar mais associado ao ambiente de criação do que à questões genéticas.

Os pesquisadores analisaram os testes de QI de duas irmãs gêmeas idênticas que nasceram em Seul, Coréia do Sul, em 1974. Elas foram separadas na infância. Aos dois anos de idade, uma gêmea se perdeu em um supermercado e não encontrou mais os pais biológicos — apesar de eles aparecerem na TV coreano em busca da filha. Ela foi adotada por uma família americana e levada para viver nos EUA.

Em 2018, a gêmea que vivia nos EUA mandou seu DNA a um programada da Coreia do Sul no intuito de encontrar sua família biológica. Dois anos depois, ela recebeu a notícia de que não apenas tinha uma gêmea idêntica, mas também uma irmã e um irmão mais velhos.

Depois de se reunirem, as gêmeas completaram uma série de testes destinados a avaliar sua inteligência, perfis de personalidade, saúde mental e histórico médico. Surpreendentemente, os resultados revelaram que o QI da gêmea criada nos EUA era 16 pontos menor do que o da irmã criada na Coréia.

A descoberta, publicada na revista Personality and Individual Differences , contradiz estudos anteriores sobre gêmeos univitelinos, que indicaram uma diferença média de QI de até sete pontos. Comentando sobre o abismo inesperadamente grande entre as duas irmãs, os autores do estudo escrevem que “é impressionante que as gêmeas tenham mostrado diferenças substanciais nas habilidades cognitivas que foram associadas a uma forte influência genética”.

É difícil dizer se essa discrepância foi causada pela educação diferente das gêmeas, embora os pesquisadores observem que a irmã criada nos EUA havia sofrido três concussões (lesões cerebrais causadas por uma pancada na cabeça ou uma agitação violenta da cabeça e do corpo) anteriores, o que pode ter influenciado suas capacidades cognitivas.

Continuando sua avaliação, os pesquisadores revelam que “a configuração geral da personalidade das gêmeas era semelhante, consistente com a literatura sobre influências genéticas moderadas na personalidade na idade adulta”.

“Notável é que ambas as gêmeos são altamente comprometidas, bem organizadas, obedientes e em busca de realizações.” Eles afirmam que essas semelhanças persistiram apesar das experiências de vida e ambientes domésticos contrastantes das irmãs. Para os cientistas, isso demonstra o papel que a genética desempenha na determinação do temperamento de uma pessoa.

Por exemplo, enquanto a gêmea criada na Coréia descreveu ter crescido em um lar familiar amoroso e harmonioso, a irmã adotiva relatou uma educação mais dura, colorida por conflitos regulares e pelo divórcio de seus pais adotivos. Apesar disso, a dupla teve pontuações idênticas para autoestima e perfis de saúde mental altamente semelhantes.

A dupla também compartilhou aspectos de seus históricos médicos, com ambos passando por cirurgias para remover tumores de seus ovários. No entanto, as gêmeas diferiam em relação às suas ideologias culturalmente impressas, com a irmão criada nos EUA demonstrando uma visão mais individualista, enquanto a irmã criada na Coréia tinha valores mais coletivistas.

Compreensivelmente, casos de gêmeos sendo criados separadamente são raros, e mais casos como esse precisam ser estudados antes que conclusões firmes possam ser tiradas. No entanto, este estudo fornece alguns novos insights fascinantes sobre os fatores genéticos, culturais e ambientais que influenciam o desenvolvimento humano.

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