A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a suprimir das estatísticas sobre a varíola dos macacos a distinção entre países endêmicos e não endêmicos. A mudança, segundo a organização, é para facilitar a elaboração de uma "resposta unificada" ao vírus monkeypox.
Antes de a doença se espalhar pelos continentes, no surto que teve início no começo de março, a varíola dos macacos era considerada restrita a onze países localizados na África Central e Ocidental.
“Estamos eliminando a distinção entre países endêmicos e não endêmicos, informando sobre países juntos quando for possível, para refletir a resposta unificada necessária”, diz o último boletim da OMS sobre o tema, divulgado neste sábado.
De acordo com o documento, foram relatados 2.103 casos da varíola dos macacos em 42 países neste ano, além de um óbito, na Nigéria, e uma outra morte suspeita. De modo diferente de como acontecia anteriormente, com os registros concentrados no continente africano, agora a maioria das confirmações (83%) ocorreu na Europa, com 1.773 casos.
Em seguida, está a América, com 64 casos (3%). Há ainda registros de outras pessoas infectadas nos demais continentes. No Brasil, há sete casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde.
No entanto, a OMS considera provável que o número real de casos no mundo seja maior. Isso porque, de acordo com o boletim, o vírus pode estar "circulando sem ser reconhecido durante algum tempo (...) o que pode remontar a 2017", em regiões onde não tinha sido detectado antes.
Emergência de saúde
No próximo dia 23, a organização vai avaliar se o surto atual representa uma "emergência de saúde pública de alcance internacional".
"O surto global da varíola dos macacos é claramente incomum e preocupante. É por essa razão que decidi convocar o comitê de emergência, sob os regulamentos internacionais de saúde, na próxima semana, para avaliar se esse surto representa uma emergência de saúde pública de interesse internacional", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa na última terça-feira.
O status de emergência internacional é hoje atribuído apenas à Covid-19 e à poliomielite. Em outras épocas, já foi decretado para diferentes doenças, como no caso do ebola, em 2014, e da gripe suína, em 2009.
Entenda os riscos da varíola dos macacos
Desde que o primeiro diagnóstico inesperado da varíola dos macacos foi identificado no Reino Unido, no início de maio, uma série de países passaram a registrar casos de pessoas infectadas.
A doença é uma versão semelhante à varíola erradicada em 1980, embora mais rara, mais leve e com a transmissão entre pessoas mais difícil de acontecer, segundo a OMS. Até então, ela era comum nos 11 países da África Central e Ocidental, onde é endêmica, com registros fora do continente africano normalmente associados a pessoas que viajaram para o local e retornaram contaminadas.
Existem duas variantes conhecidas do vírus monkeypox, associadas à África Ocidental (West clade) e à África Central na região do Congo (Congo clade). A primeira, causa do surto atual, é mais leve, com taxa de mortalidade de cerca de 1%. Ainda assim, não foram registradas mortes até agora entre os mais de mil casos identificados em lugares não endêmicos.
Para a segunda variante, o índice é mais alto: de 10%. Porém, especialistas explicam que como trata-se de um diagnóstico até então restrito a lugares do continente africano, sabe-se pouco sobre o comportamento do vírus nos demais países.
Transmissão e sintomas
De modo diferente da que foi eliminada pelas vacinas em 1980 -- que infectava apenas humanos --, a varíola atual provocada pelo vírus monkeypox é uma zoonose silvestre, ou seja, uma doença que passa de animais, majoritariamente roedores, para pessoas.
A transmissão, portanto, costumava ser predominantemente pelo contato com esses animais portadores do patógeno, uma realidade diferente da que países vivem no surto atual, com contágio entre humanos. Porém, essa forma de disseminação entre pessoas, embora rara, já era conhecida. Ela acontece principalmente por contato com as lesões causadas na pele, como bolhas, e pelos fluidos corporais.
Além disso, a OMS reconhece que a via respiratória também é uma meio de entrada para o vírus, mas sendo necessário um contato próximo e prolongado, motivo para a transmissibilidade considerada mais baixa do agente.
As formas de contaminação, portanto, englobam o contato íntimo, com uma série de registros sendo associados a estabelecimentos destinados a encontros para o sexo. Por isso, a OMS alerta para que pessoas com muitos parceiros sexuais estejam atentas aos sintomas.
São eles febre, dor de cabeça, dores musculares e erupções na pele (lesões) como bolhas que começam no rosto e se espalham para o resto do corpo, principalmente as mãos e os pés. A doença costuma apresentar um quadro leve, e as manifestações desaparecem sozinhas dentro de duas a três semanas.
Em caso de sintomas, os especialistas orientam a busca pelo serviço médico o mais rápido possível, assim como na situação de contato com pessoas sintomáticas. O período de incubação do vírus é longo, geralmente de 6 a 13 dias, mas podendo variar de 5 a 21 dias, segundo a OMS, o que pode levar a uma demora para o surgimento dos sinais.
Além de evitar contato com contaminados, usar máscaras em situações de risco e manter uma boa higienização das mãos, os dados da OMS mostram que os imunizantes utilizados para erradicar a varíola tradicional, em 1980, são até 85% eficazes em prevenir essa versão. Em alguns países, como o Reino Unido, o imunizante já está sendo oferecido a contatos de pessoas contaminadas e profissionais da saúde.