À medida que o surto de varíola dos macacos cresce pelo mundo, mesmo países com vacina não conseguem suprir a demanda. Nos Estados Unidos, a busca pela vacina supera a oferta do país, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). "Ainda não temos todas as vacinas que gostaríamos neste momento", afirmou Rochelle Walensky, diretora do CDC.
Quando a crise de oferta diminuirá, não se sabe. O governo federal americano disponibilizou outras 131 mil doses para estados e outras jurisdições na sexta-feira (15). Mas o escopo do surto permanece incerto, em parte porque os testes de diagnóstico têm sido lentos e limitados.
Mais de 11 mil casos da doença já foram identificados em 65 países, incluindo o Brasil, principalmente em homens que fazem sexo com homens. Nos EUA, quase 1.500 casos foram identificados, e o número deve aumentar nas próximas semanas, disse Walensky.
A varíola dos macacos não é considerada uma infecção sexualmente transmissível, uma vez que são limitadas ainda as evidências de que o agente causador da doença estaria presente no sêmen ou em fluidos vaginais. No entanto, a infecção pode ocorrer no momento da relação sexual, já que a via mais comum de transmissão é o contato direto e prolongado com a pessoa contaminada pelas lesões na pele e vias respiratórias.
Para a epidemiologista e especialista em varicela da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Anne Rimoin, o mundo está perdendo a luta contra o tempo. "Nossa janela de oportunidade para controlar a doença está se fechando rapidamente. Provavelmente há muito mais casos por aí do que estamos cientes", disse.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos americano encomendou mais 2,5 milhões de doses da vacina, conhecida como Jynneos, na sexta-feira, mas essas doses não devem chegar até o próximo ano. Outras 2,5 milhões de doses encomendadas anteriormente devem começar a chegar no final de 2022, disseram autoridades.
"É como dizer que temos um caminhão-tanque de água chegando na próxima semana, quando o incêndio está acontecendo hoje", disse Gregg Gonsalves, epidemiologista da Escola de Saúde Pública de Yale.
A disseminação tem levado países a adotarem medidas para proteger aqueles considerados de "maior risco" para a doença, inclusive por meio da distribuição de vacinas. Embora a OMS não recomende uma campanha de imunização em massa, a organização reconhece os benefícios da vacina para pessoas mais expostas ao vírus.
É o caso do Reino Unido, que desde maio imuniza profissionais da saúde e pessoas que tiveram contato com alguém infectado. Os especialistas explicam que devido ao longo período de incubação do vírus monkeypox – tempo entre a contaminação e o surgimento de sintomas –, que pode chegar a três semanas, a vacina nesse caso é eficaz pois pode atenuar a replicação do patógeno no organismo durante esse período.
No Brasil, nesta semana, o Ministério da Saúde decidiu finalizar a sala de situação criada para monitorar a disseminação da varíola dos macacos no país. A pasta afirma, no entanto, que continuará acompanhando o cenário da doença no Brasil. Até o momento, 228 casos da enfermidade foram registrados, um aumento de 185% na última semana.
Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, o Brasil não tem doses armazenadas nem produção nacional, caso seja necessária uma estratégia de imunização.
(Com o NYT)
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