Covid: saúde mental piorou para 53% dos brasileiros sob pandemia, aponta pesquisa
Reprodução: BBC News Brasil
Covid: saúde mental piorou para 53% dos brasileiros sob pandemia, aponta pesquisa

O número de brasileiros que consideram a saúde mental um dos maiores problemas de saúde do país mais que dobrou nos últimos quatro anos, chegando a quase metade da população, e ultrapassou a preocupação com o câncer .

É o que mostra o levantamento ‘Monitor Global dos Serviços de Saúde’, de 2022, realizado pela empresa de pesquisa Ipsos em 34 países e divulgado nesta segunda-feira. Em primeiro lugar, a Covid-19 segue sendo a principal questão apontada pelos entrevistados, embora em proporção significativamente menor que nos últimos dois anos.

A pesquisa, conduzida entre os dias 22 de julho e 5 de agosto deste ano, ouviu 23,5 mil pessoas ao redor do mundo. O novo coronavírus foi apontado como um dos principais problemas de saúde por 47% dos indivíduos, uma queda de 23 pontos em relação à proporção de 2021 – quando era de 7 a cada 10 entrevistados.

No Brasil, essa oscilação foi de 84% para 62%. Apesar da diminuição, assim como no ano passado, o país foi o quinto com mais pessoas preocupadas com a Covid-19, empatado com o México e atrás apenas de Japão, com 73%; Peru, com 66%; Tailândia, com 64%, e Indonésia, com 63%.

Já a grande mudança revelada pela pesquisa em 2022 foi que, pela primeira vez, a saúde mental ultrapassou o câncer como um dos principais problemas de saúde apontados pela população global. A proporção de pessoas que citou as questões psíquicas, que já vinha em crescimento nos últimos anos, passou de 31%, em 2021, para 36% neste ano. Em relação ao câncer, esse índice, que era de 34% no ano passado, manteve-se estável, caindo para o terceiro lugar do ranking.

No Brasil, a apreensão com a saúde mental é ainda maior que a média global, e já era o segundo maior problema mencionado pelos entrevistados desde o ano passado, quando subiu 13 pontos percentuais na pesquisa em relação a 2020, chegando a 40%. Em 2022, esse índice subiu ainda mais, para 49% – o que representa quase metade dos brasileiros e uma taxa mais de 10 pontos superior à média mundial.

Comparando com a edição da pesquisa de 2018, quando esse índice foi de 18%, a preocupação com a saúde mental mais que dobrou entre os brasileiros, subindo 31 pontos percentuais em quatro anos. Em âmbito mundial, essa escalada foi de apenas 9 pontos no mesmo período. Hoje, o Brasil é o sexto país que mais cita o problema, atrás apenas da Suécia, por 63% da população; do Chile, por 62%; da Irlanda, por 58%; de Portugal, por 55%, e da Espanha e dos Estados Unidos, ambos por 51%.

O câncer continuou sendo apontado por três a cada dez entrevistados brasileiros, uma variação de 31%, em 2021, para 29% neste ano. A apreensão com a doença está em queda acentuada no país desde 2018, quando era a maior preocupação, mencionada em 57% das respostas. Hoje, o Brasil é o 19º no ranking mundial dos que citam os tumores como um dos principais problemas de saúde.

Na pesquisa, além de Covid-19, saúde mental e câncer, as outras opções disponíveis foram estresse; obesidade; diabetes; abuso de drogas; abuso de álcool; doenças cardíacas; tabagismo; demência; hospitais superlotados e doenças sexualmente transmissíveis. O estresse e a obesidade vieram em quarto e quinto lugar nas respostas dos entrevistados, sendo o primeiro mencionado por 26% da população global e 27% da brasileira; e o segundo por 22% e 15%, respectivamente.

Serviços de saúde e vacinação

A Ipsos fez ainda outras perguntas relacionadas a temas de saúde. Enquanto 50% da população global afirma que a qualidade dos serviços de saúde é boa ou muito boa, apenas 29% dos brasileiros concordam com a afirmativa – o quinto país mais insatisfeito. Além disso, embora 19% dos entrevistados pelo mundo classifiquem a qualidade como ruim ou muito ruim, o percentual é de 31% no Brasil.

Em relação a custos, 80% concordam que muitas pessoas no país não conseguem sustentar os gastos com a saúde, enquanto 7% discordam. Ainda assim, 62% dos brasileiros acreditam que a qualidade irá melhorar nos próximos anos, e apenas 8% pensam que irá piorar.

Sobre equidade, 3 em cada 10 pessoas não concordam que o serviço de saúde braisileiro oferece o mesmo serviço a toda a população, e 67% acredita que o sistema está sobrecarregado. Os entrevistados também concordaram que o tempo para conseguir agendar uma consulta no país é muito longo.

A empresa também quis saber os maiores desafios para os sistemas de saúde na percepção das pessoas. Para a maioria da população mundial, assim como no Brasil (ambos por 42%), o mais citado foi o acesso a tratamentos / tempo de espera.

Porém, enquanto a burocracia foi apenas a quarta questão mais citada em âmbito global, por 25%, esse foi o segundo entrave mais mencionado pelos brasileiros, por 28%. Em seguida vieram o custo das terapias, por 25% dos entrevistados no Brasil, e a falta de profissionais, por 24%.

No momento em que o país e o mundo vivem quedas bruscas na cobertura de diversas vacinas, a Ipsos perguntou também se a imunização contra doenças infecciosas graves deveriam ser obrigatórias ou não. Em média, 6 a cada 10 pessoas no mundo afirmam que sim, enquanto apenas 2 dizem que não.

No Brasil, essa proporção chega a ser de 72% a favor da obrigatoriedade, enquanto apenas 13% são contrários. Em todos os países, a maioria foi favorável à vacinação compulsória, à exceção de Portugal, onde a proporção foi de 38% para 41%.

A empresa ouviu quase 24 mil pessoas dos seguintes países: África do Sul, Alemanha, Austrália, Argentina, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Holanda, Hungria, Índia, Indonésia, Irlanda, Itália, Japão, Malásia, México, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, Suécia, Suíça, Tailândia e Turquia.

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