Quatro pessoas tiveram morte confirmada por febre maculosa pelo Instituto Adolfo Lutz nesta semana. As vítimas apresentaram sintomas como febre alta, dores e manchas vermelhas pelo corpo. A doença, que tem índice de letalidade de 75%, já levou ao menos oito pessoas a óbito no Brasil em 2023.
As quatro vítimas que morreram nesta semana estiveram no mesmo evento, na Fazenda Santa Margarida, no Distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP), no dia 27 de maio. O local, que fica na região rural da cidade, é investigado por ser o ponto de infecção.
Nesta quinta-feira (15), uma adolescente de 16 anos que também esteve no local teve a morte confirmada por febre maculosa. Ela estava internada em um hospital da região e faleceu na noite dessa terça-feira (13).
Como contrai a febre maculosa?
A febre maculosa é uma doença transmitida pelo carrapato da espécie Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela, que carrega uma bactéria chamada Rickettsia rickettsii.
Esse carrapato não é o mesmo encontrado em cachorros. Ele geralmente se hospeda em animais de grande porte, como bois e cavalos, além de capivaras, gambás, aves domésticas e coelhos.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença não pode ser transmitida de uma pessoa para a outra.
"O homem entra em contato com o risco de aquisição de doença quando entra em alguns locais que têm esse carrapato que carreia essa bactéria. No Brasil, a maior parte dos casos de febre maculosa nos últimos anos foi em estados da região Sudeste, mas pode acontecer em outros locais", explica o médico infectologista Álvaro Costa, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI). "É uma doença que é pouco conhecida, mas pode ser potencialmente grave, especialmente nas formas que causam a coagulação dentro dos vasos de uma forma mais aguda."
Quais são os sintomas e o que fazer?
Os sintomas da febre maculosa tornam o diagnóstico difícil, já que podem ser confundidos com outras doenças, como a leptospirose e a dengue hemorrágica — o que aconteceu com a dentista Evelyn Karoline Santos, que, segundo o marido dela, recebeu o diagnóstico de dengue e foi orientada por médicos a repousar em casa. Dias depois, ela morreu.
Conforme o Ministério da Saúde, a doença começa de forma repentina com uma série de sintomas:
- Febre alta
- Dor no corpo
- Dor da cabeça
- Falta de apetite
- Desânimo
- Manchas vermelhas em todo o corpo que se assemelham a picadas de pulga, com pequenas hemorragias na pele. Elas aparecem inclusive na palma das mãos e planta dos pés — o que geralmente não é observado em outras doenças, como sarampo, rubéola e dengue hemorrágica.
Devido aos sintomas se parecerem com os de outras doenças, é necessário que o médico observe o histórico do paciente, avaliando a região onde ele esteve nos últimos dias.
Os sinais, segundo a pasta, levam em média de sete a 10 dias para se manifestar. Depois disso, o tratamento deve ser iniciado dentro de no máximo cinco dias, já que o risco de agravamento da doença se torna elevado e os medicamentos podem não reagir da forma esperada.
"A maioria dos casos é benigno, mas também pode evoluir para a forma mais grave da doença, onde a gente tem uma coagulação intravascular disseminada em alguns territórios nobres, causando um quadro muito grave", afirma o infectologista.
"É importante, quando se tiver esses sintomas e uma história de contato com carrapato, procurar o serviço de saúde, porque o diagnóstico não é muito simples, os testes sorológicos são complexos e os de biologia molecular estão começando", continua. "Existe tratamento para quem tem suspeita de febre maculosa e, na maior parte das vezes, não se espera o diagnóstico para entrar com o antibiótico para poder tratar essa bactéria."
Os antibióticos, porém, devem ser administrados por um médico, já que a automedicação pode adiar o aparecimento de sintomas e dificultar o diagnóstico da doença mais tarde.
Como evitar o contágio?
Caso a pessoa visite áreas rurais e possa ter contato com carrapatos ou animais que estejam infectados, algumas recomendações são necessárias:
- Usar roupas que não deixem a pele à mostra, o que dificulta que o carrapato consiga chegar até o corpo da pessoa;
- Usar roupas claras para conseguir avistar o carrapato, caso ele chegue a grudar nas vestimentas;
- Evitar caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos;
- O que causa a infecção da febre maculosa é a saliva do carrapato-estrela e, para que ele consiga transmitir a doença, é necessário ficar ao menos quatro horas fixado na pele do indivíduo. Dessa forma, é importante checar o corpo e as roupas a cada duas horas, em caso de trilha ou se estiver em uma área rural;
- Embora o carrapato-estrela não seja o mesmo encontrado em cachorros, esses animais também podem ser infectados, então é importante que os mesmos cuidados tomados com o ser humano também sejam passados para os bichos. Os cães, muitas vezes, não têm sintomas.
Já para quem mora em regiões rurais, os cachorros devem ser mantidos dentro de casa e a frequência de higiene dos animais, principalmente de cavalos, deve ser aumentada. Aparar o gramado — especialmente entre os meses de junho e novembro, quando a doença é mais comum —, deixando-o rente ao solo também se torna uma medida eficaz contra a infecção, já que os ovos ficarão expostos ao sol e não vão vingar.
Qual a forma correta de retirar um carrapato?
A recomendação do Ministério da Saúde é que o carrapato seja retirado com cuidado para não haver liberação de bactérias, que podem penetrar na pele por meio de pequenas lesões. As indicações são:
- Não esmagar o carrapato com a unha;
- Não forçar o carrapato a se soltar encostando agulha ou fósforo quente;
O estresse faz com que ele libere grande quantidade de saliva, aumentando as chances de transmissão da doença. O ideal é retirá-lo, preferencialmente com a ajuda de uma pinça, por meio de uma leve torção, para que ele solte sua boca da pele.
Existem, também, alguns repelentes que são eficientes contra mosquitos e carrapatos, com concentrações maiores de DEET (N-N-dietil-meta-toluamida).
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