Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Rondônia desenvolveram uma abordagem inovadora para identificar a hepatite D , também conhecida como hepatite Delta. O novo método de detecção utiliza uma técnica molecular que não apenas detecta a presença do vírus, mas também tem a capacidade de mensurar a quantidade de carga viral presente no corpo do paciente.
Inicialmente destinado a propósitos de pesquisa, a expectativa é que o modelo possa futuramente ser incorporado ao conjunto de exames oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A pesquisa que levou ao desenvolvimento do método molecular foi conduzida em parceria com três instituições do Acre: Fundhacre (Fundação Hospital Estadual do Acre), o Centro de Infectologia Charles Mérieux e a UFAC (Universidade Federal do Acre).
No total, 16 cientistas estiveram no esforço conjunto. Os resultados do trabalho foram documentados em um artigo científico publicado na semana passada na revista Scientific Reports, da Nature, uma publicação de referência internacional nas áreas de ciências naturais, psicologia, medicina e engenharia.
Sobre a doença
Assim como outras formas de hepatite viral, a hepatite D é uma infecção que afeta o fígado. Ela é transmitida pelo contato com fluidos corporais de um indivíduo infectado, como sangue, o que pode ocorrer através do compartilhamento de itens pessoais, transfusão de sangue, uso de seringas compartilhadas ou relações sexuais sem proteção.
Segundo informações do Ministério da Saúde, a doença se desenvolve quando alguém já está infectado com o vírus da hepatite B, pois o vírus da hepatite D requer um antígeno presente no vírus da hepatite B para se multiplicar.
A doença é endêmica na região amazônica e pode resultar em uma infecção hepática mais grave. De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram diagnosticados 4.259 casos de hepatite D no Brasil entre 2000 e 2021, dos quais 73,7% ocorreram na Região Norte. Mais da metade dos indivíduos infectados no país tinham idades entre 20 e 39 anos.
A forma crônica da doença tende a ser assintomática, mas a infecção também pode se manifestar de forma aguda, com sintomas como icterícia, vômitos, náuseas e desconforto. Em casos graves, pode ocorrer a evolução para hepatite fulminante, fibrose, cirrose ou até mesmo carcinoma hepatocelular, um tipo de câncer no fígado.
Embora não exista nenhuma vacina pecífica contra o vírus da hepatite D, a imunização contra a hepatite B desempenha um papel crucial na prevenção dessa condição.
A colaboração entre a Fiocruz Rondônia, a Fundhacre, o Centro de Infectologia Charles Mérieux e a UFAC, que resultou no desenvolvimento desse método molecular, teve início no ano passado e deverá avançar para um acordo de cooperação. As instituições planejam expandir seus estudos para incluir a avaliação e caracterização de outras enfermidades de importância médica na região amazônica.