Veto de Tarcísio a PL contra HPV preocupa em meio à alta da doença

“O governador perdeu a oportunidade de atuar sobre uma importante questão de saúde pública”, diz a deputada Marina Helou (Rede), uma das responsáveis pela PL

Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Vacina é oferecida pelo SUS, mas tem baixa adesão tanto no estado de São Paulo quanto no resto do país.





Na última semana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vetou integralmente um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa que pretendia ampliar a vacinação contra o HPV por meio da Política Estadual de Proteção e Combate contra o Vírus Papilomavírus Humano.

“Registro que a Secretaria da Saúde considerou prescindível a aprovação de projeto dessa natureza, tendo em vista a existência de políticas públicas vigentes e já em execução sobre o assunto, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde”, diz o comunicado do governador publicado no Diário Oficial.

As deputadas Marina Helou (Rede), Edna Macedo (Republicanos), Delegada Graciela (PL) e Patrícia Gama (PSDB) propuseram a lei com o objetivo de fomentar campanhas de vacinação e aumentar a cobertura dos tratamentos.

“Neste momento, gostaríamos que o Governo do Estado ampliasse a prevenção e o combate ao HPV. Ao optar pelo veto, o governador perdeu a oportunidade de atuar sobre uma importante questão de saúde pública com potencial de reduzir o número de casos de câncer de colo do útero", disse a deputada Marina Helou.

Apesar da decisão de Tarcísio, Marina acredita na possibilidade de reverter a situação: "Sabemos que derrubar um veto do governador na Assembleia não é um processo simples, mas existe a possibilidade”.

Números preocupantes

Um estudo divulgado neste mês pela revista científica The Lancet Global Health aponta que, no mundo, cerca de 30% dos homens com mais de 15 anos estão infectados pelo Papilomavírus Humano (HPV).

Segundo dados da OMS, surgem no Brasil, em média, 700 mil novos casos de infecção por HPV anualmente. O vírus atinge, em maioria, adultos jovens com idades entre 25 e 29 anos.

No estado de São Paulo, a cobertura vacinal para o HPV entre as meninas está em 78% para primeira dose e pouco menos de 60% para segunda dose. Para os meninos, a cobertura da primeira dose não chega a 60% e a segunda dose está abaixo de 40%. Os números revelam um quadro de baixa adesão, tendo em vista que o recomendado pela OMS é a adesão de ao menos 80% na segunda dose entre os dois grupos.

HPV e o risco de câncer

Apesar de a maior parte das infecções pelo vírus serem assintomáticas, alguns genótipos do vírus podem trazer sérios problemas à saúde.

Um dos tipos do vírus, o HPV-16, se configura como um tipo de alto risco por ser associado ao câncer dos órgãos genitais tanto em homens como em mulheres. Além disso, podem provocar mudanças nas células cervicais que levam à condições pré-cancerígenas.

“A nossa grande preocupação é o aumento desses casos de pacientes infectados, isso é um problema de saúde pública, o que aumenta, com certeza, o número de casos de câncer”, avalia a Profa. Dra. Margareth da Rocha Fernandes, membro Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e doutora em Cirurgia pela Universidade de São Paulo (USP).

Em homens, o vírus pode levar ao câncer de pênis, de ânus e também ao câncer de cabeça e pescoço. Já entre as mulheres, foi constatada a relação entre a presença do vírus e o desenvolvimento do câncer de colo de útero. Em 95% dos casos desse câncer, a paciente estava infectada com o HPV. 

“Com o aumento do HPV você aumenta a chance de ter  câncer de colo de útero, de ânus, de pênis e de garganta, [...] e isso acaba trazendo transtornos enormes. tanto no ponto de vista da saúde do paciente quanto para as pessoas que ele tem relacionamento”, aponta a doutora.

Prevenção

A melhor forma de se prevenir da infecção é aderindo à imunização e usando preservativo. A vacina passou a ser oferecida pelo SUS e protege contra quatro tipos do vírus, o HPV 16 e 18 (alto risco, com propensão ao câncer) e o HPV 6 e 11. A vacina contra o HPV é gratuita para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos.

“A vacina de HPV é usada na prevenção do câncer de colo do útero. [...] Para meninas e meninos de 9 a 14 anos, são 2 doses com intervalo de 6 meses, homens e mulheres de 15 a 45 anos é preconizado 3 doses com intervalo de 2 a 6 meses, e para imunossuprimidos entre 9 e 45 anos são 3 doses com intervalo de 2 a 6 meses”, diz a doutora Margareth.

A médica explica que a vacina também passou a ser ofertada para pessoas de 9 a 26 anos de idade com HIV: “Essa população foi incorporada como prioritária porque eles consideraram que as complicações decorrentes do HPV ocorrem com mais frequência em pacientes portadores de HIV e da síndrome de imunodeficiência adquirida”.

Quem já teve contato com o HPV deve se vacinar?

De acordo com a doutora, a vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo vírus é essencial. “[...] A partir daí você tem a perspectiva da vacinação de ampliar o tempo sem a manifestação do HPV e também diminuir um pouco a perspectiva dessas lesões crescerem, além de também diminuir as possibilidades de câncer”, completou a especialista.