O Brasil deve registrar 149% mais casos de dengue em 2024 do que no pior ano da série histórica, projetando 4,2 milhões de infectados, de acordo com projeções do Ministério da Saúde divulgadas na última sexta-feira (10). A secretária de Vigilância em Saúde da pasta, Ethel Maciel, expressou preocupação com a pressão adicional sobre os serviços de saúde, destacando que esse número nunca foi atingido antes.
Se confirmado, esse número não apenas tornará 2024 o ano com o maior número de diagnósticos da doença, mas também representará um aumento significativo de 2,5 vezes em relação ao recorde atual de 2015, com 1.658.816 casos, segundo dados do Ministério.
Especialistas atribuem esse aumento a uma combinação de fatores, incluindo a introdução de novas variantes do vírus no país e o impacto das mudanças climáticas, bem como a diminuição das medidas de combate ao mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
O professor Mauro Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que este ano há uma circulação mais intensa dos sorotipos 3 e 4 da dengue, o que afeta uma população mais vulnerável.
Kleber Luz, coordenador do comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, ressalta que a cocirculação desses sorotipos é uma situação inédita, o que aumenta o risco de infecções repetidas, pois um sorotipo não confere imunidade contra os outros.
As mudanças climáticas também desempenham um papel importante na disseminação do mosquito e no aumento da incidência da doença, com estados como Paraná e Santa Catarina, antes menos afetados, agora entre os mais atingidos pela dengue.
Apesar do aumento esperado de casos, Teixeira destaca que a dengue é uma doença cíclica e epidemias são esperadas a cada 3 a 4 anos. Ele prevê uma melhoria no próximo ano, mas ressalta que o país é vasto e as epidemias não afetam todas as regiões simultaneamente.
O início da campanha de vacinação contra a dengue, embora seja um passo positivo, terá impacto limitado no controle da doença no curto prazo. Com doses suficientes apenas para uma pequena parte da população e a necessidade de duas doses, especialistas alertam que o efeito protetor coletivo será mínimo e levará anos para ser observado.