Agência Brasil
"Não existe nível seguro de uso de hormônios sem o risco de desenvolver outras doenças", diz Roberto Ranzini, médico do esporte

Usar o 'suco' para melhorar o 'shape'. Essa é uma frase recorrente entre os frequentadores de academia e é falada em tom de brincadeira para se referir às substâncias anabolizantes. 

Quando a foto de Thor Batista, filho de Eike Batista, viralizou no começo da semana, o senso de humor dos simpatizantes da musculação para falar sobre o uso de hormônios sintéticos veio à tona. 

Thor, que tem 32 anos, apareceu em uma foto ao lado da esposa e do filho recém nascido. Sua aparência, no entanto, virou piada nas redes sociais, uma vez que os usuários atribuiram a aparência do empresário, considerada por eles excessivamente envelhecida, aos efeitos adversos do uso prolongado de anabolizantes. 

O primogênito de Eike Batista, que há alguns anos impressionava pelo tamanho dos músculos, já admitiu que fez uso desses tipos de substâncias na juventude, mas negou que elas tenham relação com a sua atual aparência. Hoje ele está bem mais magro e calvo. 

Aumento nas vendas

Apesar do tom de piada entre os admiradores do mundo fitness para falar do assunto, o tema é visto com preocupação pela comunidade médica. Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) para fins estéticos, para ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo.

De acordo com a Agência, em 2019, o número total de embalagens comercializadas de testosterona, cipionato de testosterona e undecilato de testosterona foi de 1.349.619, e aumentou para 1.957.658 embalagens em 2021.

Só no primeiro semestre de 2022, o dado mais recente, a venda foi de 1.424.186 embalagens, equivalente a 73% do total de 2021.

Uso tem riscos à saúde

Especialistas ouvidos pelo iG  são reticentes com a crescente fama dos anabolizantes dentro das academias e desaconselham o uso, tanto para homens quanto mulheres, entre aqueles com os níveis hormonais dentro dos parâmetros saudáveis. 

A endocrinologista Maria Fernanda Barca, doutora pela Faculdade de Medicina da USP, explica que a reposição hormonal feita dentro dos consultórios é recomendada somente para pacientes com sintomas relacionados à baixa produção de testosterona em homens, condição conhecida como hipogonadismo masculino. A especialista também pontua que os medicamentos usados para isso não são as mesmas substâncias sintéticas conhecidas entre os frequentadores de salas de musculação. 

"Estão justificando reposição hormonal para melhorar massa muscular, mas aplicar hormônio em si mesmo é extremamente arriscado porque eles agem em vários órgãos. Atingem rins, pulmões, sistema nervoso central. Fora a metabolização hepática, que sobrecarrega os rins", alerta Roberto Ranzini, médico do esporte formado pela USP e membro do corpo clínico do Hospital Albert Eintein.

O especialista é taxativo com relação a isso. "Não existe nível seguro de uso de hormônio, sem risco de desenvolver outras doenças."

Envelhecimento precoce

Embora haja um concenso entre os médicos a respeito dos riscos do uso prolongado dessas substâncias e o envelhecimento precoce seja um dos efeitos colaterais devido ao que Roberto classifica como "strss oxidativo muito elevado", os especialistas concordam que as características individuais de cada pessoa precisam ser levadas em consideração e que não é possível generalizar.

Eles também pontuam que os anabolizantes podem acelerar um processo que já estava pré-determinado pela genética. É o caso da calvice, por exemplo, e da perda de massa muscular. 

Além dos impactos na aparência na saúde de outros órgãos, Maria Fernanda conta que a interrupção das substâncias após o uso prolongado pode atrapalhar os planos de quem planeja ter filhos, devido ao impacto na fertilidade masculina. 



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