Carolina Arruda foi diagnosticada com neuralgia do trigêmeo
Reprodução: Arquivo pessoal
Carolina Arruda foi diagnosticada com neuralgia do trigêmeo

A estudante de Medicina Veterinária Carolina Arruda, de 27 anos, moradora de Bambuí, Minas Gerais, compartilha nas redes sociais como é conviver com a neuralgia do trigêmeo, conhecida como a doença da pior dor do mundo. O diagnóstico é raro e afeta cerca de 4,3 pessoas a cada 100 mil.

Após conviver com as dores diárias por quase 10 anos, a mineira decidiu que gostaria de passar pelo processo de eutanásia na Suíça , já que no Brasil a prática da morte voluntária é proibida.

Para conseguir o procedimento, Carolina abriu uma vaquinha online que já arrecadou 44 dos 150 mil reais necessários em apenas três dias.

Tudo começou aos 16 anos, quando Carolina sentiu uma dor de cabeça muito forte enquanto estava deitada no sofá da casa dos avós. Ela estava grávida de quatro meses na época e tinha acabado de se curar da dengue, portanto, achou que a dor seria uma sequela da infecção.

"Foi uma dor como eu nunca havia sentido antes. Eu gritava e chorava de dor. Minha família não entendeu nada daquela situação, até porque ela passou bem rápido", disse Carolina à BBC.

Segundo a estudante, a dor se parecia com choques elétricos no rosto e voltou a acontecer outras vezes após a primeira, de maneira espaçada. Depois de alguns meses, passou a ser frequente.

Depois de quatro anos convivendo com a agonia, Caroline foi diagnosticada com neuralgia do trigêmeo, que ocorre quando há uma disfunção do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade do rosto.

Após passar por diversas cirurgias, Carolina conta que os médicos não quiseram mais realizar operação nela, visto que os procedimentos não ajudavam na dor. 

"Em setembro de 2023, meu novo médico na época, o dr. Wellerson Sabat, quis tentar uma cirurgia com uma nova técnica de deposição de fenol em cima do gânglio do nervo trigêmeo. Ela é feita com a pessoa acordada, porque precisa observar o reflexo do olho. Senti tudo, e fiquei com uma sequela do lado direito do rosto, uma paralisia, que tende a voltar ao normal. Mas ainda assim continuei com a mesma dor", disse a estudante ao Globo.

Como foi a decisão pela eutanásia?

"Em novembro, tive uma crise muito forte que me levou a tentar suicídio. Meu marido me encontrou e me levou para o hospital. Eu acabei decidindo seguir o conselho da minha família e me internar numa clínica psiquiátrica para tratar a depressão que eu desenvolvi pela doença. Fiquei dois meses lá, mas a maior parte do tempo ficava no pronto-socorro pela neuralgia", conta Carolina.

"Durante a crise, temos vontade de acabar com ela de qualquer forma. Já tentei o suicídio duas vezes. Então comecei a buscar pela eutanásia. Eu sou da área de veterinária, então sempre vi o procedimento como um alívio digno para o sofrimento. Vejo isso nos animais, às vezes precisamos recorrer à eutanásia para que ele não fique apenas sobrevivendo à base de medicamentos. Comecei a internalizar isso desde muito nova e pensar na possibilidade de colocar um fim no meu sofrimento de forma digna", relata a estudante.


Custo para ir à Suíça

"Internamente e com minha família, já tomei essa decisão há uns anos. Mas decidi falar abertamente sobre há poucos meses. Nessa semana, abri a vaquinha despretensiosamente, sem saber se iria dar certo, já que o valor é alto", disse.

"Fiz a estimativa com base nas instituições que auxiliam o acesso na Suíça. É um processo muito longo e burocrático, inclui custos da viagem, de médicos, a eutanásia e a cremação. Quero ser transparente em relação ao dinheiro, mostrar tudo que estou fazendo", acrescentou Carolina.

Carolina diz ainda que recebeu muito apoio, mas também vários questionamentos, principalmente sobre religiões. Segundo a estudante, houve muita procura por religião e esperança, mas por ser uma doença que não tem cura, ela opta pela eutanásia e por se basear na ciência.

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