O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante audiência na Câmara dos Deputados em Brasília, em março de 2018
José Cruz/Agência Brasil
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante audiência na Câmara dos Deputados em Brasília, em março de 2018

Nesta quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência sanitária global devido ao aumento nos casos de Mpox , doença anteriormente conhecida como varíola dos macacos. Na África, o surto vem sendo impulsionado por uma cepa mais perigosa do vírus.

O alerta surge diante da crescente preocupação com a variante atual do vírus, que é até 10 vezes mais letal do que a cepa que causou o surto global em 2022. A República Democrática do Congo (RDC), onde a Mpox é endêmica, tem enfrentado um aumento alarmante de casos e mortes, mas a recente detecção do vírus em países vizinhos intensificou o medo de uma nova propagação global.

Celso Granato, infectologista da Clínica Felippe Mattoso, do Grupo Fleury, destacou ao jornal O GLOBO a gravidade da situação: "Estamos observando as mutações do vírus e seu impacto na versão que está circulando em 2024. O que observamos é que ele está se espalhando na África com uma taxa de mortalidade mais alta do que a versão de dois anos atrás".

A OMS detalhou que, neste ano, a RDC já registrou mais de 14 mil casos e 511 mortes devido à varíola. Em comparação, o surto global de 2022, que atingiu todos os continentes habitados, teve 85 mil casos e pouco mais de 120 óbitos. Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, observou que o número de casos em 2024 já iguala o total do ano passado, e que a doença se espalhou para novas províncias na RDC.

Além disso, em um período recente, foram identificados cerca de 50 casos confirmados e outros suspeitos em Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC Africa), o número de diagnósticos de Mpox na África subiu 160% em relação a 2023, que por sua vez já havia registrado um aumento de 60% em relação a 2022.

Jean Kaseya, diretor-geral do CDC Africa, mencionou que a organização pode declarar uma emergência de saúde pública no continente na próxima semana, o que facilitaria o acesso a recursos e ferramentas para enfrentar a epidemia. Pelo menos 16 países africanos estão atualmente afetados.

O vírus Mpox possui duas principais cepas: o Clado 1, associado à África Central, e o Clado 2, ligado à África Ocidental. O surto global de 2022 foi causado pelo Clado 2, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%, enquanto o Clado 1 é significativamente mais letal, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 10%. A cepa atual é uma nova ramificação do Clado 1, denominada Clado 1b.

A transmissão da varíola dos macacos ocorre através de contato físico com pessoas infectadas, materiais contaminados ou animais. O surto global de 2022 foi impulsionado pela transmissão sexual, e evidências recentes indicam que a nova cepa também está se propagando dessa maneira. Richard Hatchett, da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), alertou para o risco de uma disseminação global, comparando a situação à transmissão do HIV.

Os sintomas incluem febre, dores musculares, cansaço e erupções cutâneas que geralmente começam no rosto e se espalham pelo corpo. No caso de transmissão sexual, as lesões podem aparecer nas genitálias. O aparecimento dos sintomas pode levar de 6 a 13 dias após a exposição.

Em 2022, a OMS já havia declarado a doença como uma emergência de saúde pública de importância internacional. Com a atual escalada de casos, Tedros Adhanom convocou uma nova reunião para reestabelecer essa classificação.

A OMS também está incentivando os fabricantes a submeterem vacinas contra o vírus para aprovação de uso emergencial. Vacinas desenvolvidas para a varíola oferecem proteção contra a Mpox, e a aprovação rápida dessas vacinas pode acelerar o acesso, especialmente em países de baixa renda.

Atualmente, duas vacinas aprovadas por autoridades regulatórias internacionais e recomendadas pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS (SAGE) podem se beneficiar deste processo de autorização emergencial.

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