Por Sandra Teschner*
O vício em smartphones pode parecer inofensivo à primeira vista, mas seu impacto na saúde mental das gerações mais jovens é alarmante. O psicólogo espanhol Marc Massip, em entrevistas recentes, tem sido categórico ao afirmar que dar um celular a uma criança antes dos 16 anos é comparável a introduzi-la a uma substância viciante. Ele não está exagerando – o efeito dessas tecnologias no cérebro, com a constante liberação de dopamina, espelha os ciclos de dependência observados no uso de drogas.
Essa advertência adquire ainda mais peso quando analisamos os dados do World Happiness Report 2024 (publicado pela Gallup para a ONU), que, pela primeira vez, revela uma tendência inquietante: jovens em muitos países estão se sentindo mais infelizes do que as gerações anteriores. Essa descoberta é particularmente preocupante, dado que o envelhecimento costuma trazer desafios naturais, como a perda de autonomia, que afetam diretamente o bem-estar. No entanto, os números mostram que a revolução digital, em especial o uso excessivo de redes sociais, tem papel crucial na deterioração da saúde mental das novas gerações, transformando dispositivos em "drogas digitais".
Como chegamos a esse ponto? Mais importante, como podemos reverter esse quadro?
O psicólogo, especializado nos impactos da tecnologia, afirma que estamos criando uma geração dependente de smartphones e redes sociais, comparando a situação a uma forma de vício. Ele defende que crianças e adolescentes menores de 16 anos não deveriam ter acesso a esses dispositivos, pois o uso de smartphones aciona no cérebro os mesmos mecanismos de recompensa associados a substâncias químicas viciantes.
A dopamina, conhecida como o “hormônio do prazer”, é liberada com cada interação no smartphone, seja por uma notificação, um "like" ou uma mensagem. Essas pequenas doses de prazer imediato fomentam um comportamento compulsivo, levando à dependência digital. Com o tempo, essa busca incessante por gratificação instantânea prejudica as habilidades cognitivas, emocionais e sociais dos jovens, tornando-os menos capazes de se concentrar em tarefas prolongadas ou de interagir pessoalmente de forma significativa.
Além da dopamina, o uso excessivo de smartphones também eleva os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, especialmente quando os usuários se sentem pressionados a estar sempre conectados. Esse estado constante de alerta compromete o sono, aumenta a ansiedade e contribui para um profundo sentimento de desconexão emocional.
Os dados do World Happiness Report 2024 corroboram as preocupações de Massip. Pela primeira vez, o relatório sugere que os jovens estão se sentindo mais infelizes do que as gerações anteriores, uma inversão histórica que desperta reflexões sobre os efeitos psicológicos das tecnologias digitais. Embora existam múltiplos fatores que possam influenciar esse fenômeno, o uso exacerbado de smartphones e redes sociais claramente desempenha um papel central na deterioração do bem-estar mental das gerações mais novas.
O relatório destaca que a hiperconectividade, a exposição contínua a padrões irreais de vida nas redes sociais e a comparação social constante estão alimentando sentimentos de inadequação e solidão entre os jovens. A falsa sensação de conexão proporcionada pelas plataformas digitais frequentemente substitui interações humanas reais, gerando um paradoxo: quanto mais tempo os jovens passam online, mais solitários e desconectados se sentem.
Marc Massip propõe uma solução simples, mas eficaz: a “dieta digital”. Essa estratégia consiste em estabelecer limites claros para o uso de smartphones e criar momentos de desconexão intencional, como manter o celular fora do quarto durante a noite ou reservar partes do dia para atividades offline. O objetivo não é eliminar a tecnologia, mas utilizá-la de maneira consciente e equilibrada.
Educar crianças e adolescentes sobre os perigos do uso descontrolado da tecnologia é essencial para ajudá-los a desenvolver uma relação saudável com seus dispositivos. Massip também sugere que os pais liderem pelo exemplo, limitando seu próprio uso de smartphones e promovendo interações presenciais e atividades que estimulem o bem-estar, como exercícios físicos, leitura e convivência familiar.
Os alertas provenientes de diversas fontes confiáveis oferecem uma visão clara dos desafios contemporâneos associados ao uso excessivo de smartphones e redes sociais. Estabelecer limites para o uso da tecnologia, tanto para crianças quanto para adultos, tornou-se uma urgência para minimizar os danos à saúde mental e às interações sociais.
Embora a revolução digital tenha proporcionado inovações extraordinárias, é crucial que aprendamos a utilizá-la de forma equilibrada, priorizando o que realmente importa para nossa felicidade: conexões humanas genuínas, momentos de pausa e uma vida menos "dopaminada" pelas telas.
* Sandra Teschner é fundadora do Instituto Happiness do Brasil, administradora, especialista em Ciência da Felicidade, mestre em psicologia organizacional, atual como consultora na Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Autora de “ Felicidade se Aprende”, primeira obra composta por diversos Chief Happiness Officers do mundo. Empreendedora Social e intencionalmente, feliz.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG