Uma nova cepa de bactéria resistente a antibióticos está se espalhando rapidamente pela Ásia , representando uma ameaça crescente à saúde pública. Cientistas estão alertando para o risco de disseminação da Acinetobacter baumannii , particularmente a variante ST164, que mostra alta resistência ao carbapenem, um dos antibióticos de amplo espectro mais utilizados para tratar infecções graves.
O aumento da resistência bacteriana pode levar a uma nova era de "infecções pós-antibióticas", onde até mesmo as infecções mais simples se tornarão difíceis de tratar.
O estudo, realizado em colaboração entre as universidades de Birmingham, no Reino Unido, e Zhejiang, na China, identificou a cepa resistente em uma unidade de terapia intensiva (UTI) na cidade de Hangzhou, durante uma pesquisa sobre medidas de prevenção e controle dessa bactéria em 2021. O trabalho destaca a rápida propagação da variante ST164 desde meados de 2020, o que tem gerado crescente preocupação entre os especialistas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia classificado a Acinetobacter baumannii resistente a carbapenem (CRAB) como uma das maiores ameaças à saúde global, destacando a necessidade urgente de novos tratamentos para combater essa resistência. Em 2017, o CRAB foi colocado no topo da lista de microrganismos prioritários para os quais são necessários novos antibióticos.
A pesquisa revelou que, em 2021, 80,9% das amostras de A. baumannii estudadas eram resistentes ao carbapenem, com a variante ST164 representando 40,2% das amostras. Em comparação, em 2019, outra variante de CRAB, a GC2, dominava com 99,5% das amostras, mas sua prevalência caiu para 50,8% em 2021, sendo progressivamente substituída pela ST164. Esta nova cepa é especialmente preocupante, pois possui o dobro da resistência aos carbapenêmicos em relação à variante anterior.
Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), A. baumannii é capaz de causar uma série de infecções graves, como pneumonia, infecções do trato urinário, bacteremia e até meningite. Ela é particularmente adaptada a ambientes hospitalares, sendo comum em UTIs, casas de repouso e em pacientes com condições críticas, como aqueles em ventilação mecânica ou em recuperação de cirurgias. A bactéria também pode sobreviver por longos períodos em superfícies hospitalares e equipamentos médicos, representando um risco contínuo para os pacientes.
Alan McNally, coautor do estudo, alertou que a Acinetobacter baumannii resistente ao carbapenem representa um risco sério para pacientes hospitalizados, já que pode levar a infecções graves e, em casos extremos, à morte. “A bactéria pode causar doenças debilitantes e é altamente resistente a muitos dos antibióticos disponíveis, o que torna o tratamento complicado”, afirmou McNally.
Uma das características mais preocupantes da Acinetobacter baumannii é sua capacidade de infectar rapidamente os pacientes, podendo causar infecções em até 48 horas após a internação. Isso exige medidas rigorosas de controle dentro dos ambientes hospitalares, especialmente em unidades de terapia intensiva, onde o risco de infecção é mais elevado.
Enquanto os pesquisadores buscam alternativas para combater essa resistência, uma possível esperança surge com o novo antibiótico zosurabalpina, desenvolvido por uma parceria entre a Universidade de Harvard e a farmacêutica suíça Hoffmann-La Roche. No entanto, o medicamento ainda está em fase de testes, e sua disponibilidade para uso clínico pode levar mais tempo.
Diante desse cenário, cientistas pedem uma vigilância contínua e global sobre o desenvolvimento dessa cepa, bem como a urgência na criação de novos tratamentos.