A mortalidade por câncer está ultrapassando a ocasionada por doenças cardiovasculares em certas regiões do Brasil, marcando uma transição epidemiológica que já vinha sendo observada em países de alta renda. Com isso, o câncer já é a principal causa de morte em algumas partes do país. A informação foi revelada por um estudo recente publicado no The Lancet Regional Health.
Realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições, o estudo mostra que entre 2000 e 2019, a mortalidade por doenças cardiovasculares registrou uma queda em 25 estados, enquanto as taxas de mortalidade por câncer aumentaram em 15. Na lista, constam estados como Paraíba, Tocantins, Piauí e Maranhão.
Além disso, o estudo descobriu que 13% dos municípios brasileiros têm o câncer como a principal causa de morte na população atualmente. No início do século, esse índice era de 7%.
A pesquisa sugere que a transição é consequência da evolução do tratamento de doenças cardiovasculares, como campanhas antitabagismo, além do acesso amplificado a medicamentos e terapias que reduzem infartos e derrames.
No entanto, o câncer apresenta mais de 100 variações da doença, dificultando a prevenção e o tratamento, especialmente em regiões com menos acesso a centros especializados.
Câncer está diretamente relacionado aos hábitos diários, diz médico
O uro-oncologista André Berger destaca que os maus hábitos de vida têm uma forte correlação com o aumento dos diagnósticos de câncer. "Para entender quem tem maior probabilidade de desenvolver câncer no futuro, a má alimentação e obesidade também são contribuintes significativos para essas estatísticas", afirma o médico.
Ele explica que, ao contrário das doenças cardiovasculares, tratadas de forma menos invasiva e rápida, o câncer requer intervenções complexas e caras. Isso piora a situação nas regiões mais vulneráveis.
O estudo revela ainda a importância do acesso ao diagnóstico precoce, uma vez que o prognóstico de cânceres detectados em estágios avançados é muito pior.
"Pacientes que descobrem a doença em estágios iniciais têm melhores perspectivas de tratamento. Portanto, é fundamental estar preparado para diagnosticar e tratar essa população rapidamente, tanto nos sistemas de saúde públicos quanto privados", finaliza Berger.