Criança comendo doce - 17/01/2025
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Criança comendo doce - 17/01/2025

Recentemente, a F ood and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos – parecida com a Anvisa no Brasil –   anunciou a proibição do uso do corante Red No. 3 (eritrosina) em alimentos e medicamentos devido à sua associação com o desenvolvimento de câncer em estudos realizados com animais.

O produto é muito utilizado na composição de alimentos que consumimos semanalmente. Se nos EUA houve a proibição, no Brasil, o uso do mesmo corante é permitido. Com a repercussão da  proibição, muitas pessoas questionaram sobre os riscos de consumir o produto e dúvidas sobre quais produtos ele está presente na composição.

Produtos que contêm o corante vermelho nº 3

O Red No. 3, também conhecido como eritrosina, é amplamente utilizado em uma variedade de produtos, incluindo:

- Doces, como balas de milho, pirulitos, jujubas e colares de doces;

- "Carnes" veganas, como bacon e salsichas artificiais;

- Coberturas, especialmente glacês vermelhos ou cor-de-rosa;

- Salsichas e cachorros-quentes;

- Algodão-doce;

- Cereais;

- Biscoitos, bolos e cupcakes, incluindo produtos de red velvet e bolos "funfetti";

- Granulados coloridos;

- Leites, bebidas e shakes nutricionais com sabor de morango;

- Chicletes;

- Vitaminas gomosas;

- Misturas para purê de batatas;

- Certos medicamentos.

Nos EUA, os fabricantes de medicamentos que usam o corante têm até 18 de janeiro de 2028 para reformular seus produtos. Já os fabricantes de alimentos precisam entrar dentro da regulamentação até o dia 15 de janeiro de 2027.

Especialista explica

Éric Diego Barioni, biomédico, mestre e doutor em ciências/toxicologia, e pesquisador na Universidade de Sorocaba (Uniso), explica que a proibição do Red No. 3 nos EUA está em conformidade com a cláusula Delaney, uma legislação de 1958 que proíbe agentes cancerígenos em alimentos e medicamentos.

"A proibição atende à cláusula Delaney, que faz parte das leis de alimentos, medicamentos e cosméticos dos Estados Unidos desde que foi promulgada pelo Congresso em 1958. Segundo a cláusula, nenhum agente causador de câncer em humanos ou animais deve ser adicionado ou encontrado em alimentos e medicamentos," afirma Barioni.

O biomédico ressalta que “ainda que a FDA esteja encarregada de fazer cumprir essa cláusula, somente agora em 2025 - 35 anos depois da proibição do corante vermelho 3 (eritrosina) em cosméticos e medicamentos tópicos (a proibição ocorreu em 1990) – tal proibição alcançou os alimentos e medicamentos ingeridos”, ressalta.

A medida busca, portanto, proteger grupos vulneráveis, como crianças e idosos. O consumo de eritrosina é um provável fator de risco e tem sido associado a outras alterações em humanos. 

“A literatura científica indica que o corante vermelho 3 está associado a casos de câncer em ratos. Apesar disso, ainda que o câncer enquanto doença seja multifatorial e os casos em ratos não tenham sido reportados em humanos, o consumo de eritrosina é um provável fator de risco e tem sido associado a outras alterações em humanos. A proibição resulta de um dispositivo de segurança que é a cláusula que visa proteger a população [...]  e que deve ser atendida na íntegra”, explica Barioni.

Riscos à saúde

Barioni destaca que o Red No. 3 pode estar ligado ao transtorno de hiperatividade e déficit de atenção (TDAH) em pessoas mais sensíveis, além de reações alérgicas e outros problemas de saúde. Estudos em animais sugerem alterações comportamentais e casos de câncer.

"Não especificamente o corante vermelho 3, mas, de maneira geral, os corantes artificiais de alimentos parecem ter relação com o desenvolvimento do do transtorno de hiperatividade e déficit de atenção (TDAH) em pessoas mais sensíveis e intolerantes a essas substâncias," explica.

Segundo o biomédico, estudos em animais também demonstram alterações de comportamento, além de evidenciar os casos de câncer em ratos. Novamente em humanos, esses corantes podem induzir reações alérgicas em pessoas mais sensíveis, entre outros problemas.

Barioni também destaca que a indústria já conta com substitutos naturais e sintéticos. No entanto, ele ressalta a ausência de uma proibição similar para o Red No. 40, apesar das associações com problemas comportamentais em crianças.

"O critério inicial está na cláusula de Delaney. Assim, ainda que a literatura científica associe o Red 40 a certos tipos de tumores, a FDA até o presente momento não considerou proibi-lo," comenta.

O vermelho allura AC, ou vermelho 40, é um corante artificial derivado do petróleo, reconhecido como um dos nove aditivos de cor certificados pela FDA para uso em alimentos e bebidas, conforme informações da ABC News.

Durante sua fabricação, o corante é combinado com alumínio para formar o Red 40 Lake, que é resistente à dissolução em água, evitando que as cores vazem em produtos como goma de mascar. A FDA inspeciona cada lote para garantir a pureza e ausência de contaminantes. De acordo com o banco de dados do Departamento de Agricultura dos EUA, também citado pela ABC News, o vermelho 40 é o corante mais utilizado, presente em mais de 36.000 produtos alimentícios.

O papel da educação na saúde

Barioni enfatiza a importância da conscientização sobre os riscos dos corantes artificiais e o impacto de uma dieta rica em alimentos ultraprocessados. Ele aponta a necessidade de ações educativas contínuas para promover uma alimentação mais saudável e natural.

"A conscientização, entretanto, deve vir e ser fruto de práticas e ações contínuas de educação em saúde promovidas à luz da garantia de acesso e de uma alimentação natural e mais saudável, efetivamente. Os governos e as instituições ligadas à educação, saúde e comunicação devem explorar esse tema," finaliza.

** Formado em Jornalismo pela Universidade de Sorocaba e Técnico de Locução de Rádio pelo Senac. Gosta de contar boas histórias e de conhecer novas pessoas. Amante de esportes, também gosta de pets, animes e de uma boa conversa.

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