
As dores na coluna afetam milhões de brasileiros e, por muitos anos, a cirurgia foi vista como o único caminho para casos crônicos e mais graves. No entanto, os avanços tecnológicos na medicina têm transformado essa realidade, proporcionando aos pacientes alternativas menos invasivas e arriscadas e o melhor: com recuperação mais rápida.
Técnicas envolvendo radiofrequência, estimulação elétrica transcutânea (TENS), moduladores de canais iônicos e até o uso de anticorpos monoclonais já são realidade no Brasil e ganham cada vez mais espaço no tratamento das doenças da coluna vertebral.

Daniel Oliveira - Ortopedista
O médico ortopedista Daniel Oliveira, especialista em coluna e diretor do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte, destaca a evolução das técnicas para casos comuns como a hérnia de disco lombar. "Entre as mais indicadas, destaca-se a endoscopia da coluna, que permite a remoção precisa do material herniado por meio de pequenas incisões, e a nucleoplastia por radiofrequência, que reduz a pressão intradiscal através da ablação (procedimento médico que destrói ou remove um tecido ou órgão) térmica controlada", explica.
Entre as tecnologias mais utilizadas, a radiofrequência se destaca pelo papel na modulação dos sinais de dor enviados ao cérebro. "Ela é indicada principalmente para dor crônica de origem facetária e casos refratários ao tratamento convencional", acrescenta Daniel.
Outra técnica bastante difundida, a TENS, embora segura, exige atenção. "Pacientes com marcapassos, gestantes e pessoas com doenças neurológicas descompensadas devem evitar o uso", alerta o ortopedista. Apesar das restrições, ele reforça que os avanços mais recentes da ortopedia também passam pelos anticorpos monoclonais. "Eles bloqueiam mediadores inflamatórios como o TNF-alfa, proporcionando alívio para doenças como espondiloartrites e artrite psoriática", afirma.

O neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, reforça que os resultados das terapias minimamente invasivas podem ser duradouros, especialmente se combinados com hábitos saudáveis. "Para resultados duradouros, é essencial combinar o procedimento com mudanças no estilo de vida, como fortalecimento muscular, perda de peso e correção postural. Já técnicas mais avançadas, como a neuromodulação por neuroestimulador medular, podem oferecer um controle mais prolongado e efetivo em casos de dores crônicas neuropáticas difíceis de tratar, melhorando significativamente a qualidade de vida do paciente", explica.

Felipe Mendes - Neurocirurgião
Felipe também destaca os riscos quando as técnicas são usadas de maneira inadequada, pois podem ocorrer lesões nervosas e agravamento da dor. Por isso, é fundamental que os procedimentos sejam realizados por profissionais experientes e com o suporte de exames de imagem avançados.
O neurocirurgião vê um futuro promissor na área. "A neurocirurgia da coluna será cada vez mais personalizada, combinando abordagens minimamente invasivas e métodos não invasivos para oferecer tratamentos eficazes, seguros e confortáveis ao paciente, colocando sempre o paciente no centro das decisões", projeta.
Segundo Felipe, muitas dessas técnicas já conseguem adiar ou até evitar procedimentos como artrodeses e descompressões. "Entretanto, em condições estruturais progressivas, como estenoses severas do canal vertebral ou instabilidades significativas da coluna, procedimentos cirúrgicos tradicionais ainda são frequentemente necessários", pondera. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, conforme ele explica, adota protocolos rigorosos para garantir a segurança e eficácia das técnicas, sempre baseadas em evidências científicas.
O neurocirurgião João Vitor Lima, especialista em coluna vertebral, ressalta o uso da radiofrequência como alternativa à cirurgia. "A radiofrequência tem sido utilizada como uma alternativa em casos bem selecionados, principalmente para controle da dor em pacientes com patologias como dor facetária crônica e sacroileíte.", avalia.


João Lima - Neurocirurgião
João Vitor também vê potencial nos moduladores de canais iônicos, indicados para dores neuropáticas refratárias. De acordo com o médico, o Brasil já possui essa tecnologia, embora o acesso ainda seja limitado. Ele ainda destaca o uso crescente dos anticorpos monoclonais no combate à dor crônica. "Eles ajudam a reduzir a dependência de opioides, mas ainda enfrentam barreiras como custo e regulamentação", explica.
Na visão do especialista, o momento ideal para indicar uma técnica menos invasiva é após a falha do tratamento conservador e se a cirurgia puder ser evitada sem prejuízo para o paciente. "A TENS, por exemplo, tem efeito limitado para dores neuropáticas graves, mas pode ser uma boa terapia de apoio", conclui João Vitor.
Os especialistas são unânimes: o avanço das tecnologias traz um horizonte mais promissor e menos invasivo para quem sofre com dores na coluna. Com a escolha certa, é possível viver com mais qualidade e menos dor, sem necessariamente passar por uma cirurgia.
Mas, apesar de tantos avanços, ainda há casos em que a cirurgia é inevitável. "Se houver déficits neurológicos progressivos, síndrome da cauda equina ou falha no tratamento conservador, a intervenção cirúrgica continua sendo necessária", conclui Daniel Oliveira, do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte.