Um estudo realizado pelo Instituto Butantan concluiu que a picada de formigas pode causar coceira porque algumas espécies são venenosas. Segundo a pesquisa, apesar das substâncias variarem conforme a espécie, em geral, elas não oferecem grandes riscos à saúde humana - exceto para os alérgicos.
No entanto, o cenário muda no reino animal: algumas formigas têm mecanismos de defesa tão eficientes que podem ejetar substâncias capazes de paralisar e debilitar seus predadores.
A pesquisa do Butantan informa que há mais de 13 mil espécies de formigas catalogadas em todo mundo, sendo 2 mil nativas do Brasil. Alguns tipos do inseto têm toxinas utilizadas na defesa contra predadores primários e no controle de pragas que ameaçam as colônias.
Na maioria das espécies, o veneno é inoculado por um ferrão parecido com uma agulha, localizado na parte posterior do corpo da formiga. Quando injetados na pele, podem causar pequenas reações alérgicas, como a coceira.
Já aquelas que não têm ferrão se protegem a partir da liberação de ácido fórmico, comumente produzido pelos insetos para proteger a prole e os ovos, cujo cheiro é capaz de irritar os predadores. Essa substância, se liberada em abundância, também pode causar irritações severas na pele.
"O veneno não tem a ver com a gente", diz pesquisadora
Adriana Rios Lopes, diretora do Laboratório de Bioquímica do Instituto Butantan, explica que a incapacidade das formigas de causar danos graves à saúde humana não reflete sua toxicidade. "Pensamos muito em venenos como aquilo que causa efeito negativo em humanos. Às vezes, a formiga até injeta o veneno, mas você não sente porque não tem quantidade suficiente para irritar", afirma.
Ainda, destaca que as toxinas evoluíram para predadores diretos, com efeitos em humanos sendo um subproduto dessa adaptação. "Óbvio que algumas coisas perduraram e nos afetam, como é o caso das irritações, mas o veneno não necessariamente tem a ver com a gente", explica a pesquisadora.
Exemplos de formigas venenosas
As formigas-de-fogo ( Solenopsis saevissima ) são extremamente agressivas e suas picadas dolorosas podem prejudicar ambientes urbanos e lavouras. Elas têm um veneno rico em alcaloides, com potencial para uso em inseticidas e antibióticos.
Já a formiga-bala (Paraponera clavata), com uma picada que chega ao nível 4+ na escala de dor de Schmidt, injeta uma neurotoxina chamada poneratoxina, que provoca dor intensa e outros sintomas. Além do seu uso ecológico, a formiga-bala também é usada em rituais de passagem indígenas no Amazonas.