Microplástico podem causar efeito no meio ambiente
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Microplástico podem causar efeito no meio ambiente

Um estudo apresentado nesta semana revelou que a goma de mascar libera centenas de microplásticos diretamente na boca, embora os cientistas ainda não saibam os impactos dessa exposição na saúde.

A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles(UCLA) e apresentada na Sociedade Americana de Química, analisou a saliva de uma estudante de doutorado após mastigar chicletes de dez marcas diferentes. Os resultados indicaram que um único grama de goma de mascar pode liberar, em média, 100 microplásticos, podendo chegar a mais de 600 em algumas marcas.

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Como um chiclete pesa cerca de 1,5 grama, uma pessoa que consome 180 unidades por ano pode ingerir até 30 mil micropartículas plásticas.

Além do chiclete, diariamente, as pessoas ingerem, inalam ou entram em contato com microplástico — partículas com menos de cinco milímetros –, já detectadas no ar, na água, nos alimentos e até em cosméticos. Esses fragmentos foram encontrados em diversas partes do corpo humano, como pulmões, rins, sangue e até no cérebro, o que gera preocupação entre especialistas.

Em entrevista ao iG, Dra. Maria Izabel Chiamolera, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo, explica que os microplásticos podem “invadir” o corpo humano de várias formas.

“A principal maneira do microplástico entrar no organismo humano é a ingestão, mas também pode ser através de inalação e de contato com a pele. Hoje em dia já foram detectados microplásticos em vários alimentos. Recentemente, uma pesquisa mostrou a presença de microplástico até nas plantações. O microplástico pode ser transmitido através dos pacotes de alimentos e das embalagens de alimentos plásticos para os próprios alimentos e também para a água que a gente ingere e para o sal de cozinha”, relata.

Onde o microplástico surge?

Microplástico foi localizado no celebro humano
Brasil Escola/Reprodução
Microplástico foi localizado no celebro humano
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O professor da Universidade Federal Fluminense( UFF), Dr. Abilio Soares Gomes, explica, em entrevista ao iG, que a substância pode ser classificada em dois tipos: primária e secundária.

“O primário é o MP produzido com essa dimensão (5 mm), sendo utilizado de diversas formas, como, por exemplo, incorporados em pastas de dentes e produtos cosméticos esfoliantes. Já o secundário se origina através da fragmentação do plástico macroscópico. A fragmentação se dá através de vários processos, podendo ocorrer na natureza, onde o plástico está presente devido aos seus usos ou pelo descarte inapropriado, ou ser originado ainda no próprio produto plástico devido a diversos processos, como a abrasão ou reação com produtos contidos nos recipientes plásticos, como garrafas, filmes plásticos etc”, relata.

O professor comenta que o microplástico pode ser prejudicial para diversos organismos e poluentes para diversos seres vivos.

“Como o MP é um vetor de organismos patogênicos, como vírus e bactérias, pode ser a causa de doenças infecciosas. No caso dos poluentes presentes, os seres vivos, incluindo os seres humanos, podem se contaminar pela exposição contínua aos microplásticos. Essa contaminação pode levar à bioacumulação de poluentes e causar doenças distintas. Como exemplo, os MP podem conter os chamados Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). Dentre diversas patologias, os POPs estão relacionados às doenças endócrinas”, alerta Gomes.

Dra. Chiamolera explica que, uma vez que essas substâncias entram no corpo, podem infectar diversas partes do organismo humano.

“Já foram detectados microplásticos no trato gastrointestinal, no sistema respiratório e, aparentemente, também no sistema reprodutivo. Alguns estudos mostram no líquido amniótico, que é o líquido que fica dentro do útero da mulher grávida, e na placenta”, ressalta a médica.

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Os perigos no corpo humano

Apesar dos estudos com a quantidade de microplásticos no chiclete, o professor Gomes comenta que há muitos outros alimentos para se preocupar, além do doce.

“Os alimentos e outros itens de consumo humano embalados em material plástico estão sujeitos à contaminação por MP. Desse modo, não é nenhuma surpresa estar presente nesse item de consumo. Infelizmente, itens essenciais de nossa alimentação, como o leite e outros produtos lácteos, podem também conter MP. Se fosse somente o chiclete teríamos um não-problema visto ser possível e desejável evitar seu consumo”, explica.

Dra. Chiamolera explica que ainda não se sabe ao certo o quanto os microplásticos podem trazer riscos ao corpo humano. Ela relata que há indícios de presença das substâncias em diversos órgãos, e que isso pode estar correlacionado com várias alterações de órgãos.

“Uma das questões mais estudadas são alterações inflamatórias. Então, se acha que, por exemplo, pode estar impregnado lá no trato intestinal e provocar inflamação, pode a mesma coisa acontecer no trato reprodutivo, na placenta. Então, hoje em dia, o que tem se tentado estudar é a presença desses elementos no nosso organismo, ver qual correlação que eles podem ter com o aumento de algumas doenças”, explica.

Especialistas preocupados

A descoberta de microplásticos no cérebro humano tem gerado preocupação entre especialistas. Segundo a endocrinologista, a presença dessas micropartículas no cérebro é alarmante, pois esse órgão possui um forte sistema de proteção contra substâncias externas. Outro ponto de atenção são as alterações que podem acontecer no organismo.

“É preocupante, principalmente, porque a gente ainda não tem muita certeza do que está acontecendo, do que pode ser consequência. A maior parte dessas alterações muitas vezes não tem uma consequência de deixar a pessoa doente imediatamente ou muito doente. Em geral, ela pode alterar alguma coisa do organismo que a longo prazo pode ser um problema, como por exemplo no intestino”, alerta Dra. Chiamolera.

Além do impacto mecânico da presença dos microplásticos nos tecidos, os pesquisadores também analisam se essas partículas podem liberar substâncias químicas prejudiciais ao organismo, como bisfenol-A e ftalatos. Esses compostos são considerados desreguladores endócrinos, pois interferem no funcionamento do sistema hormonal humano.

"Os desreguladores endócrinos são substâncias químicas que afetam o sistema endócrino de alguma maneira. Esse sistema é composto pelas glândulas e pelos hormônios. Então, glândula tireoide, o pâncreas que produz insulina, a supra-renal que produz cortisol, os ovários que produzem os hormônios femininos, os testículos que produzem os hormônios masculinos. E esses hormônios vão agir no organismo inteiro", explica a especialista.

“Se tem alguma coisa que altera isso, você causa um desequilíbrio global no organismo, em diversas situações metabólicas. Os microplásticos podem tanto ter esse efeito de estar presente naquele tecido causando uma inflamação local como liberar essas substâncias – isso é o que está sendo estudado para ver se realmente acontece – e que essas substâncias já têm alguns efeitos conhecidos no organismo”, completa.

Estudos indicam que os microplásticos podem impactar a microbiota intestinal, que desempenha um papel essencial na digestão e em processos metabólicos.

"O microplástico tem evidências de que altera uma coisa que a gente chama microbiota, que é a quantidade de bactérias que a gente tem no nosso intestino. A gente precisa ter essas bactérias para o intestino funcionar direito. E não só, hoje em dia a gente considera que essa microbiota é importante para várias regulações metabólicas. Se ele altera isso a longo prazo, pode ser um problema", destaca a endocrinologista.

Outro ponto preocupante é o efeito desses compostos na reprodução humana. A Dra. Maria Izabel explica que a exposição a essas substâncias pode afetar não apenas a pessoa exposta, mas também as gerações futuras.

"A mulher gestante, por exemplo, que é exposta a essa substância, pode ser que o problema não aconteça com ela, mas com o bebê que nasce. E, às vezes, vai acontecer só na vida adulta desse bebê", alerta.

Porém, a médica ressalta que efeitos hereditários por conta do microplástico ainda não foram comprovados.

Dra. Chiamolera comenta que, atualmente, é muito difícil se livrar dos microplásticos pelo uso em nossa sociedade, mas dá uma dica para tentar diminuir o consumo.

"Hoje em dia é muito difícil, porque o mundo está infestado de plásticos por tudo quanto é lugar, e os microplásticos são derivados desse nosso lixo plástico, mas eu já acho que algumas ações, como evitar plásticos de uso único, principalmente, já podem surtir algum efeito e a gente tentar reduzir um pouquinho a nossa exposição a esses plásticos ”, finaliza.


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