
No último domingo (13), o ex-presidente Jair Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal . A operação demorou 12 horas e terminou bem, mas o ex-mandatário terá uma recuperação "complicada e prolongada", conforme informado pela equipe médica em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (14).
O chefe da equipe cirúrgica, Cláudio Birolini, disse que Bolsonaro apresentava "um abdômen hostil, várias cirurgias prévias e uma parede abdominal bastante prejudicada". De acordo com o médico, as complicações são decorrentes do atentado a faca que o ex-presidente sofreu durante a campanha eleitoral de 2018.
Mas, afinal, o que é a reconstrução do trânsito intestinal e quais são os motivos para ser considerada uma cirurgia arriscada? O Portal iG conversou com o cirurgião digestivo Dr. Rodrigo Barbosa, cirurgião digestivo sub-especializado em cirurgia bariátrica e coloproctologia do corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês e Nove de Julho , para compreender o quadro do ex-presidente.
O que é a reconstrução do trânsito intestinal?
De acordo com o Dr. Barbosa, a reconstrução do trânsito intestinal é uma cirurgia que restabelece a continuidade do intestino, "permitindo que as fezes voltem a ser eliminadas pelo ânus".
"É indicada principalmente após colostomias temporárias, realizadas em casos de câncer colorretal, doença de Crohn, diverticulite, traumas abdominais ou infecções graves", diz.
Segundo o cirurgião, a operação pode ser realizada com diferentes técnicas, que devem ser escolhidas a partir do histórico do paciente e o estado atual do intestino. As mais comuns são:
- Anastomose colorretal – reconexão do cólon ao reto;
- Anastomose coloanal – reconexão do cólon diretamente ao canal anal;
- Exteriorização do reto com anastomose – usada quando o reto foi removido, mas ainda é possível eliminar fezes pelo ânus.
Quais os riscos?
Segundo o cirurgião, os riscos incluem infecção, deiscência da ferida operatória, formação de fístulas, abscessos, íleo paralítico e complicações respiratórias ou urinárias.
Ele também salienta que há dados que indicam grande probabilidade de intercorrências ao longo da recuperação.

Dr. Rodrigo Barbosa, Cirurgião Digestivo sub-especializado em Cirurgia Bariátrica e Coloproctologia do corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês e Nove de Julho.
"Estudos indicam que até 54% dos pacientes podem apresentar complicações clínicas, e 11,4% podem desenvolver infecções no local cirúrgico. Complicações podem surgir mesmo após a alta hospitalar, exigindo acompanhamento médico contínuo", diz.
Como é a recuperação?
A internação pode variar de 3 a 10 dias. Depois disso, o paciente vai para a casa com uma dieta líquida, que se adapta conforme à tolerância e ao tratamento. Além disso, em muitos casos, é recomendada a fisioterapia para manter a massa magra, sobretudo na região abdominal, e regularizar a função intestinal.
"Embora muitos pacientes retomem suas atividades normais, alguns podem enfrentar alterações nos hábitos intestinais, como diarreia ou incontinência, especialmente se o reto foi removido. O acompanhamento médico é essencial para ajustar o tratamento conforme necessário", afirma o cirurgião.
Última cirurgia?
Segundo os médicos que acompanharam Bolsonaro, essa deve ter sido sua última intervenção cirúrgica. No entanto, Dr. Barbosa diz que não é possível definir isso com tanta certeza.
"A possibilidade de novas intervenções não pode ser completamente descartada. Pacientes com histórico de múltiplas cirurgias abdominais, como Bolsonaro, têm maior risco de desenvolver novas aderências e complicações", diz.
O que aconteceu com Bolsonaro?
Bolsonaro foi internado na sexta (11), após passar mal em um evento do Partido Liberal no interior do Rio Grande do Norte. Na ocasião, ele relatou fortes dores abdominais. Ele foi levado para Brasília no dia seguinte, quando exames laboratoriais e de imagem que evidenciaram a “persistência” de uma sub obstrução intestinal e a necessidade de intervenção cirúrgica.
No momento, ele está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), e segue sem previsão de alta.