
A chegada do outono, como de costume, traz consigo o aumento na circulação de vírus respiratórios no país e dos casos de gripe. Em 2025, o Brasil já notificou mais de 36 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e, destes, 41% tiveram resultado positivo para vírus respiratórios, conforme o boletim mais recente do InfoGripe, da Fiocruz.
Com esse aumento de casos e internações por SRAG no país, surge uma dúvida comum: afinal, quando uma gripe pode evoluir para algo mais sério? O Portal iG entrevistou o médico infectologista Igor Thiago Queiroz, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, para responder essa pergunta e compreender os riscos associados aos vírus respiratórios.
Afinal, o que é o vírus da gripe? É o mesmo que um resfriado?
O informe do ministério da Saúde aponta que entre os principais agentes identificados estão o vírus sincicial respiratório (VSR), o rinovírus, a influenza A e o Sars-CoV-2. Houve também a notificação de 2.330 óbitos por SRAG, com quase metade deles associados a algum vírus respiratório, como a Covid-19, a influenza A e o rinovírus. Segundo o Dr. Queiroz, o vírus da gripe (Influenza A) é transmitido por vias respiratórias.
"É um vírus que tem maior incidência de sintomas respiratórios e, por isso, se espalha com mais facilidade quando as pessoas estão mais próximas umas das outras, como acontece no outono, quando há queda de temperatura no Sul e aumento das chuvas em outras regiões, como o Nordeste", explica o especialista.
De acordo com o médico, os principais sintomas da gripe incluem febre, cansaço, dor de garganta, tosse seca, coriza, espirros, dores no corpo e na cabeça.

Igor Thiago Queiroz - Infectologista e Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia
São sinais muito parecidos com os de um resfriado, por exemplo, mas o que diferencia o quadro de uma gripe é que ela costuma ser mais intensa.
"A tosse, por exemplo, tende a ser mais forte e acompanhada de dor torácica. Isso porque a gripe é causada pelo vírus influenza, enquanto o resfriado está relacionado a outros vírus, como rinovírus e adenovírus", explica.
Devido à semelhança entre os sintomas, o tratamento inicial costuma ser o mesmo: uso de medicamentos sintomáticos, como antitérmicos, analgésicos, descongestionantes e antialérgicos.
"Mas, quando há confirmação laboratorial de gripe, é possível indicar o uso do Oseltamivir, conhecido como Tamiflu, que atua diretamente contra o vírus da influenza", diz o especialista.
A gripe pode evoluir para quadros mais graves?
De acordo com o Dr. Queiroz, sim. Geralmente, a gripe causa sintomas leves e localizados apenas nas vias respiratórias superiores. A preocupação aumenta quando o vírus atinge os pulmões, e o paciente passa a apresentar tosse intensa, dor no peito, dificuldade para respirar e até insuficiência respiratória.
Segundo o infectologista, alguns grupos têm maior risco de complicações. "Pessoas com imunidade comprometida, com doenças prévias no pulmão ou no coração, como pneumopatas e cardiopatas, além de gestantes, imunossuprimidos, idosos e crianças, estão mais suscetíveis a desenvolver formas graves da gripe", alerta.
Seja dentro ou fora do grupo de risco, a recomendação é ficar atento à progressão dos sintomas. "Quando a gripe deixa de ser apenas uma febre com tosse e passa a causar falta de ar, febre alta persistente, dor torácica e queda da saturação de oxigênio, é sinal de que o quadro pode ter se agravado", diz o especialista, que reforça a importância de procurar atendimento médico.
Importância da vacina

A principal forma de prevenir a gripe e evitar complicações é por meio da vacina anual, diz o infectologista. Ele explica que o vírus influenza sofre mutações frequentes, apesar de manter os mesmos subtipos principais (H1N1 e H3N2). Com isso, a eficácia da imunidade adquirida nas vacinas anteriores pode ser reduzida com o passar dos anos.
Queiroz reforça a recomendação de se vacinar todos os anos, principalmente antes do início sazonal da doença. "A vacina é justamente para prevenir a infecção e, consequentemente, o adoecimento, inclusive em pessoas saudáveis", diz.
Em 2025, a campanha nacional de vacinação contra a gripe começou no dia 7 de abril. Pela primeira vez, o imunizante está disponível de forma permanente nas unidades básicas de saúde, ou seja, os grupos prioritários poderão se vacinar o ano inteiro, sem depender apenas das campanhas sazonais.
Um comunicado do Ministério da Saúde informou a meta é vacinar 90% do público prioritário, que inclui idosos, crianças pequenas, gestantes e pessoas com comorbidades.
O que fazer para se proteger da gripe?
Além da vacinação, a prevenção contra a gripe e outros vírus respiratórios envolve uma série de cuidados que ficaram ainda mais evidentes com a pandemia de Covid-19, afirma Dr. Queiroz.
Ele reforça a importância de medidas como isolamento dos doentes, evitar contato próximo com infectados, higienização frequente das mãos e cuidado com os espirros e tosses, por exemplo, continuam essenciais para evitar a proliferação do vírus.
"Não sair de casa quando estiver com sintomas, não frequentar aglomerações e, se necessário, usar máscaras cirúrgicas são formas simples e eficazes de reduzir a transmissão", destaca.