
Um bebê de apenas 1 ano passou por uma cirurgia rara no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de São José do Rio Preto, neste sábado (3). Segundo informações da unidade de saúde, o pequeno Gael Soares dos Santos nasceu com uma má-formação congênita chamada extrofia de bexiga.
Nesse tipo de condição, a bexiga fica exposta e aberta na parede inferior do abdome, acompanhada de anomalias dos músculos e ossos da pelve e dos genitais. Ela afeta uma a cada 40 mil crianças nascidas no Brasil.
A cirurgia durou cerca de 10 horas e, segundo o Dr. Flavio Menin, cirurgião pediátrico do HCM, trata-se de um procedimento extremamente delicado, que visa reconstruir todo o aparelho urinário da criança.
"O bebê nasce com a bexiga aberta, além de alterações nos ossos, músculos e genitais. É uma condição rara e muito difícil de corrigir. Mas esses pacientes, como o Gael, são neurologicamente normais e têm grandes chances de levar uma vida plena após o tratamento", explicou.
Esta foi a segunda vez que o HCM realizou esse procedimento - ele está entre as 16 unidades que fazem a cirurgia no país todo. A operação foi realizada pelo cirurgião Nicanor Macedo, coordenador do Grupo Cooperativo Brasileiro Multi-institucional para o Tratamento da Extrofia de Bexiga, que utiliza a renomada técnica cirúrgica de Kelly.
Segundo Dr. Nicanor, nesta técnica, a equipe visa construir o que falta e garantir, entre outras coisas, a continência urinária.
"É uma cirurgia que transforma, que devolve o que é invisível para a maioria de nós, como a capacidade de segurar o xixi. Isso muda tudo: autoestima, convívio social, autonomia", ressalta.
"Para a equipe médica e para a família de Gael, essa cirurgia representa muito mais do que um procedimento técnico. É um ato de reconstrução, da bexiga, da autonomia e da esperança", disse a coordenadora do Serviço de Cirurgia Pediátrica do HCM, Dra. Danielle Teixeira Ferdinando.
Diagnóstico precoce e cuidados diários marcam a rotina de Gael
A condição de Gael foi identificada ainda na gestação. A mãe, Hellen Katryne Soares Rosa, lembra dos primeiros sinais de que algo não estava como o esperado. "Descobrimos que havia alguma alteração bem no comecinho da gravidez, por volta da 10ª semana. Mas só no nascimento tivemos certeza da condição. Foi um susto", contou.

Com acompanhamento do HCM desde o início, Hellen e o pai de Gael, Matheus Silva dos Santos, enfrentaram um período difícil de adaptação. "No começo, a gente não sabia como lidar com a bexiga dele para fora. Pedimos força a Deus e aos poucos fomos entendendo, aprendendo a lidar com a situação através da instrução dos médicos do HCM", relembrou o pai.
A rotina de Gael exige atenção redobrada da família. Isso porque a limpeza da bexiga deve ser feita com algodão e água morna, e é preciso evitar o contato direto com a fralda para não causar dor ou irritação. "Na hora do banho ou de brincar, tudo tem que ser feito com muito cuidado para que não entre sujeira e não machuque. Qualquer roupa que incomoda, a gente troca. Tudo é preocupação", explicou Matheus.
Apesar dos desafios, Gael é um menino alegre. Os pais sonham com uma vida mais leve e mais próxima da rotina das outras crianças. "A expectativa é que após a cirurgia ele possa brincar, andar e correr como qualquer criança, pois hoje ele anda com as perninhas abertas por causa da bexiga. Acreditamos que tudo vai dar certo", finalizou Hellen.