Estudo da Fiocruz detecta avanço preocupante de doenças respiratórias graves em todo o país
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Estudo da Fiocruz detecta avanço preocupante de doenças respiratórias graves em todo o país




O Brasil registra um aumento preocupante nos casos de Influenza A e Síndrome Respiratória Aguda Grave ( SRAG), segundo o mais recente boletim InfoGripe, divulgado em maio pela Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz). A elevação dos casos tem sido observada de forma consistente nas regiões Centro-Sul, Norte e Nordeste, acendendo o sinal de alerta nas autoridades de saúde e pressionando o sistema hospitalar.  

De acordo com o levantamento, a Influenza A tornou-se a principal causa de morte por SRAG em idosos, além de figurar entre os três principais agentes causadores da síndrome em crianças. Até o momento, o país já contabiliza 75.257 casos notificados de SRAG, sendo que 72,5% das mortes associadas estão ligadas ao vírus Influenza A.  

As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte estão entre as capitais que apresentam níveis elevados de alerta ou risco alto para a doença. A tendência, segundo os dados, é de crescimento contínuo nas próximas semanas.  

Por que os casos estão aumentando?  

O infectologista Renato Grinbaum explica que a incidência de síndromes respiratórias agudas, como a influenza, depende de fatores climáticos, mas também da variação do vírus.  

"O vírus faz pequenas mutações todos os anos. A gente tem duas a três cepas novas anualmente. Já sabíamos desde o início do ano que a cepa que circulou no Hemisfério Norte foi um pouco mais agressiva, e isso ajuda a explicar o que está acontecendo agora no Brasil", afirma.  

Além da Influenza A, outro agente infeccioso em ascensão é o Vírus Sincicial Respiratório ( VSR), especialmente entre crianças de dois a quatro anos. "O aumento de internações pediátricas tem nos preocupado bastante, especialmente em estados com menor capacidade hospitalar”, comentou a pesquisadora Tatiana Portella, da Fiocruz.  

Sintomas e diagnóstico

A SRAG é caracterizada por sintomas como febre alta persistente, tosse intensa, dificuldade respiratória, dor torácica e baixa oxigenação no sangue. O quadro pode evoluir rapidamente para insuficiência respiratória grave e, em casos severos, resultar em óbito. Os principais causadores da condição são os vírus Influenza A e B, o coronavírus (COVID-19) e o VSR.  

Grinbaum ressalta que, clinicamente, os vírus respiratórios (como COVID-19 e Influenza) são muito parecidos:  

"Eles são agrupados na síndrome gripal, cuja definição inclui febre alta, tosse seca, dor de cabeça intensa e dores musculares. Já o resfriado comum vem mais com coriza. Na maioria das vezes, os quadros são semelhantes, e só é possível diferenciar através de exames laboratoriais", explica.  


Vacinação e prevenção 

Diante do avanço dos casos, a Fiocruz e especialistas reforçam a importância da vacinação contra a gripe. A campanha nacional segue em andamento, mas ainda encontra baixa adesão em diversos estados.  

Grinbaum explica que a vacina atual foi desenvolvida com base nas cepas mais prevalentes no Hemisfério Norte:  

"A nossa vacina reflete os vírus que circularam no inverno deles (janeiro e fevereiro). Ela é perfeita? Não, pode surgir uma cepa nova não prevista. Mas ela cobre muito bem a maior parte das cepas e, mesmo que os anticorpos não sejam totalmente neutralizantes, eles reduzem o risco de pneumonia e complicações graves. É uma vacina muito boa dentro do que é possível".  

Além disso, ele destaca que a vacina inclui três ou quatro variantes, o que significa que mesmo quem já teve gripe pode se infectar por outra cepa. "Vale a pena se vacinar porque você pode ter uma nova infecção por influenza", reforça.  

Medidas complementares

Além da vacinação, Grinbaum lista outras medidas importantes:  

  • Isolamento: "Quem está gripado deve evitar sair de casa. Se precisar sair, usar máscara." 
  • Higiene respiratória: "Evitar levar a mão à boca, cobrir espirros com a manga da camisa e higienizar as mãos com frequência.”
  • Proteção aos grupos vulneráveis: "Se você está com gripe ou resfriado e vai visitar um idoso, o ideal é adiar. Evitar contato com quem é mais vulnerável."
  • Período de isolamento: "Recomendamos evitar contato social até 24 horas após o fim da febre, o que geralmente leva de três a cinco dias."


Próximos passos

A expectativa é que as próximas semanas sejam decisivas para o controle do surto. O Ministério da Saúde monitora a situação e estuda reforçar ações emergenciais em regiões mais afetadas.  

"Todas as faixas etárias se beneficiam da imunização, principalmente idosos, crianças e pessoas com comorbidades", reforça Tatiana Portella. A especialista também destaca a necessidade de manter a caderneta de vacinação em dia e adotar medidas preventivas, como uso de máscaras em locais fechados.  

A população, segundo os especialistas, tem papel fundamental no enfrentamento ao avanço das doenças respiratórias neste período sazonal. A conscientização e a adesão às medidas de proteção podem fazer a diferença para evitar um colapso no sistema de saúde.


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