Canabidiol é extraído da Cannabis, planta que também é usada como substância psicotrópica
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Canabidiol é extraído da Cannabis, planta que também é usada como substância psicotrópica


O canabidiol, composto derivado da planta Cannabis sativa, t em ganhado espaço como alternativa terapêutica em casos graves de epilepsia, especialmente quando há resistência aos tratamentos tradicionais.

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Nos quadros classificados como refratários, em que os medicamentos convencionais não oferecem controle das crises, estudos recentes têm demonstrado uma resposta significativa com o uso do CBD.

Uma análise conduzida por Bruno Fernandes Santos, pesquisador com doutorado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), reuniu evidências científicas publicadas em bases internacionais como Google Scholar, Scielo e PubMed. Após aplicar critérios rigorosos de seleção, seis estudos clínicos foram avaliados na íntegra.

A revisão sistemática, publicada na revista Acta Epileptologica, revelou que o canabidiol foi capaz de reduzir em 41% a frequência de convulsões entre os pacientes analisados — desempenho muito superior ao dos grupos placebo, onde a média de redução foi de 18,1%.

Apesar dos resultados positivos, o acesso ao tratamento ainda é restrito. Não há uma política federal que garanta o fornecimento do canabidiol no SUS (Sistema Único de Saúde), embora alguns estados tenham adotado iniciativas próprias para disponibilizar o medicamento a pacientes selecionados por equipes médicas.

Segundo Santos, a ausência de diretrizes nacionais prejudica o atendimento a quem depende desse tipo de intervenção terapêutica.

Como o CBD atua no cérebro

Apesar dos resultados positivos, o acesso ao tratamento ainda é restrito
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Apesar dos resultados positivos, o acesso ao tratamento ainda é restrito
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O sistema endocanabinoide, descoberto no início da década de 1990, é responsável por regular processos como dor, sono, apetite e resposta inflamatória.

Ele é composto por neurotransmissores produzidos pelo próprio organismo — os endocanabinoides — e por receptores espalhados pelo corpo, inclusive no cérebro.

O canabidiol interage com esse sistema, modulando a atividade elétrica excessiva responsável pelas crises epilépticas.

Diferentemente das medicações tradicionais que atuam diretamente nos canais de sódio das células nervosas, o CBD age por uma via distinta, aumentando o limiar necessário para que uma crise se manifeste.

Para Santos, essa diferença de mecanismo é fundamental. “O canabidiol eleva a tolerância à excitabilidade neuronal, o que ajuda a prevenir as convulsões, especialmente nos casos em que os demais fármacos falharam”.

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Crises epilépticas podem ter múltiplas causas — desde alterações estruturais no cérebro, como tumores ou malformações, até processos degenerativos.

Nem todas se manifestam com convulsões. Santos destaca que abalos musculares são apenas uma das formas possíveis de expressão da crise, e outras doenças neurológicas, como o Parkinson, podem ser confundidas com a epilepsia por leigos.


Debates sobre o uso e limites da indicação

Embora os efeitos terapêuticos do CBD em epilepsias graves sejam bem documentados, há controvérsias sobre a expansão de seu uso para outras condições clínicas.

Distúrbios do sono e dores crônicas já apresentam evidências favoráveis, mas o mesmo não se pode dizer para todos os quadros em que o composto vem sendo prescrito.

“É importante diferenciar o médico que utiliza o CBD como uma das ferramentas de um especialista que tenta aplicar o canabidiol em qualquer diagnóstico”, alerta Santos.

Entre os casos que ainda geram discussões está o uso do composto em pacientes com espectro autista. O pesquisador defende critérios rigorosos e base científica sólida antes de se adotar o canabidiol de forma indiscriminada.

Para ele, transformar o debate em uma disputa ideológica compromete a credibilidade do tratamento.

A discussão sobre a incorporação do canabidiol nas políticas públicas continua em aberto. Enquanto isso, a evidência de que ele oferece benefícios clínicos concretos para pacientes com epilepsia refratária fortalece o argumento por sua inclusão nos protocolos do SUS.

“A relevância da pesquisa está justamente em mostrar que, com base científica, o CBD tem papel terapêutico real nesses casos. Fora da ciência, o debate perde direção”, conclui o médico.

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