
Durante o mês de julho, o Brasil reforça a luta contra as hepatites virais com a campanha Julho Amarelo, promovida em unidades de saúde de todo o país.
O objetivo é ampliar a conscientização da população sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento dessas infecções silenciosas que, quando não tratadas, podem evoluir para quadros graves, como cirrose e câncer de fígado.
As hepatites virais mais comuns no país são causadas pelos vírus A, B e C. Em menor proporção, também ocorrem casos de hepatite D e E.
“A distribuição das hepatites varia regionalmente: no Norte, por exemplo, há mais casos de hepatite D; no Sudeste, predominam os tipos B e C; e a hepatite A ainda tem forte presença em áreas com saneamento básico precário”, explicou ao iG o médico hepatologista Dr. Eider Cardoso.

Transmissão e prevenção
Cada tipo de hepatite tem formas específicas de transmissão. A hepatite A é transmitida por via fecal-oral, sendo comum em surtos em creches e escolas, geralmente associada à má higiene.
A hepatite B se transmite por contato com sangue contaminado, relações sexuais sem proteção ou de mãe para filho.
Já a hepatite C está diretamente ligada ao contato com sangue, muitas vezes por meio do compartilhamento de objetos cortantes.
“A prevenção é o melhor caminho. A vacina contra hepatite B é eficaz e faz parte do calendário vacinal. Para hepatite A, também há vacina disponível no SUS. No caso da hepatite C, como não há vacina, o ideal é evitar qualquer exposição ao sangue contaminado”, destaca Dr. Eider.

Grupos de risco e sinais de alerta
Estão mais vulneráveis às hepatites pessoas que receberam transfusões de sangue antes de 1993, usuários de drogas injetáveis, profissionais da saúde, gestantes e quem compartilha objetos cortantes.
“É importante ficar atento a sintomas como fadiga, febre, enjoo, dores abdominais, urina escura e pele ou olhos amarelados, sinais que indicam disfunção hepática”, afirma o especialista.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 700 mil brasileiros convivem com hepatite C sem saber, o que reforça a importância do diagnóstico precoce.

Diagnóstico e tratamento gratuito no SUS
O diagnóstico das hepatites virais é feito por meio de testes rápidos ou laboratoriais, disponíveis gratuitamente no SUS. Os testes detectam anticorpos e antígenos específicos de cada tipo de vírus.
“A detecção precoce permite tratar a doença e evitar que ela evolua para formas crônicas”, explica o médico.
O tratamento varia conforme o tipo de hepatite. Enquanto os tipos A e E costumam ter evolução benigna e autolimitada, as hepatites B e C podem ser tratadas com antivirais específicos. A hepatite D, mais comum no Norte do país, é tratada com interferon alfa, uma proteína que ajuda no combate a infecções.

“Hoje temos tratamentos eficazes para a hepatite C disponíveis no SUS, com altas taxas de cura. Já a hepatite B não tem cura, mas é possível controlar a infecção e impedir o avanço para cirrose ou câncer”, ressalta o profissional.
Vacinação salva vidas
Atualmente, o Brasil oferece gratuitamente vacinas contra as hepatites A e B. A vacinação contra a hepatite B, além de proteger contra a própria doença, também previne a infecção pelo vírus da hepatite D, que só ocorre em pessoas já infectadas com B.
Julho Amarelo: testagem e informação
A campanha Julho Amarelo tem papel fundamental na conscientização da população. Durante o mês, diversas ações são realizadas, como testagens rápidas, atualização da caderneta de vacinação e distribuição de materiais informativos.
“A educação da população é a melhor prevenção. Quanto mais falamos sobre hepatites, mais pessoas se protegem e buscam o diagnóstico precoce”, reforça Dr. Eider.

Riscos da hepatite não tratada
Se não tratadas, as hepatites virais podem evoluir para complicações graves, como:
- Cirrose hepática: inflamação crônica do fígado que substitui o tecido saudável por cicatrizes;
- Câncer de fígado: principalmente o carcinoma hepatocelular, que pode surgir mesmo sem cirrose;
- Insuficiência hepática: perda da função do fígado, podendo exigir transplante;
- Complicações secundárias: como ascite (acúmulo de líquido no abdômen), infecções e hemorragias.
Como cuidar do fígado e se proteger das hepatites
Dr. Eider Cardoso deixa orientações importantes para a população:
- Vacinação: mantenha a caderneta em dia;
- Higiene pessoal e alimentar: lave bem as mãos, especialmente antes das refeições e após ir ao banheiro. Higienize alimentos crus e evite água de procedência duvidosa;
- Relações sexuais seguras: use preservativos;
- Não compartilhe objetos pessoais: como agulhas, alicates, escovas de dente e lâminas;
- Evite o consumo excessivo de álcool: que pode agravar doenças hepáticas;
- Faça exames de rotina: especialmente pessoas com mais de 40 anos ou em grupos de risco;
- Gestantes devem fazer pré-natal completo: com testagem para hepatites.
Panorama nacional
De acordo com o último Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde (2024), o Brasil registrou mais de 700 mil casos confirmados de hepatites virais nos últimos 20 anos. A hepatite C é a mais prevalente, representando cerca de 38% dos casos, seguida pela hepatite B (35%). A maioria dos casos confirmados ocorre em pessoas entre 40 e 59 anos.
A ampliação da testagem e o acesso ao tratamento são considerados os principais avanços no combate às hepatites, mas o desafio ainda é grande: a meta da Organização Mundial da Saúde é eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública até 2030.