Um estudo revelou que pessoas nascidas após 1939 têm poucas chances de alcançar os 100 anos, pois os ganhos de expectativa de vida em países de alta renda desaceleraram bastante nas últimas décadas.
Ou seja: quem nasceu a partir de meados do século XX ainda vive mais do que gerações passadas, mas esse avanço acontece em um ritmo muito menor do que antes.
A pesquisa foi realizada por cientistas do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica (MPIDR), na Alemanha, e da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Ela foi publicada no dia 25 de agosto, no jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences.
"Todos os métodos de previsão mostram que a expectativa de vida para aqueles nascidos entre 1939 e 2000 está aumentando mais lentamente do que no passado. Prevemos que as pessoas nascidas em 1980 não viverão até os 100 anos, em média, e nenhum dos grupos analisados em nosso estudo alcançará esse marco", explica José Andrade, principal autor do estudo e pesquisador do MPIDR.
Queda no ritmo
A partir da análise de dados da Base de Dados de Mortalidade Humana (HMD) sobre 23 países de alta renda, onde as condições de vida são melhores, os pesquisadores aplicaram seis métodos diferentes de previsão de mortalidade, desde os mais tradicionais até os mais modernos.
O resultado de todos os modelos foi parecido: de 1900 a 1938, a expectativa de vida aumentava cerca de cinco meses e meio a cada nova geração. Já para aqueles nascidos entre 1939 e 2000, o ganho caiu para apenas dois meses e meio a três meses e meio por geração. Dependendo do método, a desaceleração do crescimento varia entre 37% e 52%.
"Se as gerações atuais seguissem a mesma tendência observada durante a primeira metade do século XX, alguém nascido em 1980, por exemplo, poderia esperar viver até os 100 anos", completa Andrade.
Por que isso acontece?
Segundo os cientistas, o salto da expectativa de vida no início do século XX ocorreu devido à redução da mortalidade infantil. Avanços médicos, vacinação, saneamento básico e outras melhorias na qualidade de vida fizeram crianças sobreviverem muito mais, o que aumentou a média geral de longevidade.
Hoje, a mortalidade infantil em países desenvolvidos já é baixa. Isso significa que os ganhos futuros dependem de melhorias na saúde de pessoas mais velhas.
Quais são os impactos disso, na prática?
Na avaliação dos pesquisadores, na prática, informações sobre a expectativa de vida podem influenciar diretamente decisões pessoais, como economias para a aposentadoria e planejamento para cuidados de saúde na terceira idade.
Se a expectativa de vida aumentar mais devagar, como o estudo sugere, governos e indivíduos terão que se preparar para pressões adicionais nos sistemas de saúde e previdência social.
"O aumento nunca visto antes de expectativa de vida que alcançamos na primeira metade do século 20 parece ser um fenômeno que é improvável alcançarmos novamente no futuro próximo. Na ausência de quaisquer outros grandes avanços que aumentem significativamente a vida humana, a expectativa de vida ainda não seria compatível com os saltos rápidos que vimos no início do século passado", conclui Héctor Pifarré i Arolas, co-autor do estudo e pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison.