Após 25 anos de pesquisa, um resultado promissor para a ciência: devolver os movimentos para quem teve lesões gravíssimas na coluna . Foi apresentado nesta terça-feira (9), ainda em fase experimental, um tratamento fornecido de proteína extraída da placenta. A pesquisa agora aguarda a liberação da Anvisa.
O grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderado pela professora e doutora Tatiana Coelho de Sampaio, apresentou um tratamento experimental baseado em uma proteína extraída da placenta humana, batizada de polilaminina.
A substância tem a capacidade de estimular neurônios que haviam parado de se desenvolver, promovendo sua regeneração e favorecendo a formação de novas conexões nervosas. Assim, os impulsos elétricos voltam a circular pelo corpo, permitindo a recuperação de movimentos antes considerados impossíveis.
Testes em pacientes e resultados animadores
O estudo envolveu oito voluntários que receberam uma única aplicação da proteína diretamente no ponto lesionado, em até 72 horas após o acidente. Dois pacientes não resistiram à gravidade das lesões, mas os seis restantes apresentaram níveis distintos de melhora. Em alguns casos, houve recuperação parcial, em outros, a retomada completa dos movimentos.
O caso mais emblemático é o de Bruno Drummond de Freitas, que sofreu um acidente de carro em 2018, aos 23 anos, e ficou tetraplégico. Apenas 24 horas após a lesão, recebeu a polilaminina. Um mês depois já conseguia mexer o dedão do pé, e em cinco meses estava completamente recuperado. Hoje, Bruno leva uma vida normal, pratica esportes e não precisa mais de acompanhamento médico.
Além dos testes em humanos, a proteína também foi aplicada em cães e ratos, que apresentaram resultados animadores, com recuperação total em casos de lesões não provocadas.
O papel da Anvisa e os próximos passos
Apesar do impacto dos resultados, o tratamento ainda não está disponível ao público. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que os dados apresentados não são suficientes para garantir a segurança e a eficácia da substância. A agência destacou que ainda não recebeu um pedido formal para a fase 1 dos ensaios clínicos em humanos, etapa inicial que testa a segurança da droga em pequenos grupos.
O laboratório Cristália, parceiro da UFRJ, mantém reuniões técnicas com a Anvisa para avançar no processo. Entre as pendências, estão estudos complementares, como a definição da dosagem ideal, a possibilidade de reaplicação e a análise da eficácia em pacientes com lesões antigas.
Esperança, mas com cautela
Para especialistas, os resultados da polilaminina representam uma esperança inédita na medicina regenerativa, mas ainda é cedo para falar em solução definitiva. A comunidade científica reforça que a descoberta precisa passar por todas as etapas de validação antes de chegar à população.
Enquanto isso, pacientes, médicos e familiares acompanham com expectativa a evolução desse trabalho, que pode colocar o Brasil na vanguarda mundial do tratamento de lesões medulares e transformar milhares de vidas.