Tecnologia promete mais precisão no reconhecimento de lesões em peles negras
Eddy Ekofo/Unsplash
Tecnologia promete mais precisão no reconhecimento de lesões em peles negras

Um projeto conduzido pela professora Sandra Avila, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, está desenvolvendo um modelo de inteligência artificial (IA) capaz de identificar o câncer de pele em pessoas negras. A iniciativa pretende combater o viés racial na dermatologia, onde a maioria das bases de dados e algoritmos ainda se baseia em imagens de peles brancas.

Em parceria com o Living Lab da SAS Brasil, a pesquisa visa criar um banco de dados dermatológico representativo da diversidade brasileira, algo inédito no país. As informações serão coletadas em unidades móveis e centros fixos da SAS Brasil, que atuam em comunidades vulneráveis no Ceará e em Goiás.

Segundo Sandra, a falta de imagens de peles negras compromete o aprendizado dos algoritmos e pode gerar diagnósticos equivocados: “Se o erro humano é ensinado à máquina, o problema se multiplica”, explica. O projeto busca suprir essa lacuna e garantir que a IA reconheça padrões de lesões específicas em tons de pele mais escuros.

Imagens de lesões de pele que utilizam para treinar padrões de IA
Divulgação/Unicamp
Imagens de lesões de pele que utilizam para treinar padrões de IA


Tecnologia e equidade na saúde

O sistema em desenvolvimento utiliza redes neurais para classificar lesões cutâneas como benignas ou malignas, com base em fotos captadas por celulares e dermatoscópios, aparelhos que registram a pele de forma ampliada e detalhada. A expectativa é que, futuramente, o software possa ser utilizado de forma simples e acessível por profissionais de saúde em todo o país.

De acordo com Gabriela Sá, Head de Pesquisa do Living Lab, a integração entre IA e telessaúde pode ampliar o acesso a diagnósticos precoces, especialmente em regiões com escassez de dermatologistas. “A tecnologia pode reduzir o tempo para diagnóstico e tornar o atendimento mais equitativo”, afirma.

A pesquisa, iniciada em 2020, recebeu prêmios do Google e da L’Oréal Brasil, além de apoio da Fapesp e do CNPq. A coleta de dados ocorrerá entre 2025 e 2027, com previsão de resultados até 2028.

Combate ao viés racial na dermatologia

O câncer de pele representa cerca de 30% dos tumores malignos no Brasil, segundo o Inca. Embora mais frequente em pessoas brancas, também afeta pessoas negras, geralmente em regiões menos expostas ao sol, como mãos, pés e unhas. No entanto, a falta de representatividade nos estudos faz com que muitos casos não sejam reconhecidos a tempo.

“Há uma lacuna na formação médica sobre a pele negra, que possui características próprias e exige protocolos específicos”, explica a dermatologista Camila Rosa, colaboradora do projeto.

Mais do que treinar máquinas, Sandra destaca que o projeto educa profissionais e conscientiza a população sobre a importância da observação da própria pele: “Queremos transformar a pesquisa em ação prática, levando o conhecimento científico para quem mais precisa”, conclui.

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