O que saber antes de usar Mounjaro para emagrecer

Vídeo que circula nas redes sociais levanta preocupação com automedicação e produtos manipulados

O Monjauro apresenta resultados expressivos na perda de peso, mas especialista reforça alerta sobre o uso indevido
Foto: Divulgação
O Monjauro apresenta resultados expressivos na perda de peso, mas especialista reforça alerta sobre o uso indevido

O Monjauro  é um medicamento potente utilizado para tratar pacientes com diabetes tipo 2, mas muita gente tem utilizado para emagrecer . Em um vídeo que vem circulando nas redes sociais, a enfermeira Dianné Rámos fez um alerta para o uso do remédio sem acompanhamento médico, com o relato de uma de suas ocorrência que levou a morte de uma mulher de 49 anos, que possivelmente fazia uso da medicação.

Diante de tantas dúvidas que envolvem automedicação e o processo de emagrecimento, a reportagem do iG  conversou com a Dra. Vivian Guardia, endocrinologista do Hcor para explicar como o medicamento age no organismo.

Como o Mounjaro atua no organismo?

O Mounjaro é o nome comercial da tirzepatida. Essa medicação atua em dois receptores de hormônios produzidos pelo intestino, o GLP-1 e o GIP. Esses hormônios participam da regulação do açúcar no sangue, da liberação de insulina e também do controle do apetite no sistema nervoso central. Por isso, o medicamento ajuda no metabolismo e na redução da fome.

Em quais casos o medicamento é indicado oficialmente pela Anvisa?

Em relação às aprovações pela Anvisa, o Monjauro foi inicialmente aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2 e posteriormente foi aprovado para o tratamento dos pacientes com obesidade e com sobrepeso, com comorbidades relacionadas com o excesso de peso. Em relação à última aprovação da Anvisa, foi liberado atualmente para o tratamento dos pacientes com apneia do sono e obesidade.

Ele tem o mesmo princípio ativo ou ação semelhante a outros medicamentos como Ozempic ou Wegovy?

O Monjauro tem ganhado muita visibilidade nas redes sociais porque ele é um potente emagrecedor. Os estudos mostram redução média de 15 a 20% do peso, com o uso de um ano até um ano e meio. Então, são resultados muito expressivos, que não eram vistos e com outras medicações para tratamento de obesidade. Muitas vezes a gente tem resultados muito semelhantes até a perda de peso que se tem com a cirurgia bariátrica. Por isso que ele ganhou tanta visibilidade. Eu acho que o que ajudou também foi muitas celebridades, usando e divulgando isso nas mídias.

Por que o Mounjaro tem ganhado tanta visibilidade nas redes sociais como “emagrecedor”?

Usar essa medicação apenas para fins estéticos existe um risco sim. Como qualquer medicação, ela não é isenta de efeitos colaterais. Os principais efeitos colaterais são relacionados à parte gastrointestinal, mas pensando num paciente que não tenha sobrepeso ou obesidade, é importante saber que essa perda de peso com a medicação pode levar a desnutrição, uma perda de massa magra é importante, há deficiências nutricionais e isso pode comprometer a saúde do usuário.


Qual é o risco de o medicamento ser usado fora da indicação médica, apenas para fins estéticos?

O uso entre pessoas com obesidade e com sobrepeso é diferente, incluse a resposta de cada indivíduo à medicação é diferente. Muitas vezes o paciente com obesidade vai precisar de doses maiores de medicação e um tratamento mais prolongado. Lembrando que hoje a gente encara o tratamento da obesidade como um tratamento crônico, então muitas vezes esse paciente vai precisar usar essa medicação de uma forma contínua. Já os pacientes que têm uma indicação de perda de peso menor, vai eventualmente ter uma necessidade de doses menores e caso as mudanças de estilo de vida como dieta e atividade física sejam alcançadas, muitas vezes a gente vai conseguir manter esse paciente sem o uso crônico dessa medicação.

Existe diferença entre o uso em pacientes com obesidade diagnosticada e o uso em pessoas que querem perder poucos quilos?

O uso de qualquer remédio sem acompanhamento médico implica em risco sim. As medicações para tratamento de obesidade, elas podem realmente causar efeitos colaterais gastrointestinais importantes e pode também trazer algum desequilíbrio metabólico para o organismo, principalmente relacionados com as questões nutricionais.

Há perigo em iniciar o uso sem acompanhamento médico ou em clínicas de estética?

Os pacientes precisam saber que, antes de iniciar qualquer tratamento com essas medicações, seja para diabetes ou para perda de peso, é necessário verificar se eles têm indicação e se não possuem nenhuma condição que contraindique o uso desses remédios.

O que os pacientes precisam saber antes de usar esses medicamentos e há risco de banalização do uso?

O grande perigo dessa visibilidade grande do uso dessas medicações é o uso alternativo dessas moléculas. O que a gente vê hoje em dia, até por conta do custo elevado desse tratamento, são medicações sendo manipuladas ou sendo oferecidas versões alternativas. E é importante a população estar ciente de que medicações como essa, exigem um processo rigoroso de fabricação. Elas têm uma alta complexidade tecnológica e são medicações aprovadas por agências reguladoras, como a Anvisa. Que se posiciona veemente contra o uso de versões alternativas dessas moléculas, porque existe realmente uma carência de regulação de eficácia, de segurança, de pureza e de estabilidade desse produto. Então, o paciente que usa uma versão alternativa, ele está se expondo a sérios riscos de saúde, porque ele está aplicando uma medicação que não passou por um teste de segurança necessário, sem conseguir prever quais são os efeitos no corpo. Tem alguns relatos de problemas de medicações manipuladas que são contaminadas ou realmente a substituição de produtos.

Na avaliação médica, o Mounjaro deve ser usado apenas sob prescrição endocrinológica?

Hoje, os maiores prescritores de tirzepatida são os profissionais que tratam diabetes e pacientes com sobrepeso e obesidade. Mas outros especialistas que também tratam condições associadas a essas situações, como profissionais que cuidam das doenças cardiovasculares ou das doenças metabólicas, como gordura no fígado, muitas vezes vão lançar mão dessas medicações para o tratamento dessas condições de saúde, já que cada vez mais os estudos vêm mostrando a ação dessas medicações.