Queda, choque ou engasgo: como agir em acidentes domésticos

Saiba as atitudes certas e evite erros comuns que podem agravar as situações de emergência

Acidentes domésticos são mais comuns do que se imagina
Foto: Unsplash/Sander Sammy
Acidentes domésticos são mais comuns do que se imagina

Acidentes domésticos acontecem de forma repentina, muitas vezes em situações aparentemente inofensivas . Uma queda no banheiro, um choque elétrico no fio do carregador ou uma refeição apressada podem ser fatais. Nesses momentos, saber como agir faz toda a diferença. Especialistas alertam que a calma e o conhecimento são essenciais, já que muitos erros comuns podem, na verdade, agravar as lesões. 

Seja para cortes, queimaduras ou casos mais graves como parada cardíaca, ter em mente os números de emergência é a primeira e mais importante atitude. É fundamental manter à mão os contatos:

  • 192 (SAMU);
  • 193 (Corpo de Bombeiros)
  • 190 (Polícia Militar)

Além disso, é altamente recomendado que todos os adultos façam um curso de primeiros socorros em local credenciado, para saberem como agir com segurança.

Após uma queda, é perigoso tentar levantar ou mover a pessoa
Foto: Divulgação/Kinetec
Após uma queda, é perigoso tentar levantar ou mover a pessoa




Quedas exigem calma

Ao presenciar uma queda, evite levantar ou mover a pessoa. Primeiro, avalie a situação com calma: verifique se ela está consciente e respirando; se há sangramento intenso; dor forte, especialmente no pescoço ou nas costas;dificuldade para se mover; formigamento ou sinais de confusão mental. 

Mesmo que a vítima pareça bem, não permita que ela se levante rapidamente, sobretudo se a queda tiver sido de uma altura significativa.

“Um detalhe que não pode ser esquecido é: o fato de o acidentado conseguir se movimentar não exclui a possibilidade de fraturas ou entorses. Na dúvida, acione imediatamente o socorro médico.” , alerta Gustavo Fernandes Moreira, coordenador médico do departamento de Emergência do Hospital de Urgências de Goiás (HUGO), unidade pública em Goiânia gerida pelo Einstein Hospital Israelita. 

Foto: Divulgação/obramax
primeira atitude é jamais tocar na vítima antes de desligar a fonte de energia


Choque elétrico: o maior risco é para quem tenta ajudar

A primeira atitude diante de um choque elétrico é jamais tocar na vítima antes de desligar a fonte de energia. Parece óbvio, mas muitas pessoas se esquecem e acabam também eletrocutadas. Assim que o ambiente estiver seguro, afaste fios com ajuda de objetos com materiais isolantes, como madeira, plástico ou borracha. Nunca use água, já que ela conduz eletricidade e pode agravar o acidente. 

Em seguida, verifique se a pessoa está consciente, responde a estímulos e respira normalmente. Caso contrário, ligue imediatamente para o SAMU (192) ou o Corpo de Bombeiros (193) e inicie as compressões cardíacas até a chegada da equipe.

Erros que colocam a vítima em risco

Queimaduras devem ser lavadas em água corrente fria (não gelada) por cerca de 15 a 20 minutos, o que ajuda a aliviar a dor e reduzir o dano nos tecidos. Cubra a região com um pano limpo e úmido. 

Procure atendimento médico se a queimadura for extensa, profunda ou atingir rosto, mãos, pés ou articulações.

“Nunca estoure as bolhas, que funcionam como uma proteção natural da pele, nem tente remover roupas grudadas” , alerta o médico Wilands Patrício Procópio Gomes, do Einstein Hospital Israelita.  

Gelo, pasta de dente, margarina e outras receitas caseiras não devem ser usadas, pois podem piorar o quadro. O atendimento é indispensável em casos extensos, profundos ou que atingem rosto, mãos, pés e articulações.

Foto: FreePik
Mudam regras de desengasgo: pancadas vêm antes da manobra Heimlich

Engasgo tem novas diretrizes

A Associação Americana do Coração atualizou as recomendações para desobstrução das vias aéreas: agora a orientação é alternar cinco golpes nas costas com cinco compressões abdominais. Se a pessoa perder a consciência, é necessário iniciar RCP. Em bebês menores de 1 ano, a técnica muda: os golpes nas costas são combinados com compressões torácicas feitas com dois dedos.

Desmaio não deve ser tratado com água no rosto

O ideal é deitar ou sentar a pessoa, elevar suas pernas e afrouxar roupas apertadas. Jogar água, sacudir a vítima ou oferecer líquidos pode piorar a situação. A supervisão deve continuar até que a consciência seja recuperada.

Deite ou sente a pessoa imediatamente para evitar quedas e possíveis lesões. Afrouxe roupas apertadas e, se não houver sinais de trauma, eleve um pouco as pernas para facilitar o fluxo de sangue ao cérebro. Certifique-se de que as vias aéreas estejam livres, removendo qualquer objeto da boca que possa dificultar a respiração, e permaneça ao lado da vítima até que ela recobre a consciência.

Envenenamento exige ação rápida

O principal erro nesses casos é tentar provocar o vômito . Essa atitude pode queimar ainda mais o esôfago quando a substância volta ou levar o conteúdo tóxico aos pulmões.

“Lave a boca e as mãos da vítima e identifique a substância ingerida para levar a embalagem ou o nome ao serviço de saúde” , orienta Wilands Gomes.

Vá diretamente ao hospital. Não ofereça leite, água, chá ou qualquer líquido sem orientação médica. A melhor conduta é a prevenção: mantenha produtos de limpeza, medicamentos e venenos trancados e fora do alcance de crianças e animais de estimação. Tenha sempre à mão o telefone do Centro de Informações Toxicológicas (Brasil: 0800 722 6001) para orientações, inclusive em situações aparentemente leves.

Picadas de insetos

Geralmente, picadas de insetos podem ser tratadas em casa. A orientação é lavar o local com água e sabão e aplicar compressa fria para aliviar a dor e o inchaço. Antialérgicos e analgésicos podem ser usados em reações leves.

Se houver ferrão, como nas picadas de abelha, remova-o com cuidado, usando uma pinça ou até as unhas, mas sem espremer o local, para evitar que mais veneno se espalhe. Não use fogo, álcool em excesso ou objetos cortantes e jamais tente sugar o veneno com a boca.

Procure ajuda médica imediatamente se a pessoa apresentar falta de ar, inchaço no rosto ou na garganta, tontura, náusea intensa ou mal-estar generalizado. Esses sinais indicam reação alérgica grave (anafilaxia), que pode ser fatal.

Foto: Divulgação/ Einstein
Casos envolvendo cobras, escorpiões e aranhas devem ser tratados rapidamente em hospitais, únicos locais onde há soro antiveneno


Picadas de animais peçonhentos

Quando o ferimento é causado por cobra, escorpião, aranha ou outro animal peçonhento, a agilidade no socorro é fundamental. O único tratamento eficaz é o soro antiveneno específico, disponível apenas em hospitais.

Após lavar o local com água e sabão, leve a vítima imediatamente ao pronto-socorro ou ligue para o SAMU. Enquanto isso, mantenha-a calma, com o membro afetado imobilizado e, se possível, abaixo do nível do coração. Evite movimentos desnecessários, pois eles aceleram a circulação do veneno.

Jamais faça torniquetes, cortes, sucção do veneno ou aplique gelo, folhas, alho, fumo ou qualquer substância caseira. Se for seguro, identifique ou leve o animal que causou o acidente para o hospital, para auxiliar na escolha do soro correto.

Afogamento exige cuidado para quem tenta salvar

Só retire a pessoa da água se souber nadar. Caso contrário, há risco de você também se afogar. Se possível, ofereça um objeto que flutue, como boia, pedaço de isopor ou galho comprido, e tente ajudar sem entrar na água.

Após o resgate, verifique se ela está respirando. Se estiver inconsciente e sem respiração, inicie imediatamente as compressões torácicas. A ideia de virar a vítima de cabeça para baixo para “tirar a água do pulmão” não funciona, a prioridade é restabelecer a circulação e a oxigenação do sangue. Em casos de quedas ou suspeita de trauma, tenha cuidado extra com a coluna cervical, evitando movimentar o pescoço. Ligue para os serviços de emergência (192 ou 193).

Hipotermia

A hipotermia ocorre quando a temperatura do corpo cai abaixo de 35°C. Ela não acontece apenas em situações de frio intenso . Idosos, pessoas em casas mal aquecidas ou indivíduos molhados em temperaturas moderadas também estão em risco. Os sinais de alerta incluem tremores intensos, confusão mental, fala arrastada, sonolência excessiva, perda de coordenação motora e pele muito fria.

Ao identificar o quadro, é fundamental aquecer rapidamente a pessoa, removendo roupas molhadas e envolvendo-a em cobertores secos. O aquecimento deve começar pelo centro do corpo (peito, pescoço, abdômen e virilha) antes das extremidades, utilizando compressas mornas ou o calor do próprio corpo. 

O aquecimento deve ser gradual, ou seja, nada de mergulhar a pessoa em água quente ou aproximá-la de aquecedores, pois isso pode causar queimaduras, arritmias cardíacas ou choque. Não dê álcool, que acelera a perda de calor. Se a situação não se estabilizar, chame ajuda médica.

Convulsão

A maioria das convulsões dura menos de dois minutos e para sozinha. Afaste móveis e objetos pontiagudos e apoie a cabeça da pessoa em crise para evitar traumas. Não coloque nada dentro da boca da vítima, tampouco tente “desenrolar” a língua. Observe o tempo da crise, pois essa informação é importante para a equipe médica. 

Quando os tremores cessarem, a vítima vai ficar confusa e sonolenta por alguns minutos. Vire-a de lado, para evitar que se engasgue caso vomite, e deixe-a descansar até recuperar totalmente a consciência. Não ofereça água, comida ou medicação. Chame o resgate médico se a convulsão durar mais de 5 minutos, houver várias crises seguidas, for a primeira vez ou se ela se machucou. As informações são da Agência Einstein.