Homeopatia avança no SUS e ganha nova obra de referência

Texto de Paulo Rosenbaum defende abordagem integral e reforça discussão sobre ampliação das práticas no sistema público

Os medicamentos homeopáticos utilizam substâncias de origem animal, vegetal ou mineral, diluídas e dinamizadas
Foto: Divulgação
Os medicamentos homeopáticos utilizam substâncias de origem animal, vegetal ou mineral, diluídas e dinamizadas

O médico, pesquisador e escritor Paulo Rosenbaum lança a 7ª edição de Um Outro Código da Medicina, livro em que defende a homeopatia como uma “medicina do sujeito” e propõe uma revisão da forma como o cuidado em saúde é conduzido no Brasil. A obra chega ao público em meio a discussões sobre a ampliação da prática no Sistema Único de Saúde (SUS), que é um tema defendido por homeopatas há décadas.

Diferentemente da medicina convencional, a homeopatia adota uma abordagem holística, que considera o paciente em sua totalidade do corpo, mente, emoções e história de vida. Para essa racionalidade médica, a saúde depende do equilíbrio da chamada energia vital  e o adoecimento seria um desarranjo dessa dinâmica orgânica e psíquica. Assim, o mal-estar, mesmo antes de alterações fisiológicas, já é entendido como sinal de enfermidade.

Os medicamentos homeopáticos são obtidos por diluições e agitações sucessivas, conforme a Farmacopeia Homeopática Brasileira e podem ser manipulados em formas líquidas, glóbulos, tabletes ou pó.

A homeopatia no SUS já existe desde 2006
Foto: FreePik
A homeopatia no SUS já existe desde 2006


Homeopatia no SUS

Em resposta à reportagem do  Portal iG, o Ministério da Saúde confirmou que a homeopatia integra o SUS desde 2006, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).

Dados atualizados mostram um crescimento expressivo: 46,1 mil procedimentos homeopáticos foram realizados em 2024, número 40,24% maior que o registrado em 2023. Apesar desse avanço, especialistas apontam que a prática ainda é subutilizada no sistema público, sobretudo pela falta de profissionais capacitados, desconhecimento das equipes e baixa presença no ensino médico.

Aplicações clínicas

Diversos estudos, experiências municipais e programas de saúde pública demonstram resultados positivos da homeopatia em diferentes contextos. Relatos incluem melhora da qualidade de vida de mulheres com doenças crônicas, impacto em surtos epidêmicos como dengue e H1N1, apoio no cuidado de usuários de drogas, além de eficácia em quadros respiratórios, dermatológicos, ginecológicos e transtornos mentais.

Especialistas consultados destacam que a homeopatia tem atuação relevante em diferentes frentes, como no cuidado de doenças crônicas e autoimunes, no manejo de sintomas da menopausa, no tratamento complementar de quadros de asma e alergias na infância, no apoio a pacientes oncológicos, especialmente para reduzir efeitos colaterais da quimioterapia e também no cuidado integral de idosos com doenças degenerativas, incluindo Alzheimer, Parkinson e ELA.

O futuro da homeopatia no SUS

Com a sétima edição do livro de Rosenbaum e o crescimento recente no número de procedimentos registrados no SUS, o debate sobre práticas integrativas volta ao centro da discussão sobre modelos de cuidado e prevenção em saúde.

Para defensores da homeopatia, o país vive um momento favorável para fortalecer a abordagem, ampliar a formação profissional e incorporar evidências e relatos de sucesso às políticas públicas. Já gestores e pesquisadores alertam que a expansão só será efetiva com investimentos estruturais, integração entre conhecimento científico e prática clínica, e comunicação clara com a população.

Enquanto isso, o tema segue em expansão nas universidades, na atenção básica e na literatura médica, abrindo espaço para um novo olhar sobre cuidado, singularidade e qualidade de vida.

Para médicos que atuam na rede pública, a homeopatia se mostra especialmente forte na atenção primária, onde o vínculo, a escuta e o acompanhamento longitudinal são essenciais.


Discussão sobre cuidado e prevenção

Em Um Outro Código da Medicina, que chega à sétima edição, o médico e pesquisador Paulo Rosenbaum apresenta a homeopatia como uma “medicina do sujeito”, centrada na singularidade de cada indivíduo. Pós-doutor em medicina preventiva e PhD em ciências pela USP, Rosenbaum combina experiência clínica e pesquisa para propor uma visão que integra ciência, sensibilidade e escuta ativa.

A obra revisada reforça o potencial da homeopatia como prática complementar à medicina convencional e defende sua maior presença na formação médica, na atenção primária e nas políticas de saúde. Segundo o autor, compreender a saúde como “enigma” implica reconhecer que a prática clínica se move entre arte e ciência, combinando biologia, comportamento e contexto.

A homeopatia foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina nos anos 1980 e ganhou visibilidade nacional com a criação da PNPIC. Ainda assim, sua incorporação plena permanece limitada por entraves institucionais e formativos.