
Quem nunca ouviu que, para saber se o mel é verdadeiro, basta pingar um pouco na água e observar se ele afunda sem se dissolver? Pois é… Esse é um dos muitos testes caseiros que circulam por aí mas que, na prática, não passam de mitos.
“O mel é um dos alimentos mais fraudados no mundo, e no Brasil não é diferente. Por isso, é fundamental que o consumidor saiba reconhecer um produto de qualidade”.
O alerta ao Portal iG vem de Daniel Augusto Cavalcante, CEO da Baldoni, líder do mercado nacional de produtos derivados de mel e pioneira no gerenciamento desta categoria.
Segundo ele, os sinais de um mel puro estão nos detalhes, e não são difíceis de perceber.
O aroma é floral e marcante, o sabor é intenso e autêntico e a textura é levemente viscosa, variando conforme a florada.
Cristalizou? Isso é bom sinal!
E ao contrário do que muita gente pensa, quando o mel fica com aquele aspecto granuladinho, mais sólido e esbranquiçado, ele não estragou nem está falsificado.
Isso se chama cristalização, um processo natural que acontece quando os açúcares do mel (glicose e frutose) se reorganizam, especialmente em temperaturas mais baixas.
“O mel que nunca cristaliza, desconfie. Pode ter sido adulterado ou ultrafiltrado, o que elimina nutrientes naturais.”

Se quiser voltar o mel à forma líquida, basta aquecê-lo em banho-maria, mas com um detalhe essencial: a temperatura não deve ultrapassar 40°C, para não comprometer as propriedades nutricionais.
E os testes caseiros? Funcionam?
A resposta é curta e direta: não funcionam. Nada de colocar no fogo, misturar na água ou pingar no algodão.
“Esses métodos são mitos sem nenhuma base científica. A única maneira segura de garantir que o mel é puro é olhando o rótulo e conferindo se ele tem selo de inspeção oficial”, reforça o CEO da Baldoni.
Como reconhecer um mel adulterado?
Dificil encontrar quem nunca recebeu a oferta de um suposto ''mel puro da melhor qualidade'' na rua, na feira, em qualquer cidade do país.
Ainda que seja tentador, já que o aspecto do mel naqueles potes e vidro costuma ser bastante convidativo, antes de comprar é bom lembrar de alguns detalhes que podem te tirar de uma enrascada.
Os sinais de alerta são bem claros: o mel falsificado costuma ser mais líquido, com uma cor muito homogênea, demora muito (ou nunca) para cristalizar e tem sabor artificial (adocicado demais e sem aquele perfume floral típico do mel verdadeiro).
As fraudes mais comuns incluem adição de açúcar, xarope de glicose, água e até resíduos químicos, como pesticidas e antibióticos. Além de enganar o consumidor, esses produtos podem trazer riscos sérios à saúde, como alergias e intoxicações.

O que observar na embalagem?
Além da marca, que deve ter boa reputação, é essencial procurar os selos de inspeção, que podem ser:
SIM – Serviço de Inspeção Municipal
SIE – Serviço de Inspeção Estadual
SIF/SISBI – Serviço de Inspeção Federal, com validade em todo o Brasil
Outros selos como HACCP, IFS, Orgânico Brasil e até aprovação internacional, como o FDA, são garantias extras de que aquele mel foi produzido seguindo padrões rigorosos de qualidade e rastreabilidade.
Mel de supermercado ou do apicultor: qual é melhor?
A resposta é: depende.
Tanto o mel do supermercado quanto o vendido por apicultores pode ser de excelente qualidade, desde que tenha procedência, inspeção e siga as normas sanitárias.
O problema, segundo Daniel, são os produtos vendidos sem qualquer controle, muitas vezes em beiras de estrada, feiras ou embalagens reutilizadas, sem rótulo e sem selo.
“Isso é risco certo. Além de não saber o que está levando, o consumidor pode estar colocando a saúde em perigo.”
Dica de ouro
O recado é simples e valioso: escolha méis de marcas confiáveis, com selo de inspeção e rastreabilidade. Assim, você garante não só um produto de qualidade, mas também ajuda a fortalecer a apicultura brasileira, que movimenta milhões e gera renda para milhares de famílias no país.

Um mercado doce, mas desafiador
O Brasil é o 9º maior produtor de mel do mundo, segundo dados de 2023 do IBGE, com uma produção de mais de 50 mil toneladas anuais.
Apesar da alta qualidade do mel brasileiro, as fraudes continuam sendo um grande desafio. Um levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) apontou que, em fiscalizações feitas nos últimos anos, cerca de 30% das amostras analisadas apresentaram algum tipo de adulteração (desde diluição com água até adição de xaropes e açúcares industriais)