
Com o uso cada vez mais comum das chamadas “canetas emagrecedoras” — medicamentos injetáveis à base de semaglutida ou tirzepatida, amplamente indicados para perda de peso —, surgem também novas preocupações de ordem clínica . Entre elas, os impactos desses fármacos na saúde da boca , que têm chamado a atenção de dentistas e especialistas em odontologia preventiva.
A redução significativa da produção de saliva, somada a alterações no apetite e no consumo de líquidos, pode comprometer as defesas naturais da cavidade oral e favorecer o aparecimento de cáries, gengivites e até infecções mais graves. Em entrevista ao Portal iG , o cirurgião-dentista Edinei da Silva, formado pela Unicamp e atuante na área de saúde pública e clínica particular, esclarece os principais riscos e os cuidados necessários durante o uso dessas medicações.
A seguir, ele responde às dúvidas mais frequentes:
Quais os principais efeitos bucais observados em pacientes que utilizam as “canetas emagrecedoras”?
A redução da salivação é um dos sintomas mais frequentes. Essa condição, chamada de xerostomia, pode parecer leve, mas compromete o equilíbrio da microbiota bucal e abre caminho para cáries, gengivite, halitose e até candidíase oral em casos mais prolongados.

Por que isso acontece?
Esses medicamentos atuam no sistema nervoso central para promover saciedade, o que afeta reflexos naturais, como a produção de saliva. Além disso, o paciente tende a ingerir menos água e mudar sua alimentação — muitas vezes, comendo menos ou pulando refeições —, o que impacta diretamente o ambiente da boca.
A boca seca é o sintoma mais comum?
Sim, é o mais relatado. A saliva é nossa primeira linha de defesa contra bactérias. Sem ela, o risco de cáries de rápida evolução aumenta bastante, assim como inflamações gengivais e o mau hálito.
Quais cuidados o paciente deve tomar para proteger a saúde bucal durante o tratamento?
É fundamental manter a hidratação constante, mesmo sem sede. Também recomendo estimular a salivação com alimentos fibrosos ou chicletes sem açúcar, usar saliva artificial ou sprays hidratantes, se necessário, e intensificar a higiene bucal — com escovação correta, fio dental e enxaguantes sem álcool.
A visita ao dentista deve ser mais frequente nesse período?
Sem dúvida. O acompanhamento odontológico ajuda a detectar precocemente qualquer alteração. A odontologia preventiva se torna ainda mais importante nesses casos.
Esses efeitos são permanentes?
Geralmente não. Com o fim do uso da medicação e o retorno da salivação ao normal, a maioria dos sintomas desaparece. Mas, se houver lesões ou doenças bucais instaladas, será necessário tratá-las adequadamente.
É possível emagrecer com segurança sem prejudicar a saúde bucal?
Sim. O mais importante é que o tratamento para emagrecimento seja conduzido por uma equipe multidisciplinar, com acompanhamento médico, nutricional e odontológico. O emagrecimento não pode custar a saúde da boca — nem de nenhum outro sistema do corpo.